quinta-feira, 6 de março de 2014

Europa - Bonjour Tristesse!..


Os acontecimentos da Crimeia em pleno contexto de guerra civil na Ucrânia denunciaram como frágil é esta construção de uma Europa burocrática e pouco ou nada democrática. Ao longo destes anos governos, elites políticas e económicas, partidos do arco governativo foram alienando a soberania do Estado e da República Portuguesa em troca de uma Europa que nos pregavam dia a dia, como o reino do mercado e da liberalidade.

Uma Europa que se apresentava como um Mercado Único e Europeu em prol da sociedade, da empregabilidade, da subsidiaridade, da coesão entre o Norte e o Sul. Uma Europa que pregava e distribuía cartilhas contra a soberania dos estados e apresentava como única via um federalismo centrado no eixo Paris-Bona. 

A nossa elite ilustrada e estrangeirada, com formação e implantação nas cidades europeia ocidentais, combatia o regime do Estado Novo e sonhava com um Portugal Moderno e Europeu. O 25 de Abril possibilitou esse milagre político e cultural, derrubando uma regime moribundo e instalado, reformando as estruturas e as elites políticas, libertando os Povos Africanos de uma guerra já sem sentido e sem honra.

Com a implantação da democracia em Portugal pós 25 de Abril Portugal foi integrado na CEE, CE e agora UE. Um processo que teve como protagonistas Mário Soares, Cavaco Silva, Freitas do Amaral, Ramalho Eanes. Os partidos do "centrão" (CDS,PSD,PS) fizeram uma convergência estratégica para a entrada de Portugal na CE. Um processo de negociação enclausurado dentro dos directórios destes partidos, no qual o Povo da Nação não teve nem participação activa nem directa.

A cidadania e a Republica foram capturadas pelos directórios dos partidos que duvidavam do europeísmo dos seus povos. A elite decidiu em nome de Portugal e do Futuro de Portugal. Abandonamos a nossa matriz atlântica, fechamos os portos, abatemos as frotas, substituímos as fábricas de conserva por mega planos de regeneração urbana. Criando frente urbanos densificadas e especulativas em Viana do Castelo, Matosinhos, Aveiro, Ovar, Algarve, Porto, etc.

As discussões e as duvidas nunca foram submetidas a debate e a escrutínio popular. Foi tudo muito burocrático e fora dos instrumentos da democracia participada. A sociedade e as suas elites culturais, económicas e sociais foram ignoradas e estigmatizadas neste processo. Os lideres partidários verdadeiros arautos da boa nova, apresentavam-se como pregadores de uma Europa que vinha civilizar os "indios da meia praia".

Os Quadros Comunitários possibilitaram a entrada de muito dinheiro, que de forma fácil e criminosa serviu para comprar a liberdade, a autonomia e a alma de um Povo inteiro. Em troca da nossa soberania económica e política.

E agora, vamos discutir a Europa! ...Qual é o sentido de eleições para o Parlamento Europeu. Quando aqueles que legitimamente são eleitos por nós não têm os instrumentos democráticos para definir politica financeira e cambial, política económica e social que se situa "entrincheirada" no BCE.

E agora?

Portugal teve várias maiorias políticas assentes no poder dos dinheiros que chegavam em nome de programas da coesão social e económica, de instrumentos políticos de reformas do Estado, da Industria, da Agricultura e da Pesca, e da Educação e Formação.

Abatemos a pesca e a agricultura, a industria foi uma espécie de localização de unidades industriais no espaço rural sem acessibilidades e sem massa critica, que posteriormente foram deslocalizadas para outras zonas da Europa e do Mundo. Em nome da globalização e da liberalidade dos mercados financeiros.

Ao fim deste processo, vem a TROIKA apelar a uma Reforma profunda do país. Como é possível? Como é pensável estar a acontecer uma situação destas ao fim de dezenas e centenas de programas operacionais aplicados sob o "olhar vigilante dos comissários europeis"?

Hoje!..

Portugal é uma "jangada de pedra" à deriva, sem homem de leme, sem mapa e sem rota. A Europa já não é o que era.

Portugal deixou de ser um Estado e transformou-se num mercado em falência. 
Portugal vive angustiado como um órfão abandonado pelo padrasto sem nunca ter conhecido o progenitor.

Portugal tem 1000 anos. Ou coisa do género....




1 comentário:

Anónimo disse...

Caro amigo Sr. P. Matos Rodrigues,
Em primeiro Lugar, receba um abraço fraterno deste seu amigo de terras de Baião.
Em segundo lugar, para lhe dizer que o nosso País chegou a este estado lastimoso não por culpa de todos os Partidos políticos existentes em Portugal como infelizmente se tenta passar essa falsa mensagem ao Povo Português, mas sim dos chamados Partidos do arco do poder: PS, PSD e CDS.
O Partido a que orgulhosamente milito quase há 35 anos PCP, em devido tempo alertou o Povo Português para o perigo que o nosso Pais corria com a chamada integração Europeia (clube dos diretórios das grandes potencias europeias), e mais tarde com a chamada criação da moeda única.
Perante tais alertas, o PCP foi acusado de tudo o que de mais ingrato havia por parte dos Paridos que anteriormente referi, só que decorridas todas estas décadas os alertas do PCP estão atualizadíssimos.
O que não deixa de ser curioso, é que alguns dos políticos que em outros tempos diziam cobras e lagartos contra as posições do PCP sobre o processo de integração Europeia e da criação da moeda única, venham agora chorar lágrimas de Crocodilo e dizer que é urgente renegociar a dívida, porque da forma como ela está não é pagável.
É evidente que esses políticos já se aperceberam na encruzilhada em que nos encontramos, e numa tentativa de sacudir a água do capote e tentar lançar areias para aqueles que têm a memória curta, vêm agora gritar: ACUDAM- NOS PORQUE ESTAMOS NO ABISMO!
Senhor Professor,
Por muito que as verdades custem a engolir, não devemos de ter medo e chamar os bois pelos seus próprios nomes, porque a demagogia, hipocrisia e o ilusionismo político com que alguma classe política diariamente nos brinda já não consegue esconder o descalabro em que nos encontramos.
Gomes