terça-feira, 7 de outubro de 2014

O Reino da Estupidez


"És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração."

in Eça de Querós 





Este texto é uma espécie de homenagem a Jorge de Sena (1919-1978). Um autor um pouco esquecido e não muito divulgado entre a tribo nacional. Um homem com uma sensibilidade própria que soube captar de forma profunda a identidade do ser português no seu livro O Reino da Estupidez editado em 1961.

Nesta sua critica de tom amargo, desencantado, mordaz, de uma ironia triste e agressiva, o poeta ensaísta através do seu apurado sentido poético denuncia as estruturas negativas da nossa cultura: a intriga, a maledicência, a mediocridade de uma pseudo-intelectualidade. A vingança pequenina que se serve de forma cobarde contra aqueles que ousam defender ideias diferentes e acima de tudo pensam de forma bem diferente dos outros.

O poeta nunca aceitou o silêncio como forma resignada de uma "gentinha" cobarde que se amesquinha perante os autoritarismos fascistas daqueles que não conseguem viver numa espécie de dialéctica do confronto das ideias e dos princípios. A rotina cinzenta e doentia de uma gente que se arrasta pelos gabinetes de instituições sem alma e sem propósito. Jorge de Sena como Eça de Queirós no seu poema Portugal denuncia, critica, identifica e renega o mundo da mediocridade e da vingança nacionais. Bloqueios psicanalíticos de uma desejada e sempre amada modernidade que teima em não chegar a esta jangada de pedra que se fez um dia pátria, como diria Saramago.

Hoje, vive-se nesta realidade quase pornográfica, chocante porque ausente de ideias, de programas, de utopias. Num mundo cada vez mais cruel porque indiferente aos humanismos e à dialéctica, só a utilidade do cargo e a sua manutenção justificam esta banalidade e vazio.

A devastação das ideias e dos valores é uma realidade crescente em todas as Instituições, porque nela o humanismo e o pensamento livre são uma agressão ao dirigismo de grupos que se afirmam na perseguição e na intimidação. Perante a demolição dos valores e da ética, contextualizamos uma supra realidade que vive fora da Lei e da Praxis Democrática.

Esta realidade está bem presente na Escola Superior Artística do Porto, que dirigida e (des) governada por um grupo que faz da sua gestão uma praxis de confronto e de intimidação. O que se torna pouco digno, pois, estamos a falar de uma instituição que devia servir os valores da criação, da inovação e da critica e pensamentos livres.

Vive-se numa espécie de borbulha de interesses, de ambições, de perseguições que terá como remate final a destruição de uma instituição que devia servir o Humanismo e a Arte.



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