terça-feira, 7 de outubro de 2014

O Reino da Estupidez


"És cabra, és badalhoca,
és mais que cachorra pelo cio,
és peste e fome e guerra e dor de coração."

in Eça de Querós 





Este texto é uma espécie de homenagem a Jorge de Sena (1919-1978). Um autor um pouco esquecido e não muito divulgado entre a tribo nacional. Um homem com uma sensibilidade própria que soube captar de forma profunda a identidade do ser português no seu livro O Reino da Estupidez editado em 1961.

Nesta sua critica de tom amargo, desencantado, mordaz, de uma ironia triste e agressiva, o poeta ensaísta através do seu apurado sentido poético denuncia as estruturas negativas da nossa cultura: a intriga, a maledicência, a mediocridade de uma pseudo-intelectualidade. A vingança pequenina que se serve de forma cobarde contra aqueles que ousam defender ideias diferentes e acima de tudo pensam de forma bem diferente dos outros.

O poeta nunca aceitou o silêncio como forma resignada de uma "gentinha" cobarde que se amesquinha perante os autoritarismos fascistas daqueles que não conseguem viver numa espécie de dialéctica do confronto das ideias e dos princípios. A rotina cinzenta e doentia de uma gente que se arrasta pelos gabinetes de instituições sem alma e sem propósito. Jorge de Sena como Eça de Queirós no seu poema Portugal denuncia, critica, identifica e renega o mundo da mediocridade e da vingança nacionais. Bloqueios psicanalíticos de uma desejada e sempre amada modernidade que teima em não chegar a esta jangada de pedra que se fez um dia pátria, como diria Saramago.

Hoje, vive-se nesta realidade quase pornográfica, chocante porque ausente de ideias, de programas, de utopias. Num mundo cada vez mais cruel porque indiferente aos humanismos e à dialéctica, só a utilidade do cargo e a sua manutenção justificam esta banalidade e vazio.

A devastação das ideias e dos valores é uma realidade crescente em todas as Instituições, porque nela o humanismo e o pensamento livre são uma agressão ao dirigismo de grupos que se afirmam na perseguição e na intimidação. Perante a demolição dos valores e da ética, contextualizamos uma supra realidade que vive fora da Lei e da Praxis Democrática.

Esta realidade está bem presente na Escola Superior Artística do Porto, que dirigida e (des) governada por um grupo que faz da sua gestão uma praxis de confronto e de intimidação. O que se torna pouco digno, pois, estamos a falar de uma instituição que devia servir os valores da criação, da inovação e da critica e pensamentos livres.

Vive-se numa espécie de borbulha de interesses, de ambições, de perseguições que terá como remate final a destruição de uma instituição que devia servir o Humanismo e a Arte.



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ESAP - Uma espécie de canibalismo académico

A ESAP foi sempre uma espécie de micro sociedade académica à parte do mundo do ensino superior e universitário. Uma espécie de couto artístico que de forma autónoma lá ia gerindo como queria e podia as suas funções e as suas obrigações de ensino e formação artística.

O Estado sempre foi bondoso com esta forma de ministrar a arte em doses de anarquia, de experimentalismo e de diferença. Os outros olhavam para a ESAP com diferença e distanciamento, ou porque não entendiam a sua irracionalidade poética ou não se identificavam com esta forma de estar fora do sistema do ensino superior.

Durante décadas a ESAP viveu neste sistema entrópico, onde desaguavam todas as vontades, todas as sinergias e todas as loucuras. Uma Escola que vivia somente das propinas dos seus alunos era para muitos uma loucura que não garantia futuro nem sustentabilidade. Mas, assim, continuou sem preconceitos e sem racionalidade de gestão. Ignorando os relatórios do ministério e dos seus inspectores que iam anotando a sua irracionalidade e a sua insustentabilidade.

A teimosia em continuar nesta dependência directa dos ingressos dos alunos, associada a uma certa incompetência e resignação dos seus directores, conduziu a ESAP para uma situação de irracionalidade de gestão académica e abriu espaço para o afirmar de territorialidades agressivas, com a destituição e dispensa de colegas e a promoção de outros.

Estamos no reino das clientelas, dos caciquismos em torno da luta pelos monopólios internos. Cada um luta pela sua sobrevivência e pela sua afirmação dentro da instituição. Os departamentos e as cadeiras são uma espécie de territórios contaminados pelas redes de influência de grupos que se afirmam pela conservação e ampliação das suas influências resignadas a um mundo fechado entre paredes.

 A divisão é inevitável e a resignação também o é. O medo instala-se. O medo de perder a sua cadeira, o medo de mudar de ano, o medo de não ser reconduzido, o medo de perder o seu lugar na estrutura. Tudo se processa contra a pedagogia, contra a ciência acumulada, contra a formação sustentada e qualificada.

Os alunos sentem essa mudança e esse caos pedagógico e cientifico, com a mudança de professores que durante décadas formaram com qualidade e imprimiram a sua marca na sua cadeira. Esta situação não só coloca em causa a qualidade de ensino, como é inimiga de todo um património que faz parte da marca ESAP.

Assiste-se, a uma perda de diversidade e de qualidade de ensino com a saída de professores e a uma concentração de cadeiras e áreas cientificas numa só pessoa. Casos há de professores que ministram mais do que cinco cadeiras diferentes em anos diferentes. O que coloca em causa a diversidade e a especificidade da formação académica. Engana os formandos e desvirtua a natureza do ensino que assenta na complexidade e na heterogeneidade de saberes e competências dos seus mestres.

A ESAP que foi sempre uma Escola da diferença e da diversidade cientifica e cultural, transforma-se numa instituição monótona, redutora, fechada e conservadora.

Esta ESAP representa o anacronismo de si própria, porque se fez na diferença e na procura da vanguarda. O seu passado é a negação do seu presente.

Aqui, nada se conjuga com memória, identidade e património. Estamos perante uma espécie de neurose institucional, onde o ajuste de contas e a defesa de clientelas se sobrepôs ao futuro e à valorização criativa do seu passado.

A toda esta hiper realidade soma-se a perda de alunos, o fechar de cursos que nunca tiveram relevância e sustentabilidade financeira e cientifica, o vazio nas salas de aula, o desânimo dos alunos e dos professores, a angustia dos cooperantes nas Assembleias da CESAP cada vez menos participadas e ignoradas por quase todos. As conversas silenciosas dos funcionários perante a incerteza e o desvario.

As reuniões são muitas das vezes lugares de confronto entre grupos e clientelas, ajuste de contas pelas divergências de opções e de apoios. O ensino e a formação começam a passar à margem das lutas internas pelo poder e pela sobrevivência. É o fim de um sonho de utopias mobilizadoras que durante décadas formaram, informaram e deram origem a um programa de ensino da arquitectura com dimensão social, ecológica, antropológica e filosófica.







terça-feira, 23 de setembro de 2014

O Largo de S. Domingos

O Largo de S. Domingos fica no coração da cidade antiga do Porto. Um pedaço de cidade, aberto, inclinado, mal arrumado entre a Ruas das Flores, a  Rua de Belomonte e a Rua Nova de S. João. Este largo confere a esta zona da cidade uma espécie de lugar aberto e contido entre as fachadas imponentes de alguns dos edifícios que por ali foram construidos ao longo dos últimos séculos.

Uma arquitectura de fachadas imponentes, de aberturas almadinas, onde a madeira e o ferro lhes conferem uma estética e uma plasticidade singulares.

O largo é contido e desenhado de forma emotiva, sem os rigores da geometria dos tempos modernos. Encaixado entre os espaços das ruas que por ali desaguam é sem duvida um lugar de parar, de olhar e de contemplar. Um lugar de fazer negócios, encontros e desencontros. Um espaço de passagem mas também de ancoragem.

Em toda a sua configuração o Largo de S. Domingos tem agarrado a si lojas de comércio tradicional, tascas antigas como a dos Irmãos Linos, a Papelaria Araujo & Sobrinho, lojas de retalho e de vinhos do Porto. Um espaço de grande diversidade económica e social, de grande complexidade cultural. Mas a ruína e o vazio também já cá fizeram a sua morada e ainda persistem as memórias desse registo. São casas abandonadas, ruínas de palácios, de casas burguesas, fachadas em estado de ruína permanente.

Mas o antigo Largo de S. Domingos parece estar destinado a grandes transformações. Nunca foi um espaço da cidade bem arrumado e bem fechado em termos de planta urbana na cidade velha. Por isso, passou ao longo da sua longa existência por variadíssimas transformações morfológicas e tipológicas. Traçados e ângulos que se transformaram, arquitecturas que desapareceram e outras novas que aí foram plantadas sem pudor e sem amor à memória e ao sitio.

Este largo permite-nos compreender a matriz do palimpsesto de que é feito a nossa cidade. Entre movimentos de resistência e de transformação, a cidade é evolutiva e histórica. E nela tudo é momento, narrativa e discurso em processo de mudança histórica. A arqueologia é um acidente e uma apoteose neurótica da memória que se quer colectiva e identificativa de um passado onírico e glorioso.

Hoje. O Largo de S. Domingos lá está mal arrumado, de geometrias esquinadas, a colocar a cabeça dos arquitectos e urbanistas em rodopio. Bem isto a propósito do programa de reabilitação das ruas das Flores e do Largo de S. Domingos.

Um espaço inclinado, sem complexidade, sem heterotopia e sem desenho. Monótono, cinzento a doer cá por dentro. Um hino ao vazio pós-moderno, globalizado nos tiques e nos toques, sem identidade simbólica e cultural. Uma espécie de terra de ninguém ao serviço do mercado turístico global e massificado.


sábado, 9 de agosto de 2014

CESAP - Contas à Moda do Porto!

Brevemente neste blog, uma nota critica sobre as contas da nossa CESAP. E posteriormente um paper sobre a forma como se deve re-estruturar a CESAP e consequências na ESAP (Porto e Guimarães).

quinta-feira, 31 de julho de 2014

CESAP/ESAP - O Fim de Um Sonho!

 


Os tempos que vivemos não são fáceis nem são para fazer de conta. Perante as dificuldades que o país atravessa é sem duvida necessário uma atitude criativa, inteligente, responsável e critica. De forma a compreender as dificuldades e a pensar soluções eficientes e sustentáveis.

Bem aproposito esta nossa análise sobre o difícil momento que passa a CESAP/ESAP Porto e Guimarães. Parece-nos constatar que existe uma espécie de fechamento burocrático na instituição que impede a possibilidade de implementar medidas, programas e estratégias para resolver este problema de financiamento e de falta de liquidez para assumir responsabilidades futuras.

É nossa opinião que a situação não é alheia ao contexto de crise económica e social que o país atravessa, mas também não podemos ignorar que a CESAP e as suas Escolas (Porto e Guimarães) nada ou muito pouco fizeram para ultrapassar os obstáculos que vão aparecendo. Se alguns dos problemas são conjunturais, outros são muito mais graves, porque estão associados a problemas estruturais que a instituição nunca resolveu, porque não encontrou as soluções ideais ou porque a agenda interna era mais do domínio dos interesses de grupos, que sendo efémeros se transformaram numa espécie de estrangulamento ao seu desenvolvimento e consolidação.

Ao longo dos anos da sua existência a CESAP foi sendo uma estrutura leve, eficiente e de custos muito reduzidos, com capacidade para dar resposta às suas responsabilidades em relação às suas Escolas. Especialmente, em relação à Escola Superior Artística do Porto, que sem dúvida alguma, durante décadas prestou um serviço de qualidade na área da formação da arquitectura que lhe fez ganhar uma dimensão para além das nossas fronteiras. Os nossos alunos sempre foram bem acolhidos dentro e fora do país, em consequência do trabalho realizado na nossa Escola.

Paradoxalmente, o Curso de Arquitectura lá foi sempre funcionando, onde professores desenvolviam sem duvida alguma, um trabalho de grande dedicação ao ensino, aos alunos, à formação no âmbito da arquitectura. Noventa por cento dos docentes não tinha um vencimento de professor integral, porque a CESAP não tinha e continua a não ter condições financeiras para integrar esses docentes e dessa forma fazer face a todas as obrigações legais, subsidio de férias, segurança social, etc...etc. Todavia, os docentes que também são cooperantes, davam o seu melhor no ensino, na formação humana e profissional, custeando viagens e saídas de campo, sem meios ou verbas para o efeito. Era uma comunidade, ou melhor uma fraternidade de partilha entre alunos e professores, entre a Escola de Arquitectura e o contexto nacional e internacional.

Aulas abertas, visitas de estudo, visitas a obras, seminários, conferencias, congressos, mesas redondas, tudo se fazia a custo zero, sem grandes meios, mas o importante era a amizade, o companheirismo entre todos, fossem alunos, docentes e profissionais desta ou de outra área. Era um mundo aberto e plural. Era assim a ESAP-Curso de Arquitectura.

 Peço desculpa, se não me refiro aos outros cursos da ESAP, mas como não conheço a sua realidade não me posso pronunciar.

Esta realidade não era um mar de rosas, também existiam divisões, conflitos, outros interesses, que entre si partilhavam os cargos directivos. O Curso de Arquitectura foi durante anos um corpo com coesão e com liderança forte; contudo, a divisão e a fragmentação chegou ao curso da pior forma e no momento menos apropriado. Em plena crise aparece a divisão, a fragmentação, a saída do seu director carismático, e a diminuição de alunos que conduz à saída forçada de colegas de longa data.  Aparece a insatisfação, a duvida, a incerteza, a desconfiança, a frustração de muitos colegas que durante décadas de serviço dedicado à instituição são dispensados sem critério e sem fundamento.

Pela primeira vez, a ESAP no curso de Arquitectura perde diversidade científica e técnica, e perde qualidade formativa, em beneficio da burocratização académica que asfixia a criatividade, a diversidade de ensino, a qualidade formativa. Numa Escola de pequena escala, onde a informalidade e a proximidade faziam marca de diferenciação e de qualificação numa oferta cada vez mais standard e redutora. A ESAP no Curso de Arquitectura marcava a diferença e afirmava outro caminho na formação da arquitectura Europeia e Nacional. O Curso de Arquitectura era sem dúvida uma oferta alternativa e de qualidade.

Com a saída do antigo director, com a burocratização académica, com a uniformidade de curricula, com a destruição de cadeiras que faziam do nosso curso uma alternativa de vanguarda, em relação às outras ofertas; transformamos a diversidade e a singularidade no uniforme e no mesmo produto. Fomos copiar os outros naquilo que eles tinham e têm de menos válido para a formação de um arquitecto. Destruímos cadeiras e anexamos outras que colocam em causa a nossa identidade e a nossa razão de ser....

No meio deste cenário de decisões caóticas e inoportunas, aparece também a crise financeira, a escassez de liquidez, a incerteza de sustentabilidade na ESAP /CESAP.

Esta crise não se explica só pelo contexto da crise financeira e social que o país atravessa, mas também pela ausência de um programa estratégico de sustentabilidade financeira por parte da CESAP, que não soube ou não teve capacidade para o implementar. A direcção da CESAP deixou-se ultrapassar pelos acontecimentos, perdeu a noção de oportunidade, fechou-se numa espécie de torre de marfim quando se devia abrir à discussão como forma de arregimentar ideias, vontades e sinergias criativas.
A CESAP, hoje, é uma instituição sem ideias, sem energia, sem plano e sem estratégia capaz de resolver os problemas muito graves de financiamento que afectam a ESAP.

A ESAP e os seus órgãos académicos também não estão ausentes de culpas neste processo. Os órgãos académicos estão isolados da realidade, estão burocratizados, atomizados e sem capacidade de reagir de forma a implementar as medidas e as reformas necessárias. Durante mais de uma década com a absoluta cobertura dos órgãos académicos abriram-se cursos sem alunos e sem financiamento ajustado. Que consumiram milhares e milhares de euros.

A Direcção Académica e respectivos órgãos assistem à destruição da Escola sem capacidade de reacção, sem implementar uma reforma profunda, sem uma discussão eficaz e mobilizadora da sua comunidade escolar. A ESAP,  é um corpo vazio, triste, sem dinâmica, sem sinergias, sem esperança. Entrar naquele edifício central dá uma sensação de angústia e de frustração.

 As salas vazias, os edifícios vazios, os professores sem alunos, perante um aparelho burocrático tão complexo e em número tão elevado. Que imagem tão paradoxal é esta. Para nossa frustração temos as esplanadas no largo de S. Domingos cheias de turistas, mas onde param os nossos alunos. Os nossos alunos que durante décadas deram vida e alma, ao largo, aos cafés e tascas; que se sentavam nas soleiras e discutiam durante longas horas nas esquinas do Largo de S. Domingos.
Onde param os nossos alunos?!...Que deram colorido às ruas com os seus desenhos, os seus esquiços, com os seus olhares atentos a todo aquele patrimonio que nos entra pelos pelos sentidos.

Nota: No próximo paper uma análise cuidada da realidade financeira da CESAP/ESAP Porto e Guimarães.









sexta-feira, 13 de junho de 2014

Casas para Residentes

A questão da habitação na cidade do Porto, na AMP deve ser enquadrada numa nova classificação do que é o problema da habitação no contexto dos problemas da crise actual, sem negligenciar e ignorar as políticas que se foram aplicando na resolução da habitação para todos.

O problema da habitação necessita de um novo enquadramento teórico e conceptual, como de um programa de políticas de habitação que se liberte das políticas essencialmente essencialistas e de resposta aos insolventes do mercado habitacional.

Consideramos urgente reformular a focagem das teorias e conceitos, alargando a resposta a todos aqueles que não sendo insolventes não estão em condições de assumir com segurança um contrato de arrendamento do mercado livre.

A habitação básica permite desmistificar o conceito de habitação social com toda a carga negativa, assistencialista que ela comporta. É urgente retirar a habitação deste "pecado" que estigmatiza, exclui e marginaliza em guetos as famílias em blocos densificados à margem da cidade.

É urgente elaborar um Novo Programa de Políticas de Habitação que seja capaz de colocar no mercado de arrendamento ou de venda, casas de tipologia básica, a preços controlados a que todos aqueles que se encontram fora da habitação social e da habitação do mercado livre e especulativo, possam ter direito a uma habitação digna e qualificada sem estigma nem deslocalizada do direito à cidade.

Em causa está a forma como poderemos distribuir o acesso ao solo urbano pelas familias que se encontram numa espécie de mix social e económico, isto é, ganham demais para ter acesso a uma habitação social e por outro lado, não têm os meios suficientes para encontrar no mercado livre a resposta á sua necessidade básica - o direito a uma casa.

É neste enquadramento politico, social e cientifico-técnico que teremos de apresentar soluções e alternativas.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O Renascer da Democracia

Em toda a Europa aparecem movimentos civicos, alternativos e forças na defesa dos valores democráticos. Reivindica-se liberdade de decisão. Liberdade de escolha política. Exige-se que os partidos que sustentam os governos liberais mudem de políticas e abram as portas à cidadania.

Nas praças, nas ruas, nas escolas, nas fábricas luta-se minuto a minuto, hora a hora, dia a dia pela Democracia e pela Liberdade.

Nas urnas mostra-se o cartão vermelho a estas políticas que assassinam o trabalho e a economia produtiva, em prol da especulação financeira e de capitais. Luta-se contra a destruição de trabalho e contra a deslocalização das industria e do trabalho.

Nas Praças das capitais da Europa e do Mundo jovens, mulheres e homens lutam pela reposição dos direitos democráticos na vida das sociedades europeias. A sociedade condena de forma brutal todo o tipo de violência e de autoritarismo burocrático contra os cidadãos.

A informação colabora para esta globalização democrática e para esta onda de solidariedade entre os povos, as culturas oprimidas, as minorias e as maiorias escravizadas pela ordem neo-liberal.

Perante um sofisticado aparelho de propaganda e de terror suave instalado nos Estados Ocidentais as sociedades estão a dar uma resposta consciente, determinada e musculada. Não se aceita esta nova agenda liberal de destruição do Estado Democrático do Bem-Estar Social.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

As narrativas de Cavaco...



A queda do Presidente da República é um sinal dos tempos. Tempos que já foram de exaltação e de celebração da pátria de Camões. De festas gordas e apinhadas de gentes com bandeirinhas, lenços e chapeladas. Com discursos longos, simpáticos e proféticos a um povo alienado pelas narrativas ficcionais de uma Europa para todos.

Pregava-se o pão nosso de uma Europa rica, desenvolvida, solidária e progressista. Inventavam-se programas numa espécie de catecismo em prol de uma Europa unida e forte. Tratados e mais tratados, compromissos e mais compromissos. Quadros de referencia estratégica para aproximar os fracos dos mais fortes. Os ricos davam aos pobres e os pobres recebiam dos ricos. Tudo corria bem na eurolândia dos burocratas e dos demagogos.

Inventava-se o discurso da subsidiariedade europeia, do multiculturalismo, da herança europeia muito antiga e bem definida. Jacques Le Goff, o historiador francês da escola dos annalles inventava uma nova história para esta Europa mítica e fundacional, católica, protestante,judaica e muçulmana.

Era tudo tão perfeito. Criamos um parlamento europeu a fazer de conta. Um governo a fazer de conta. Um banco europeu a fazer de conta. Uma moeda a fazer de conta. Toda a gente acreditava na narrativa. Em Portugal os lideres políticos lá iam vendendo aos indígenas da nação o pacote de uma Europa Unida e Solidária. Despejaram-se toneladas de dinheiro que vinha dos nossos parentes ricos. Tínhamos descoberto de novo a "nossa" árvore das patacas. O nosso brasil era primeira vez aqui ao lado.

Tudo tão perfeito. Abi Feijó no seu "Fado Lusitano" levanta duvidas a esta narrativa. E chama-lhe loucura insana e ingénua. Manuel de Oliveira com "NON" leva-nos para os nossos palácios da psique colectiva. E deixa-nos irritados. Deixamos de pensar. Eduardo Lourenço na sua linguagem de uma identidade cultural europeia lá dá o fermento ideológico e estético a uma Europa que ele quer socialista e cosmopolita.

Inventamos o Homem do Leme. E o Homem do Leme inventou o "novo português". Construímos auto-estradas dando-lhes o nome de IPs e ICs por onde circulavam carros e carrões. Abandonamos a pesca e a agricultura, sinais de um país atrasado e anti-europeu. Mandamos queimar olivais e pomares, barcos e conserveiras, deslocamos os pescadores das frentes de praia para aí instalar unidades turísticas para os povos ricos do Norte e para os "Novos Portugueses" que Cavaco ajudou a criar.

Ser político era uma carreira de sucesso na mobilidade social e económica da Nova Republica. Bastava a militância e o cartão de sócio num  clube de primeira. Meu filho o futuro está garantido: o papa vai para político. Os políticos eram como os eucaliptos. Muitos e em grande mancha mas pouco ou nada úteis à sociedade onde se integravam. Secavam tudo ao seu redor.

A narrativa está suspensa. Os heróis desfaleceram. Os políticos são menores e ridículos. O Povo cai de si e sente que lhe mentiram. Foi tudo uma farsa.

Fica-nos a ironia, a raiva e a miséria resignada. Claro que não. Outros dias virão!...

quarta-feira, 28 de maio de 2014

LA FOLIE, C`EST LA FOLIE...

A França está louca. A loucura regressou à pátria da Revolução Francesa e do Maio de 68. Um povo, uma sociedade, uma nação que abandona a sua matriz cultural cosmopolita e universal e se refugia nos mitos fundadores de uma França de Ancien Régime. Uma França que foi a grande pátria do conhecimento, das artes e das ciências e que regressa ao mundo fechado dos senhores e privilegiados. Que procura no ódio ao outro, ao estrangeiro a justificação de todos os seus problemas.

Uma França que desde François Mitterrand (1916-1996) não consegue encontrar o seu fio de areane. Miterrand era o lado culto, cosmopolita e universal de uma França que procurava um novo sentido na Europa depois de abandonar as suas colónias. Mas, um sentido aberto e plural. Onde a grande França era uma pátria de cultura, de humanismo e de solidariedade.

Hoje, a França é um espaço fechado sem horizontes e sem designio algum no contexto do Mundo e da Europa. Uma França que não se governa e que deixou de liderar a Europa. Onde habita essa pátria de Camus, de Foucault, de Barthes, etc.

É urgente reinventar essa Pátria de Grande Cultura e de Grande Civilização. A França dos escritores, dos artistas, dos cientistas, dos arquitectos geniais.
 A França de hoje, é racista e mesquinha. Levanta fronteiras e ódios. Persegue os estrangeiros e os ciganos. Abandonou a Revolução Francesa e o Maio de 68. As suas cidades são espaços de segmentação e de exclusão..
Segrega os estrangeiros e persegue os outros com base na cor, no credo, na cultura. 

terça-feira, 27 de maio de 2014

GAME OVER...



São oito horas e quarenta e seis minutos. Escrevo logo pela manhã com uma sensação de fim de alguma coisa. Está um dia de sol e de luz atlântica. O mar é já alí...As gaivotas ainda não apareceram. Um silêncio profundo invade todo o espaço onde me encontro.

Espaço, silêncio e sol com luz. A Europa foi a votos. Muitos votos nem por isso. Os europeus decidiram não exercer o seu direito de voto. Aliás, o direito de não votar é um direito que todos temos consagrados na nossa Carta Constitucional.

Os políticos dos partidos do chamado arco governativo estão ainda em estado de choque. Perderam votos, perderam votantes e influência na vida política europeia. O Povo já não os quer. Mas eles teimosamente teimam em impor o mesmo figurino, o mesmo programa e as mesmas almas.

Contudo na noite eleitoral todos cantaram vitória. Claro que uns mais que outros. Mas todos estavam satisfeitos com os resultados. Até porque ninguém perdeu. E ninguém ganhou.

Se houvesse um vencedor seria a abstenção...mas essa não conta para a contagem. Pois, ainda não elege deputados nem decide as governações.

Em Portugal. O PSD continua a ser controlado por um aparelho de gente neoliberal e pouco recomendável. O PS está cada vez mais inseguro. O Bloco de Esquerda mergulhou numa espécie de coma induzido. A CDU mais estruturante e consequente mantém a sua trajectória política retirando dividendos da crise, da governação neoliberal, do descontentamento, da situação complexa que o país atravessa. Coerente com o seu programa e com a sua liderança.

Europa Game Over!..
Portugal  over!.. Sem euros para distribuir a Europa é um espaço político sem sentido e sem futuro. Infelizmente, os lideres europeus transformaram a Europa numa espécie de grande casino. A partir do qual se distribuíam fichas que davam acesso a cheques chorudos para distribuir sem nexo e sem sentido pelos povos a troco da sua soberania.

Game Over!..

segunda-feira, 26 de maio de 2014

EVITEM A EUROPA FEDERAL...



Nestas eleições para o Parlamento Europeu os povos da União Europeia deixaram impresso a sua marca de descontentamento sobre os caminhos que os burocratas europeus e nacionais tinham traçado nos últimos Tratados. De um redondo não contra este federalismo imposto nas últimas décadas a troco de uns dinheiros mais ou menos fáceis.

Na realidade a construção de uma Europa Federal com uma moeda única, um governo único, um banco único era uma mistificação, que alguns burocratas nacionais e europeus acreditavam a troco de uns lugares bem remunerados nas instituições europeias e internacionais.

Os políticos nacionais eleitos democraticamente pelo povo soberano das Nações, tomaram decisões sobre a soberania dos Estados sem consulta ou referendo. Hipotecaram os Estados e submeteram os Povos a uma espoliação de direitos e de soberanias.

Perante, esta hipócrita forma de fazer política os partidos europeístas cederam ao centralismo burocrático dos europeus que sonhavam com um Estado europeu centrado numa Alemanha unificada e numa França confinada a uma europa entre Paris e Berlim.

Os Estados Soberanos reagiam de forma calculada, em silêncio e abstenção nas urnas. Mas, com a crise do Euro e das dividas soberanas, os Povos passaram ao protesto apoiando-se nos extremos. A extrema direita e a extrema esquerda ressuscitam de um longo período de silêncio. Ganham posições e maiorias em países como a França Republicana e Laica, a Grécia, a Inglaterra, a Holanda, a Itália.

Portugal por enquanto limita-se a ter uns fenómenos caseiros, sem força e sem convicção. Marinho Pinto é um produto ingénuo, racional e inteligente de um eleitorado que quer castigar o PSD, o CDS e o PS. Mas por enquanto recusam o populismo da extrema direita e da extrema esquerda. Uma atitude de grande maturidade democrática que o Povo português deu a essa Europa do Centro, rica, burguesa e moderna.

Este resultado eleitoral veio demonstrar como frágil é esta Europa do Euro e dos burocratas. O Povo dos Estados Nações rejeitou o Federalismo sem consulta e sem referendo. O Povo é e continuará a ser o garante do Estado. A Nação não é uma peça de museu, nem muito menos uma espécie de mistificação folclórica da identidade pátria. Cuidado que a besta do Leviathan ainda se levanta dos escombros e ergue novamente as fronteiras, os medos, as guerras, as divisões sem nexo e sem sentido.

É urgente voltar a uma Europa Cosmopolita, Universal e Humanista. Aliás, a única forma de restaurar a paz social entre os Povos das Nações e evitar os ódios e os fanatismos de raça, de cor, de fronteira. A imposição de um Euro centrado nas mais valias rentistas contra a força do capital ao serviço da produção é um erro e um crime contra a Civilização Ocidental.

Acreditamos que as sociedades europeias têm a força e a inteligência suficientes para neutralizar estas economias financeiras especulativas e fazer do trabalho e da economia um Bem Social.


terça-feira, 22 de abril de 2014

A Minha Geração e o 25 de Abril...

A minha geração era ainda muito jovem quando se dá o 25 de Abril. Não tínhamos consciência da importância que o 25 de Abril teria nas nossas vidas.

Claro que fomos assistindo a mudanças estranhas no nosso quotidiano, mas que para nós eram muito positivas. O guarda da GNR local já não aparecia com aquele ar intimidador quando jogávamos à bola na rua, nem nos mandavam calar nas noites longas que se seguiram.

Em casa a política ganhou espaço e dignidade. O passado era contestado em função de um futuro que ninguém sabia o que era, mas que imaginavam como devia vir a ser.As ruas e as praças enchiam-se de homens e mulheres, de velhos e novos a qualquer hora do dia. Facto que só era permitido em dias de festa.

Todos os dias eram dias de festa. Dias de conversa. Dias de confraternização. Os assuntos eram muito diversificados. Mas as questões da liberdade, da fraternidade, da democracia. A palavra democracia começa a entrar no nosso ouvido, no nosso imaginário. Que palavra tão estranha e tão sedutora - Democracia.

Na Escola os muros que dividiam sexos e géneros foram derrubados. Que coisa estranha era esta. Mas que momento tão doce e perfumado. Estão a deitar a baixo o muro que dividia a Escola dos meninos das meninas. Era o fim de um pecado original que carregávamos na pele sem sentido. O crucifixo e os quadros solenes foram retirados das salas de aulas. Os senhores professores lá foram de mansinho escondendo as réguas, as canas e os castigos da humilhação.

Na minha Escola deixou de haver má cara, violência e humilhação. Toda a gente dançava, cantava e sorria. Andava no ar um perfume a primavera, a liberdade, a fantasia. Os jogos eram momentos de convívio, de socialização entre todas as classes e grupos. 

O medo tinha desaparecido. Sim o medo de falar, de errar, de levar com a cana porque se fez mal o calculo ou o exercício de matemática. Andava um perfume no ar. Que nos embriagava e nos dignificava. Pela primeira vez sentíamos que a Escola era nossa. 

Em Casa, na rua e na Igreja. O medo deu lugar a um sentimento de liberdade, de explosão social e cultural de grande magnitude. Era uma coisa única. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Primavera Vermelha

A primavera chegou com as suas chuvas e os seus nevoeiros. A minha cidade acordou com frio e humidades nas ruas, nas casas, nas praças onde as pombas debicam alguma coisa de forma muito silenciosa. As pessoas apertadas até ao pescoço recusam o frio e lá vão enfiadas na sua vida. O país também lá vai como pode, ou como o deixam ir. Corte ali, programa para acolá, e a vida política lá se arrasta de forma melancólica e pesada.

Os meus cafés cada vezes com mais turistas e com menos portuenses, amigos e vizinhos, dá-nos a sensação de que afinal a cidade está viva e cheia de luz. Mas, afinal os tempos estão vazios e crus. As pessoas vão partindo para dentro de si, afogando-se numa melancolia doentia que vai lacando o nosso viver quotidiano.

O cinzento é absoluto nesta cidade de luz e de rio e mar. Que paradoxo é este que nos esconde do rio, do mar, da luz e do sol e nos remete para um retorno à caverna das origens. A festa já não é festa, mas programação artificial comandada pelo mercado e pelo lazer artificial ao serviço das modas turísticas.

As pessoas perderam o seu fio ontológico (de ser história) e mergulharam num espaço linear e cíclico, sem tempo e sem contexto. As estruturas das descontinuidades perderam a sua razão de ser e de existir, o mandato foi substituído pelo mercado efémero que transforma as pessoas em meros consumidores sem identidade e sem singularidade. Os territórios transformam-se em espaços globalizados ao serviço de um homem descarnado de sociedade, de cultura e de política. A memória, o tempo, a ruína são os maiores inimigos desta sociedade global e ficcional.

Foucault já nos tinha anunciado a morte do homem moderno, associando-lhe a erosão do tempo e do espaço. Infelizmente, não lhe de-mos a devida referencia epistemológica. E, eis-nos aqui, agora, a constatar uma evidência já anunciada.

O fim das estruturas foi sem duvida um dos grandes problemas da sociedade actual. Sem sociedade, sem poder, sem cultura. A política transformou-se num jogo sem regras e sem fundamentos éticos e filosóficos. Enclausurou-se nos gabinetes das bolsas especulativas e dos mercados selvagens. O homem político foi substituído pelo homem pós-moderno.

As sociedades globalizaram-se no modo e na forma, conduzindo o actor social para uma espécie de retorno à vida na caverna. Reduzido a um contexto onde as emoções, as imagens, e as projecções dominam o seu universo de vida. Estamos perante a perda de vida social. A partir de agora, é na ausência de realidade concreta e territorialmente vivida que desenvolvemos as nossas interacções.

Estamos aqui e agora. Mas vivemos no ali inconstante e hiper volatil. Nada é como era. E não tem de o ser. O retorno ao passado é também uma espécie de nostalgia que nos remete para uma mistificação de um paraíso perdido. E na realidade o passado não o é e nunca o será. É na dinâmica e na transformação dos tempos que o homem se realiza e se integra. A mudança, o movimento leva-nos para a valorização do fragmento como partícula desintegrada de um processo de longas durações.

Será talvez oportuno referir que os tempos modernos são sempre de resistência e de vanguardas. De rupturas e de afirmações fortes e diferentes. Onde a criação e o novo são uma espécie de choque e de recusa desse tempo redondo e salvífico. A heresia está sempre associada ao Tempo Novo. É desse Tempo Novo que se espera que o Homem encontre de novo essa força de mudança e de renascimento.



terça-feira, 18 de março de 2014

ESTA EUROPA, NÃO É A NOSSA EUROPA



A nossa República espoliada da sua independência e autonomia política e económica em consequência da sua entrada para uma Europa que deveria ser dos Estados e das Nações, mas que se transformou numa espécie de grande mercado de capitais. Onde burocratas da alta finança decidem sobre matérias de Estado sem legitimidade democrática e patriótica.

Aderimos a uma Europa dos Estados e das Nações. Dos Povos e das Culturas. Que rejeita a  Europa Federal onde os grandes são gigantes e os pequenos são insignificantes. É urgente restaurar essa Europa dos povos, da diversidade cultural e religiosa, onde os credos e as raças são a sua força e a sua razão de ser.

A uniformidade económica da Europa com a criação do Euro, a possibilidade de um governo europeu, de um Estado federal úno e tentacular, desprezou os povos, as culturas e marginalizou os diferentes e periféricos. Despertou os velhos fantasma do passado, como sejam os nacionalismos, os patriotismos estreitos e reaccionários, conduziu os povos para lançar estigmas sobre os do Sul e os do Norte. Os ricos e os pobres. Os pretos e os brancos. Os Católicos e os Protestantes. Os de cá e os de lá. Os que trabalham e os que gozam. Os que sabem poupar e os que gastam.

Esta Europa não une, mas divide. Esta Europa não integra mas desintegra. Esta Europa não é solidária mas hipócrita.

A Europa é assim uma grande praça de capitais, com um parlamento a fazer de conta, que trata de assuntos menores, mas que ratifica os programas que reduzem a vida dos povos a um pagar de impostos sem legitimidade social, política e económica.

Uma Europa que vive numa espécie de Palácio de Versalles, enquanto os seus povos, estados e nações empobrecem, mergulham num pessimismo coléctivo sem retorno aparente. Uma Europa que paga milhões aos seus deputados europeus e burocratas e carrega impostos e miséria aos povos das nações. Esta não é a Europa de Antero, de Pessoa, de Camões, Vitor Hugo, Cervantes, Rabelais, Rousseau, Kant, e tantos outros.

Mas qual é a nossa Europa?

 Com a sua soberania refém de um sistema financeiro de capitais globalizados e imorais, deixou de cuidar do seu povo, da sua pátria e da sua Nação.

O país está na rua, na praça, na net a discutir e a manifestar a sua total oposição a um programa político e a um governo que não representa a nação e o povo português. A política de representação ficou bloqueada, o sistema já não dá resposta às dificuldades e aos problemas que os portugueses enfrentam.

Primeiro foi o desemprego, depois o medo e agora é a frustração de todos aqueles que não encontram no governo actual capacidade de liderar uma nação e um povo.

O Pântano está aí. As corporações militares, judiciais e de defesa já passaram pela rua. Já demonstraram o seu agravo pela forma como vamos destruindo uma nação e um estado democrático.

Os órgãos de soberania entupiram. Respira-se um ambiente podre, monótono e asfixiante.Ninguém responde pela sua responsabilidade. Desde o Presidente da Républica ao Governo que a capacidade de lucidez deixou de ser uma regra e uma marca de água.

O retorno do Dr Relvas e a forma como este governo apresenta as suas políticas é quase sempre um epifenómeno de comunicação e de constrangimento político.

A população urbana protesta e pede Demissão.
Demissão do Governo. Demissão do Presidente da Republica. Demissão da Trouika e da Europa.

O pão falta nas casas, o trabalho é uma metáfora nos centros de formação, a inquietação das famílias é um drama. A frustração e a raiva acompanham-nos no dia a dia.

A comemoração do 25 de Abril é inquietante e provocadora. Quem imaginaria que passados 40 anos de Abril o povo tivesse que vir para a Rua não para festejar mas para lutar por pão, habitação e trabalho...

A Educação está pobre e doente. Está numa espécie de coma. Os professores em estado de frustração, de desalento, de empobrecimento. Os alunos sem rei nem roque. Sem perspectivas de nada. A educação está doente em virtude de todas estas maldades políticas.

As famílias em estado de miséria económica, perdem o trabalho, a casa e a dignidade. Perdem o emprego, o pão e a habitação.

Os doentes enlatados em corredores de morte e de vergonha social. Os Hospitais fecharam as portas à coesão e à solidariedade social.

Crianças, jovens e velhos pedem esmola pelas ruas da minha cidade.

A sociedade em estado de ruína é uma espécie de palco onde corruptos, mafiosos, engravatados e doutores decidem por uma Nação inteira.

É nas Torres de Vidro que advogados e vilões decidem em nome dos agiotas que condenam um povo, uma pátria e uma nação a um estado vegetativo.

A Assembleia da Republica é uma metáfora politica, onde se brinca com os nossos milhões e se dá pão e fome a uma Nação.

O suicídio, a vergonha, a miséria encoberta deste povo não podem impedir de celebrar o 25 de Abril.

Vamos acreditar que em 25 de Abril, se pode novamente dar Futuro a Portugal.

A República não pode comemorar o 25 de Abril: Portugal nega Estado Social aos mais pobres e vulneravéis

Portugal é um dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em que os apoios do Estado são menos generosos para as famílias mais pobres. A conclusão surge num relatório divulgado esta terça-feira de manhã. 

A OCDE aconselha, por isso, Portugal a analisar com muito cuidado a maneira como gasta o dinheiro nos apoios sociais. A primeira prioridade, refere a organização, deve ser para com as famílias mais desprotegidas, lembrando, por exemplo, que seis em cada 10 desempregados não recebem qualquer tipo de apoios. 


O documento diz ainda que as ajudas de retaguarda para as famílias mais pobres são baixas e mesmo o Rendimento Social de Inserção (RSI), em 2011, não ia além de metade da linha de pobreza: cerca de 210 euros por mês. 


O relatório nota também que, enquanto na maior parte dos países da OCDE foram tomadas medidas para reforçar os apoios sociais aos mais pobres, as reformas levadas a cabo em Portugal desde 2010 tornaram esses benefícios menos acessíveis, resultando numa queda de 30% no número de beneficiários. 


Uma segunda prioridade é a ajuda às famílias mais desfavorecidas, de modo a beneficiarem da recuperação económica. 


O relatório nota que as desigualdades em Portugal se mantêm entre as mais elevadas da Europa e que os 30% com maior rendimento recebem mais transferências em dinheiro – incluindo pensões – do que os 30% com menor rendimento. Pior só mesmo a Turquia e o México. 


Um em cada seis jovens anos não estuda nem trabalha Um em cada seis jovens entre os 15 e os 24 anos não estavam a trabalhar, estudar ou ter formação em Portugal no quarto trimestre de 2012. O país apresenta, assim, a oitava taxa NEET mais elevada entre os países da OCDE. 


Segundo dados divulgados esta terça no relatório "Society at a Glance 2014", Portugal tinha uma taxa NEET (sigla que se refere a jovens que não estão a trabalhar, estudar ou em formação) de 15,3%. 


A percentagem está longe da observada na Grécia (27,4%), que lidera actualmente a lista, seguida da Turquia (26,7%), de Itália (21,4%), do México (21,1%), de Espanha (19,6%), República Checa (18,5%) e Irlanda (16,7%). 


Mas é superior à taxa média dos 33 países que pertencem à organização: 12,6%. 


A crise e consequente subida da taxa de desemprego, especialmente a juvenil, que em 2013 alcançou pela primeira vez os 40% em Portugal, estarão na origem de uma subida de 1,5 pontos percentuais da taxa NEET entre o quarto trimestre de 2007 e igual período de 2012. 


Na média dos países da OCDE, a taxa NEET também subiu, mas a um ritmo mais baixo, passando de 11,5% em 2007 para 12,6% em 2012

quinta-feira, 6 de março de 2014

Europa - Bonjour Tristesse!..


Os acontecimentos da Crimeia em pleno contexto de guerra civil na Ucrânia denunciaram como frágil é esta construção de uma Europa burocrática e pouco ou nada democrática. Ao longo destes anos governos, elites políticas e económicas, partidos do arco governativo foram alienando a soberania do Estado e da República Portuguesa em troca de uma Europa que nos pregavam dia a dia, como o reino do mercado e da liberalidade.

Uma Europa que se apresentava como um Mercado Único e Europeu em prol da sociedade, da empregabilidade, da subsidiaridade, da coesão entre o Norte e o Sul. Uma Europa que pregava e distribuía cartilhas contra a soberania dos estados e apresentava como única via um federalismo centrado no eixo Paris-Bona. 

A nossa elite ilustrada e estrangeirada, com formação e implantação nas cidades europeia ocidentais, combatia o regime do Estado Novo e sonhava com um Portugal Moderno e Europeu. O 25 de Abril possibilitou esse milagre político e cultural, derrubando uma regime moribundo e instalado, reformando as estruturas e as elites políticas, libertando os Povos Africanos de uma guerra já sem sentido e sem honra.

Com a implantação da democracia em Portugal pós 25 de Abril Portugal foi integrado na CEE, CE e agora UE. Um processo que teve como protagonistas Mário Soares, Cavaco Silva, Freitas do Amaral, Ramalho Eanes. Os partidos do "centrão" (CDS,PSD,PS) fizeram uma convergência estratégica para a entrada de Portugal na CE. Um processo de negociação enclausurado dentro dos directórios destes partidos, no qual o Povo da Nação não teve nem participação activa nem directa.

A cidadania e a Republica foram capturadas pelos directórios dos partidos que duvidavam do europeísmo dos seus povos. A elite decidiu em nome de Portugal e do Futuro de Portugal. Abandonamos a nossa matriz atlântica, fechamos os portos, abatemos as frotas, substituímos as fábricas de conserva por mega planos de regeneração urbana. Criando frente urbanos densificadas e especulativas em Viana do Castelo, Matosinhos, Aveiro, Ovar, Algarve, Porto, etc.

As discussões e as duvidas nunca foram submetidas a debate e a escrutínio popular. Foi tudo muito burocrático e fora dos instrumentos da democracia participada. A sociedade e as suas elites culturais, económicas e sociais foram ignoradas e estigmatizadas neste processo. Os lideres partidários verdadeiros arautos da boa nova, apresentavam-se como pregadores de uma Europa que vinha civilizar os "indios da meia praia".

Os Quadros Comunitários possibilitaram a entrada de muito dinheiro, que de forma fácil e criminosa serviu para comprar a liberdade, a autonomia e a alma de um Povo inteiro. Em troca da nossa soberania económica e política.

E agora, vamos discutir a Europa! ...Qual é o sentido de eleições para o Parlamento Europeu. Quando aqueles que legitimamente são eleitos por nós não têm os instrumentos democráticos para definir politica financeira e cambial, política económica e social que se situa "entrincheirada" no BCE.

E agora?

Portugal teve várias maiorias políticas assentes no poder dos dinheiros que chegavam em nome de programas da coesão social e económica, de instrumentos políticos de reformas do Estado, da Industria, da Agricultura e da Pesca, e da Educação e Formação.

Abatemos a pesca e a agricultura, a industria foi uma espécie de localização de unidades industriais no espaço rural sem acessibilidades e sem massa critica, que posteriormente foram deslocalizadas para outras zonas da Europa e do Mundo. Em nome da globalização e da liberalidade dos mercados financeiros.

Ao fim deste processo, vem a TROIKA apelar a uma Reforma profunda do país. Como é possível? Como é pensável estar a acontecer uma situação destas ao fim de dezenas e centenas de programas operacionais aplicados sob o "olhar vigilante dos comissários europeis"?

Hoje!..

Portugal é uma "jangada de pedra" à deriva, sem homem de leme, sem mapa e sem rota. A Europa já não é o que era.

Portugal deixou de ser um Estado e transformou-se num mercado em falência. 
Portugal vive angustiado como um órfão abandonado pelo padrasto sem nunca ter conhecido o progenitor.

Portugal tem 1000 anos. Ou coisa do género....