A sociedade portuguesa prepara-se para mais um acto político. Em Outubro os portugueses vão a votos para eleger para os próximos quatro anos os seus representantes locais. Um ritual que se foi tornando normal no seio de um país e de uma sociedade que se democratizou após uma Revolução Militar.
Espera-se que os novos candidatos possam dar esse contributo de aprofundamento da democracia no espaço local, centrados nos territórios concelhios e respectivas freguesias. Contudo, aquilo, que seria um acontecimento cívico e político normal, provavelmente (a crise profunda do nosso país) será um momento complexo e de grande tensão. É o problema do encerramento e anexação das freguesias, o desemprego galopante, a inércia do governo, o custo real da vida, para além da impossibilidade de uma grande parte de recandidaturas. Com o limite de anos ao serviço da "coisa pública" de uma grande parte dos "dinossauros" do poder local.
No nosso Distrito os aparelhos políticos escolheram, decidiram de acordo com a independência dos seus órgãos e optaram por certas escolhas. Em geral todos os partidos da esquerda à direita optaram por soluções de candidaturas que se deslocaram dos seus directórios (Comissões Politicas Concelhias, Distritais e Orgãos Nacionais) para o papel de candidatos a um lugar de presidência. Esta situação conduz aqueles que decidem a auto-proporem-se para o dito lugar. Situação que denota uma falta de abertura dos partidos à sociedade civil. Estamos perante um empobrecimento da vida pública e política.
Também tive a possibilidade de votar e de decidir sobre uma candidatura local a um concelho. Exerci o meu voto de acordo com os critérios que considerei mais pertinentes para a altura. Contudo, aquilo que fica, é uma absoluta predominância do aparelho sobre a escolha de candidaturas da sociedade civil. Penso, que perante tamanha crise social, económica e política os directórios políticos deviam-se abrir à sociedade captando cidadãos com outra escala e outra dimensão. Libertando a política dos aparelhos cinzentos, que vivem mais em função da luta interna pelo poder e suas instrumentalizações, do que em beneficio de um programa mais global e dinamizador da vida pública local.
No nosso Distrito o PSD optou pelo aparelho puro e duro.
Abandonou a sociedade civil. Reduziu a política e as decisões sobre o futuro das nossas populações a uma mera lógica de economia de votos.
Não apresentou uma estratégia de incluir o partido na sociedade civil, e a sociedade civil no partido. Alimentamos e agravamos o fosso entre representantes e representados, entre eleitores e eleitos. Não abrimos o partido à sociedade e deixamos a sociedade sozinha na rua em protesto. Adiamos a resolução da crise de representação. Que não é mais do que uma Crise da Democracia.
Não organizamos umas jornadas para pensar, programar e projectar os nossos concelhos e o nosso distrito. Optamos por uma narrativa de ficção política, dependente da imagem, da pequena noticia, do post no face, do efémero.
Os directórios distritais resumem a sua actividade política a uns jantar-comicios, a umas visitas, que mais não são que uma espécie de homilias patéticas onde gente pequena fala como gente grande para as "bases", a partir de um discurso redondo e inócuo. O vazio é a regra e a indiferença das bases é total. Fica o registo do momento, de umas quantas fotos para a página do faceboock do seu lider, descobrindo planos e emoções.
O nosso distrito cada vez mais pobre, cada vez mais desempregado, cada vez mais angustiado não encontra nos directórios distritais a liderança necessária e esclarecida.
As taxas de desemprego são brutalmente assustadoras, o encerramento de pequenas e médias empresas é uma realidade que choca e inquieta. O desânimo é regra e a falta de esperança é contaminante.
É urgente abrir os partidos.
Oxigenar a vida partidária.
Lançar um sinal de esperança no nosso Distrito.
Como se pode fazer?
Libertar os partidos do eleitoralismo e populismo redutor.
Democratizar a vida e a participação interna dos partidos. Criando espaços de discussão aberta e desinteressada.
Com o aparecimento de Fóruns temáticos, Seminários, Encontros que possam funcionar como instrumentos de formação de quadros políticos e de debate com a sociedade civil e suas instituições (Universidades, Escolas, Empresas, Fundações, Bancos, Instituições de Apoio Social e Cultural, etc.).
Criando uma espécie de via verde dentro dos partidos de forma a possibilitar a entrada e a promoção dos mais válidos, dos mais dinâmicos e dos mais inteligentes. valorizando a criatividade, a coragem, o risco e as competências.
Infelizmente, ao longo destes meses no nosso partido as discussões são ausentes e efémeras, focalizadas em interesses e em carreiras, distante da realidade e do país.
Na Assembleia Distrital do Porto, raros são os momentos de aprofundamento político e de análise política. A tribuna é mais uma espécie de ritual de presença, de marcação de posições e de presenças do que um espaço para falar para e do Distrito do Porto.
É sem duvida um espaço atrofiado, sem escala e sem dimensão política e cultural. Afastado da realidade e do Distrito, sem dimensão e sem intervenção. É urgente transformar este espaço (Assembleia Distrital) numa ágora de pensamento e de programação política a partir do local e do regional, mas nunca esquecendo o Nacional e o Global.
É urgente lançar novas plataformas politicas. De forma a contribuir para o aprofundamento da Social Democracia.
É urgente o aparecimento de alternativas diferentes com voz, com conhecimento e com sentido ético de serviço ao Distrito e ao País.