sábado, 29 de setembro de 2012

Uma Politica Cultural para Baião

Uma sociedade culta, dinâmica, criativa e empreendedora está indubitavelmente associada a um programa de desenvolvimento social e cultural que valorize os segmentos da cultura, do ambiente e do património, enquanto sectores fundamentais para a dinamização das economias criativas.

 Infelizmente, na região do Douro e particularmente no concelho de Baião, a cultura, o ambiente e o património não são mais do que uma retórica ao serviço de uma propaganda que assenta num conjunto de actividades e de pseudo projectos em torno de umas visitas, umas encenações folclóricas que em nada valorizam a cidadania inclusiva.

Existe sim, um discurso de património em torno da arqueologia e a animação arqueológica, pouco dignificante porque nele está ausente uma programação racionalizada e especializada da promoção, do estudo, da classificação do património e do ambiente concelhio.

Era necessário elaborar um Plano Director para a Cultura, o Ambiente e o Património que associa-se estes vectores à actividade turística, de forma a estruturar modelos e objectivos concretos, que conduzissem a actividade cultural para soluções abrangentes e sustentáveis, fora dos esquemas redutores da propaganda e do eleitoralismo efémero que esta Câmara tem aplicado a estas áreas.

O mesmo se passa com a deficiente e quase inexistência valorização económica e social dos equipamentos e infraestruturas municipais que a Exma Drª Emilia Silva mandou construir para a promoção da actividade cultural. Era necessário a implementação de um Plano Director para a dinamização destas infraestruturas macro-económicas, assente num conjunto de programas e de  estratégias que possibilitassem a organização de um conjunto de actividades programadas, estruturadas, pensadas, a partir de um programa mais amplo e moderno. Associado a este Plano Director para a Cultura devia aparecer um Centro de Formação de Públicos, a partir de uma concepção de eventos, da promoção dos sitios e lugares de memórias patrimoniais de excelência.

Transformar a Casa de Chavães numa AGÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE INDUSTRIAS CRIATIVAS, com uma organização em rede que valorize e retire ad valorem dos equipamentos municipais distribuídos pelo território concelhio. Desde a criação de um Centro de Congressos e Exposições Regionais e Internacionais a instalar no Auditório Municipal de Baião. A implementação de um Laboratório de Produções Artísticas Criativas a partir de uma Plataforma de parceiros locais, regionais, nacionais e internacionais envolvendo as Instituições Locais e Regionais e as Instituições Universitárias Portuguesas e estrangeiras; a implementação de um Centro Aplicado ao Desenvolvimento Agrário no Mosteiro de Ancede: com três vertentes complementares: ensino e formação profissional na área; ninho empresarial agrícola e turístico; um núcleo duro que promovesse a participação das empresas locais e residentes no desenho de projectos de desenvolvimento sustentádo - com a aplicação de modelos de inovação e de criação empresarial ; bem como a instalação aí de um Centro Documental sobre o Conhecimento Local enquanto actividade prática e localizada. Instalar no Mosteiro de Ancede o Observatório para as Actividades ambientais e turísticas, associando os parceiros locais e regionais.

Em relação ao Património Museológico pensar na Criação de um Museu Municipal de Arqueologia e do Território, tirando partido do vasto património local e das potencialidade dos sitios arqueológicos da Serra da Aboboreira e de Matos a partir dos trabalhos aí desenvolvidos pelo casal Oliveira Jorge. Criar um Centro Interpretativo da Paisagem e do Património na Serra da Aboboreira, criando sinergias nas áreas da formação, do conhecimento e do lazer cultural e cientifico. É urgente a criação de um Programa Integrado para esta temática para acabar de vez com a retórica, com a demagogia e o populismo de anos de abandono e de desleixo nesta temática. Não basta colocar lá umas vedações e uns postes de madeira, e fazer umas quantas intervençoes de cosmética, com a restauração de alguns dolmens e pronto. Nada disto é intervir de forma sistemática a valorizar a cultura e o património.

A importância de uma politica local para o arquivo e documentalismo que podem ser incorporadas numa Biblioteca Municipal com outra filosofia e com outra estrutura de serviços. Actualmente o concelho de Baião sofre de uma grande carência de serviços educativos e culturais nesta área. Aquilo que se vai fazendo a partir do trabalho voluntarista de uma técnica superior na área da arqueologia não é suficiente e não é o caminho que nos pode levar para uma maior qualidade de vida social.A actual Câmara Socialista nada fez sobre esta matéria a não ser demagogia e propaganda, tendo como aliados algumas instituições locais que participam na mentira e na fraude cultural. Com a implementação de uns teatrinhos serôdios sobre o património local, induzindo as criancinhas numa visão deturpada da história local e da importância da história na formação dos jovens.

Tudo isto fazia sentido se a Câmara tivesse isso sim um Departamento de Animação Cultural com animadores com especialização nas artes da representação e da encenação. Coisa que não acontece. O tal Serviço Educativo com técnicos na área da expressão artística e corporal que em sintonia com as direcções escolares podiam desenvolver um serviço de formação e de expressão de valor acrescentado. Nesta Câmara o importante não é servir e educar as crianças, mas manipular e angariar votos, a partir de um serviço que mais nao é do que um Departamento de Propaganda encoberto nos conteúdos e subtil na forma.

Para terminar podemos colocar a questão: quem vai financiar todo este programa? É facil e barato. Não é preciso construir novos edificios para além daqueles que já existem.  Por outro lado, o dinheiro que actualmente esta Câmara desperdiça em serviços mediocres e inutéis, benm como em técnicos e assessorias muito caras, permitem-nos seleccionar técnicos capazes, jovens formados do nosso concelho nas áreas e dar-lhes a possibilidade de aplicar os seus conhecimentos em beneficio da sua Terra e das suas Gentes.
Penso, que até se pode poupar muito dinheiro e prestar outro serviço e com outra qualidade. Claro que isso implica abandonar a politica cultural do tacho, da retórica fiada e do apoio fácil para as associações e fundações dos amigos socialistas.






quarta-feira, 26 de setembro de 2012

E O DOURO PASSA AO LADO...

Caros amigos é com grande tristeza a minha que olho para este Douro imenso, profundo, rico e diversificado. Como pode ser possível que os nossos autarcas e políticos não concertem uma estratégia, um programa para alavancar a região, de forma a transformar esta imensa riqueza num activo económico ao serviço dos seus residentes e dos seus pequenos e médios proprietários. Infelizmente, o Douro continua com as mesmas taxas que nos marcam negativamente no que se refere ao desenvolvimento social, cultural e económico no contexto da Europa e no contexto do litoral português.

Os nossos políticos sempre na mesma ladainha lá vão enganando o povo, com promessas sempre adiadas, com a ilusão das festas, das idas a Fatima, com as Jantaradas, com os subsidios para as IPSS`s locais, lá conseguem ganhar as eleições e a conservar o poder eternamente. O Povo na sua humildade e seriedade nuns casos, noutros o povo entra no jogo e caminha em direcção a uma irresponsabilidade civica. Afastando-se da politica e deixando os seus governantes locais com a corda solta durante quatro anos, os politicos usam e abusam desse poder delegado pelo voto a que chamam democracia representativa.

Os governos locais abandonam assim os interesses locais da governança e organizam a sua vida politica numa trajectória que os leva para outros mundos da politica, mais aliciantes e mais importantes no controlo das decisões internas dos partidos e do aparelho do ESTADO. O POVO distraido com a vida dura do trabalho e com as dificuldades que hoje vivemos, não se apercebe destas estratégias e destas trajectórias. 
A
O espaço local é assim uma rampa de lançamento para outros locais, esses sim muito desejados pelos jovens turcos da politica. Que vivem na sombra dos partidos locais. Raramente opinam, debatem, ousam criticar, ou dar uma ideia sobre qualquer tipo de assunto. São uma espécie de eunucos da politica, que vivem de forma parasitária nos meandros do poder.

Desta forma no Douro não se discute as alavancas macro-económicas para a região do EDT (Entre Douro E Tâmega), como a necessidade de reabilitar a Linha do Douro, uma estrutura ferroviária de interesse macro-económico regional. Sem esconder a sua mais valia para a coesão social regional e a sua relação com a proximidade para com a Área Metropolitana do Porto. Por exemplo, o caso de Baião, um concelho com uma frente de grande amplitude no Douro, mas que na realidade não tem alavancado o tecido local de forma a valorizar a economia local e o ambiente social. O Presidente de Câmara de Baião e actual lider da Distrital do PS Porto, nada tem feito para alavancar e relançar programas de investimento nesta região. 

Aliás, José Luis Carneiro não tem pensamento político sobre a região, a não ser umas ideias que rondam uma retórica vazia de conteudos e de programas. Infelizmente, essa realidade compagina a sua postura de autarca, que assenta numa máquina de propaganda e não num programa de alavancas locais e regionais, que fizessem a promoção do desenvolvimento endógeno e consequentemente reforçassem a coesão social. O melhor e último exemplo, é a criação de uma estrutura de "promoção de Baião" na cidade do Porto, na rua das Flores. A que deram o nome de PORTO DE BAIAO -, a ideia até pode ser interessante. Mas aquilo que lhe está subjacente é a propaganda e a promoção de uma autarquia e directamente ou indirectamente o seu presidente. Que só por acaso é o Presidente da Direcção Distrital do Partido Socialista do Porto.

Durante quase dois mandatos, José Luís Carneiro governou como quis e como lhe apeteceu. Não teve oposição, nem na Câmara nem na rua. O Ex-Vereador do PSD Carlos Póvoas sempre foi mais um aliado do que um vereador activo na fiscalização e na oposiçao alternativa. José Luís Carneiro foi construindo uma rede de influências, de interesses, de cumplicidades entre os poderes locais e os poderes regionais. A governação em Baião foi sempre um mandato politico soft e abrangente.Soft no discurso e na imagem que passava para a comunicação social, com a ida de televisões à terra, promovendo a sua governação e as pessoas, isto é, as personalidades da Terra. Personalidades que davam a cara e a alma por um projecto artificial e cosmético, que em nada valorizava a qualidade de vida e o desenvolvimento local.

O concelho de Baião continua mais velho, mais pobre e mais despovoado. O comercio esta quase falido, o turismo é uma metáfora e o património é uma cosmética. Sem soluções e sem programas, sem competencias e sem valores este PS desgoverna Baião. Trocando o trabalho politico por uma espécie de encenação em que o povo é chamado a participar, sem saber qual é o drama e o enredo. E o drama desta peça teatral é a falência das pequenas e médias empresas de Baião, o empobrecimento das familias, o despovoamento das aldeias e das freguesias, e das nossas vilas (Campelo, Santa Marinha e Ancede), o envelhecimento da população, a deslocação da população jovem e formada para outras terras e países. 

O nosso Concelho está triste e magoado com esta gente que desgovernou Baião. Por muitas piscinas que se façam, por muitas festas que se organizem, por muita propaganda que se faça nos jornais da terra e nos jornais regionais. Nada disso impede a pobreza, a miséria e a falência das familias e das  pequenas e médias empresas. Esta Câmara não tem soluções para impedir a crise na construção e na mão-de-obra que nela ganha o seu pão. Este Partido Socialista não reconhece estas empresas e estas pessoas, que trabalhdo a pedra e levantando casas, muros e edificios, sem duvida que também contribuem para a riqueza local e nacional. Nem uma palavra para estas pessoas, para estas micro-empresas que vivem momentos dificeis e complexos.

O senhor Presidente e o seu Partido Socialista gosta mais de se passear nos corredores do grande capital, dos grandes interesses, dos grandes investimentos. Aliás, esta tem sido uma marca governativa do PS a nivel regional e a nivel nacional. Um PS mais preocupado com o grande capital e com a grande finança, do que amigo das pessoas e dos cidadãos. Esta gestão socialista na sua arrogância e na sua retórica conduziu o concelho e a economia de Baião para uma situação de grande fragilidade e empobrecimento. Espero que o Povo de Baião saiba dar a resposta merecida a este desgoverno socialista nas próximas eleições.

Gostava também de deixar aqui vem claro que ninguém mas ninguém, pode fazer de conta que nada disto se passou. Seria muito grave passar uma esponja nas responsabilidades e nos cumplicidades, que durante estes anos, muitas pessoas, muitas das ditas personalidades locais, muitas instituições (Escolas, IPSS, Associações, Fundações, Empresas, etc.) se associaram com este governo local, dando cobertura a uma politica onde houve beneficiados e prejudicados. Os prejudicados foi sem duvida um Povo humilde que acreditou e foi enganado; os beneficiados foram umas dezenas de "personalidades menores", que à sombra do poder local foram conservando os seus domínios e ampliando os seus interesses. Essas personalidades menores também terão que ser chamadas á colação e à responsabilidade. Os nomes são conhecidos e estão registados de forma bem documentada no Boletim Municipal da Câmara de Baião. E a cores.

Sem duvida, que a vida publica não pode ser exercida fora de um imperativo ético de valorização de uma cidadania activa e independente. A única capaz de servir uma republica fora dos jogos de interesses da máfia corrupta que vive à sombra das benesses do poder.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

CAIM E ABEL: Nova Teoria Politica do Sacrificio

Nota: brevemente neste blog a estória de dois gémeos políticos da vida nacional. Uma versão ligth da queda de Seguro e Passos.

A um Passo de Coragem, de frontalidade e de carácter...

O Povo saiu para a rua, caminhou de forma cívica e mostrou ao governo o seu legitimo descontentamento em relação às medidas apresentadas como os instrumentos necessário para o ajustamento da divida soberana da nossa Republica. Até aqui nada de grave. O problema é que não foi o povo, mas uma Nação inteira que protestou e condenou a solução apresentada por Passos  Coelho.E essa realidade social faz toda a diferença e consequentemente obriga ao aparecimento de soluções novas na forma de governar.Todos os representantes do Povo Português ., Assembleia da Republica, Presidente da Republica, Tribunal Constitucional, Conselho de Estado e Partidos Políticos foram chamados para uma prova de fogo.

 É necessário dar uma resposta a esta situação de conflitualidade entre representantes e representados. A quebra de confiança está instalada e vem de trás. Sem duvida, que a herança do socratismo não está só presente no Largo do Rato, mas em todos os outros sectores da vida partidária. O anterior governo socialista deixou muito pouco ou quase nenhum conforto na gestão de conflitos sociais e de representatividade entre governantes e governados. A mediocridade da gestão socialista de José Socrates contaminou a sociedade e deixou um grande descontentamento.

O Primeiro Ministro Passos Coelho não conseguiu ver o alcance do fenómeno Relvas e de outras situações anacrónicas.O fim da Reforma Eleitoral e a polémica em torno das freguesias deixou este governo cada vez mais desligado da sociedade e do partido que lhe dá sustentação.Entramos numa espécie de terrorismo simbólico silencioso dentro e fora do PSD, com algumas cenas públicas de profunda confrontação entre representantes eleitos nas listas do PSD. Para além do simbolismo ritualizante dos banhos do poder, com a encenação de alguns momentos em que o poder vem ao povo, através de visitas bem montadas e conferencias em hotéis programadas. Não foram o instrumento necessário para selar o compromisso entre governantes e governados. O fosso ia aumentando e vivia-se numa espécie de teatro isabelino, onde as traições e as intrigas iam contaminando a solenidade da governação.

O poder dos chefes e lideres locais e regionais deixa de ter utilidade nas clientelas políticas, que assistem a uma centralização burocrática e política em Lisboa. Esta realidade agrava ainda mais e é geradora de tensões entre lideranças. As formas de organização politica abandonam a hierarquia e a concertação interna e fazem uma espécie de castelanização em torno do Primeiro Ministro e seus assessores. Afasta-se da máquina partidária e deixa de ouvir as suas bases. O último congresso foi o exemplo disso mesmo, substituiu o debate que era necessário por uma estratégia silenciosa em que algumas distritais e alguns dirigentes exerceram o seu mandato politico numa espécie de folha de calculo. A politica ficou adiada, o debate foi interrompido, a alternativa ficou silenciado dentro das paredes partidárias.

A alternativa ao desgoverno Socrates não se aprofundou na diversidade dos valores da social democracia. Do dia para a noite, a diversidade de discursos e de alternativas dentro do PSD desapareceu, ficou silenciada e deu origem a uma uniformidade e homogeneidade de discurso preocupante. Ficamos só com um discurso, só com uma alternativa, só com uma visão do mundo.Uma espécie de pacto de regime interno em nome da salvação nacional - é o retorno do unanimismo redutor e cobarde.Como consequência não foi possível objectivar qual a relação entre mudança política e transformação socioeconómica na europa e no mundo em geral. Não foi possível desenvolver uma praxis politica que valoriza-se os instrumentos do compromisso, da responsabilidade e do contrato social intergeracional.Esta unanimidade fantasista conduziu o governo para uma situação de limbo político, onde as sombras e os pesadelos são mais fortes e condicionantes que a própria realidade social.

Ninguém valorizou as culturas e as comunidades de resistência. As freguesias não foram categorizadas de forma objectiva. Logo subestimou-se a sua capacidade de discurso politico e social de resistência, contra uma reforma administrativa feita aos soluços e em total diálogo com os seus representantes locais.Nas escolas o ministro da educação demonstrou falta de preparação e ingenuidade politica.Não soube mobilizar os docentes e a comunidade escolar em geral. Tinha um activo politico muito grande mas não soube conservar e muito menos ampliar. O ministro da economia não existe e não mobiliza o sector empresarial. A agricultura entrou num ministério sem nexo, sem sentido e sem escala. Não se pode governar desta forma.

Agora pergunta-se. Que vamos fazer?

Bem, o PSD tem uma maioria simples na Assembleia da Republica. Ganhou as eleições. Tem um conjunto de deputados com maturidade politica e intelectual para dar uma solução.É um partido moderno, plural, social democrata de tradição ocidental, possui um conjunto diversificado de quadros de grande qualidade politica e cientifica -, neste sentido está preparado para resolver este grave problema que o Governo Socialista deixou a todos os portugueses. Por outro lado, os governos são nomeados e aprovados em Assembleia da Republica e mais tarde ratificados pelo Exmo Presidente da Republica. A democracia que funcione, que exerça o seu legitimo mandato. Cada um que saiba tirar daqui as suas ilações e responsabilidades.

Claro que Passos Coelho ainda tem margem de manobra. Recuar na TSU, demitir Miguel Relvas, remodelar o governo e alterar a estrutura orgânica deste governo que não funciona da melhor forma. Executar as Reformas. Avançar com as Reformas. Responsabilizando os outros partidos do aro do poder. Envolvendo-os nas Reformas de forma aberta e publica. Sem medos e sem tacitismos partidários.Dar um sinal claro de humildade e de capacidade governativa. Dialogando mais com a sociedade. Sem telepontos e sem assessores de imagem e de discursos vazios. Passos deve ser ele próprio, com a sua idiosincrasia, com a sua forma simples de estar. Naturalmente que vai assustar o aparelho mas vai ganhar o país e retirar a nação deste ajustamento brutal. Ainda acredito que Passos Coelho possa ter este sentido de risco e de genialidade politica.Desejo que o actual Primeiro Ministro dentro da sua solidão e poder possa reencontrar-se consigo próprio e com o povo que o elegeu. Sem medos e sem influencias remodele o governo, substitua quem tem que substituir, convide quem tem capacidades, maturidade, conhecimento, valor e humildade para o acompanhar neste momento tão difícil. 

E acima de tudo  é o erro que nos ensina o caminho e nos dá a conhecer o imperativo da governação.


terça-feira, 4 de setembro de 2012

RTP - uma metáfora ao serviço público

A polémica sobre o que fazer da RTP e de todos os seus canais televisivos tem despertado algumas vozes mais infamados de todos os sectores da sociedade civil portuguesa, que apontam uma série de argumentação em favor ou contra esta instituição do Estado.

Habituei-me a acordar ao som da RTP e a esperar que o seu programa abrisse para deleite dos mais pequenos e graúdos. Sou em certa parte um produto da RTP do Estado Novo que aparecia como uma grande mãe ao serviço da educação e da formação dos valores da pátria que um regime fora de moda teimosamente queria manter e difundir.

Ao ler o texto do jornalista e amigo José Augusto Moreira sobre a RTP, no Jornal Público, fui levado pela leitura de tão excelente trabalho jornalístico para a minha infância. Um reino onde domina a inocência e a virtude de criança. Ainda não tinha adquirido consciência de que esta Caixa que nos ligava ao Mundo, era o melhor instrumento para divulgar as ideias e virtudes de Regime Ditatorial que nos governava. Tudo parecia normal para nós, desde o culto da bandeira, de um hino, do amor à pátria, do nacionalismo que nos entrava diariamente pela casa dentro a partir de uma caixa redonda pesadíssima, com imagem e som. Para nós aquela caixa era uma coisa mágica e maravilhosa.

A nossa entrada na juventude e a nossa politização veio-o nos dar a conhecer outra realidade social e política bem diferente. A instalação do regime democrata em Portugal após o 25 de Abril de 1974, permitiu que passados aqueles períodos de radicalismo ideológica da estrema esquerda, que o nosso país entra-se na normalidade democrática com eleições livres.Os tiques do esquerdismo revolucionário foram sendo neutralizados e integrados no regime democrático, possibilitando que a sociedade portuguesa se pacifica-se e caminha-se para uma sociedade mais justa, fraterna e solidária.

A RTP foi desempenhando aqui um papel fundamental e pioneiro na forma de informar e formar, sempre condicionada pelo regime ou regimes, pelos interesses politico-partidários, pelos lobbes económicos e culturais. Sem esquecer o período em que esteve sobre a tutela e domínio do Conselho da Revolução. A partir de um certo momento a informação começa a ser um poder efectivo e activo na sociedade portuguesa e aparecem as primeiras tentativas de controlar e manipular a informação em função dos interesses partidários e dos ideologismos da época.

Durante esta fase não se fala em custos, nem em dinheiros, nem em desperdicios de recursos nacionais. Era o único canal que o país tinha e nesse sentido reinava de forma absoluta e poderosa no Reino da Jovem Democracia. Este estatuto permitiu-lhe uma grande implantação na sociedade, nos partidos, nas universidades, nas empresas, nas estruturas intermédias do Estado. A RTP era o próprio Estado dentro do Estado. Senhora de si propria, dominadora e dominante, tudo podia e tudo fazia. Uma espécie de EDP dos dias de hoje.

Com a liberdade da comunicação e da imprensa e com o aparecimento de outros canais da televisão (SIC e  TVI) a RTP nunca mais foi a mesma. Não se soube adaptar aos tempos modernos e globalizados do mercado de capitais, não soube encontrar o seu caminho. Nem nunca soube aprofundar o seu desígnio que era de se adaptar a um regime democrático e europeu. Continuou pública e estatal na forma e no conteúdo, isto é, foi servindo o novo regime (agora democrático?) como servia a Ditadura de Salazar. Sem sentido critico lá foi caminhando entre o Estado que idolatrava e servia de forma submissa e um mercado cada vez mais liberal e global.

As sociedades globalizaram-se e comprimiram-se entre um espaço cada vez menos real, onde o virtual e o cabo dominam e definem as modas e os modelos à distancia de um clique. Tradição e contemporaneidade entram definitivamente em colapso, desvalorizando-se as memórias e o positivismo do século passado. A velocidade e a erosão do tempo, associados a um mundo cada vez mais interactivo, desprezam a mundividência do reino da telelândia.

É neste cenário caótico e distorcido que a RTP viveu e ainda sobrevive, num anacronismo sem nexo e sem fundamentação possível. O Estado está em estado de coma, obsoleto e sem recursos, e a sua querida filha e herdeira é vitima dessa dupla realidade. Uma espécie de caixa de pandora que cada vez que se lhe toca, do seu interior sai sempre um monstrosinho que vem complicar mais a sua já triste realidade.

Quando se coloca a questão do Serviço Público. Sem duvida que a RTP sempre foi digna desse nome. Sempre serviu os seus regimes de forma dedicada e exemplar, sempre fez questão de ser voz do Estado e do seu Regime, fosse ele ditadura, fosse ele revolucionário e militarizado, fosse ele democrata e cristão. Os seus programas sempre foram um espelho fiel dessas realidades, dessas ideologias que queriam formar camponeses, costureirinhas, operários, engenheiros doutores e professores.

 Uma RTP acritica, fiel e exemplar na forma como acolhia todas aquelas figuras que em nome do estado, da cultura e da pátria teciam elogios à grei e a raça.Mesmo quando nos aparece um Solnado que quer ser Soldado, não é mais do que uma metáfora que do fundo da sua ideologia ganha mais realismo conservador e deixa de forma subtil para os ditos intelectuais da tv a critica e o sentido duplo do contexto social da época.

Faz sentido uma RTP na posse do Estado? Faz sentido alienar a RTP impondo taxas aos contribuintes? Faz sentido uma RTP a concorrer com os canais livres do mercado concorrencial? Faz sentido uma RTP de luxo, que paga de forma irracional salários principescos? Digo claramente que não.

Uma RTP Pública tem de ser contida, barata, sensata à cultura e ao conhecimento. Que abandone a banalidade de programas estupidos e ridiculos. Sem praças da alegria e outras coisas do género. Que seja paga pelo Estado e pelo contribuinte, sem publicidade. Contida na forma e na escala. Ao serviço de causas fraturantes e de vanguarda. Que abandone o seu passado submisso a um poder e a um controle do Poder que Governa.