terça-feira, 22 de abril de 2014

A Minha Geração e o 25 de Abril...

A minha geração era ainda muito jovem quando se dá o 25 de Abril. Não tínhamos consciência da importância que o 25 de Abril teria nas nossas vidas.

Claro que fomos assistindo a mudanças estranhas no nosso quotidiano, mas que para nós eram muito positivas. O guarda da GNR local já não aparecia com aquele ar intimidador quando jogávamos à bola na rua, nem nos mandavam calar nas noites longas que se seguiram.

Em casa a política ganhou espaço e dignidade. O passado era contestado em função de um futuro que ninguém sabia o que era, mas que imaginavam como devia vir a ser.As ruas e as praças enchiam-se de homens e mulheres, de velhos e novos a qualquer hora do dia. Facto que só era permitido em dias de festa.

Todos os dias eram dias de festa. Dias de conversa. Dias de confraternização. Os assuntos eram muito diversificados. Mas as questões da liberdade, da fraternidade, da democracia. A palavra democracia começa a entrar no nosso ouvido, no nosso imaginário. Que palavra tão estranha e tão sedutora - Democracia.

Na Escola os muros que dividiam sexos e géneros foram derrubados. Que coisa estranha era esta. Mas que momento tão doce e perfumado. Estão a deitar a baixo o muro que dividia a Escola dos meninos das meninas. Era o fim de um pecado original que carregávamos na pele sem sentido. O crucifixo e os quadros solenes foram retirados das salas de aulas. Os senhores professores lá foram de mansinho escondendo as réguas, as canas e os castigos da humilhação.

Na minha Escola deixou de haver má cara, violência e humilhação. Toda a gente dançava, cantava e sorria. Andava no ar um perfume a primavera, a liberdade, a fantasia. Os jogos eram momentos de convívio, de socialização entre todas as classes e grupos. 

O medo tinha desaparecido. Sim o medo de falar, de errar, de levar com a cana porque se fez mal o calculo ou o exercício de matemática. Andava um perfume no ar. Que nos embriagava e nos dignificava. Pela primeira vez sentíamos que a Escola era nossa. 

Em Casa, na rua e na Igreja. O medo deu lugar a um sentimento de liberdade, de explosão social e cultural de grande magnitude. Era uma coisa única. 

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