quinta-feira, 31 de julho de 2014

CESAP/ESAP - O Fim de Um Sonho!

 


Os tempos que vivemos não são fáceis nem são para fazer de conta. Perante as dificuldades que o país atravessa é sem duvida necessário uma atitude criativa, inteligente, responsável e critica. De forma a compreender as dificuldades e a pensar soluções eficientes e sustentáveis.

Bem aproposito esta nossa análise sobre o difícil momento que passa a CESAP/ESAP Porto e Guimarães. Parece-nos constatar que existe uma espécie de fechamento burocrático na instituição que impede a possibilidade de implementar medidas, programas e estratégias para resolver este problema de financiamento e de falta de liquidez para assumir responsabilidades futuras.

É nossa opinião que a situação não é alheia ao contexto de crise económica e social que o país atravessa, mas também não podemos ignorar que a CESAP e as suas Escolas (Porto e Guimarães) nada ou muito pouco fizeram para ultrapassar os obstáculos que vão aparecendo. Se alguns dos problemas são conjunturais, outros são muito mais graves, porque estão associados a problemas estruturais que a instituição nunca resolveu, porque não encontrou as soluções ideais ou porque a agenda interna era mais do domínio dos interesses de grupos, que sendo efémeros se transformaram numa espécie de estrangulamento ao seu desenvolvimento e consolidação.

Ao longo dos anos da sua existência a CESAP foi sendo uma estrutura leve, eficiente e de custos muito reduzidos, com capacidade para dar resposta às suas responsabilidades em relação às suas Escolas. Especialmente, em relação à Escola Superior Artística do Porto, que sem dúvida alguma, durante décadas prestou um serviço de qualidade na área da formação da arquitectura que lhe fez ganhar uma dimensão para além das nossas fronteiras. Os nossos alunos sempre foram bem acolhidos dentro e fora do país, em consequência do trabalho realizado na nossa Escola.

Paradoxalmente, o Curso de Arquitectura lá foi sempre funcionando, onde professores desenvolviam sem duvida alguma, um trabalho de grande dedicação ao ensino, aos alunos, à formação no âmbito da arquitectura. Noventa por cento dos docentes não tinha um vencimento de professor integral, porque a CESAP não tinha e continua a não ter condições financeiras para integrar esses docentes e dessa forma fazer face a todas as obrigações legais, subsidio de férias, segurança social, etc...etc. Todavia, os docentes que também são cooperantes, davam o seu melhor no ensino, na formação humana e profissional, custeando viagens e saídas de campo, sem meios ou verbas para o efeito. Era uma comunidade, ou melhor uma fraternidade de partilha entre alunos e professores, entre a Escola de Arquitectura e o contexto nacional e internacional.

Aulas abertas, visitas de estudo, visitas a obras, seminários, conferencias, congressos, mesas redondas, tudo se fazia a custo zero, sem grandes meios, mas o importante era a amizade, o companheirismo entre todos, fossem alunos, docentes e profissionais desta ou de outra área. Era um mundo aberto e plural. Era assim a ESAP-Curso de Arquitectura.

 Peço desculpa, se não me refiro aos outros cursos da ESAP, mas como não conheço a sua realidade não me posso pronunciar.

Esta realidade não era um mar de rosas, também existiam divisões, conflitos, outros interesses, que entre si partilhavam os cargos directivos. O Curso de Arquitectura foi durante anos um corpo com coesão e com liderança forte; contudo, a divisão e a fragmentação chegou ao curso da pior forma e no momento menos apropriado. Em plena crise aparece a divisão, a fragmentação, a saída do seu director carismático, e a diminuição de alunos que conduz à saída forçada de colegas de longa data.  Aparece a insatisfação, a duvida, a incerteza, a desconfiança, a frustração de muitos colegas que durante décadas de serviço dedicado à instituição são dispensados sem critério e sem fundamento.

Pela primeira vez, a ESAP no curso de Arquitectura perde diversidade científica e técnica, e perde qualidade formativa, em beneficio da burocratização académica que asfixia a criatividade, a diversidade de ensino, a qualidade formativa. Numa Escola de pequena escala, onde a informalidade e a proximidade faziam marca de diferenciação e de qualificação numa oferta cada vez mais standard e redutora. A ESAP no Curso de Arquitectura marcava a diferença e afirmava outro caminho na formação da arquitectura Europeia e Nacional. O Curso de Arquitectura era sem dúvida uma oferta alternativa e de qualidade.

Com a saída do antigo director, com a burocratização académica, com a uniformidade de curricula, com a destruição de cadeiras que faziam do nosso curso uma alternativa de vanguarda, em relação às outras ofertas; transformamos a diversidade e a singularidade no uniforme e no mesmo produto. Fomos copiar os outros naquilo que eles tinham e têm de menos válido para a formação de um arquitecto. Destruímos cadeiras e anexamos outras que colocam em causa a nossa identidade e a nossa razão de ser....

No meio deste cenário de decisões caóticas e inoportunas, aparece também a crise financeira, a escassez de liquidez, a incerteza de sustentabilidade na ESAP /CESAP.

Esta crise não se explica só pelo contexto da crise financeira e social que o país atravessa, mas também pela ausência de um programa estratégico de sustentabilidade financeira por parte da CESAP, que não soube ou não teve capacidade para o implementar. A direcção da CESAP deixou-se ultrapassar pelos acontecimentos, perdeu a noção de oportunidade, fechou-se numa espécie de torre de marfim quando se devia abrir à discussão como forma de arregimentar ideias, vontades e sinergias criativas.
A CESAP, hoje, é uma instituição sem ideias, sem energia, sem plano e sem estratégia capaz de resolver os problemas muito graves de financiamento que afectam a ESAP.

A ESAP e os seus órgãos académicos também não estão ausentes de culpas neste processo. Os órgãos académicos estão isolados da realidade, estão burocratizados, atomizados e sem capacidade de reagir de forma a implementar as medidas e as reformas necessárias. Durante mais de uma década com a absoluta cobertura dos órgãos académicos abriram-se cursos sem alunos e sem financiamento ajustado. Que consumiram milhares e milhares de euros.

A Direcção Académica e respectivos órgãos assistem à destruição da Escola sem capacidade de reacção, sem implementar uma reforma profunda, sem uma discussão eficaz e mobilizadora da sua comunidade escolar. A ESAP,  é um corpo vazio, triste, sem dinâmica, sem sinergias, sem esperança. Entrar naquele edifício central dá uma sensação de angústia e de frustração.

 As salas vazias, os edifícios vazios, os professores sem alunos, perante um aparelho burocrático tão complexo e em número tão elevado. Que imagem tão paradoxal é esta. Para nossa frustração temos as esplanadas no largo de S. Domingos cheias de turistas, mas onde param os nossos alunos. Os nossos alunos que durante décadas deram vida e alma, ao largo, aos cafés e tascas; que se sentavam nas soleiras e discutiam durante longas horas nas esquinas do Largo de S. Domingos.
Onde param os nossos alunos?!...Que deram colorido às ruas com os seus desenhos, os seus esquiços, com os seus olhares atentos a todo aquele patrimonio que nos entra pelos pelos sentidos.

Nota: No próximo paper uma análise cuidada da realidade financeira da CESAP/ESAP Porto e Guimarães.









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