A cena decorria numa pequena praça de uma antiga vila da região do Paiva. Todos os sabados aí se realizava a feira da terra. Vendia-se um pouco de tudo, ouro, tamancos, panos raros, panos da região, capões e frangos da terra, cestos e alfaias agrícolas e um sem número de bugigangas que faziam as delicias daquele povo. Sem esquecer os biscoitos da Teixeira e os doces de Resende.
Um homem vestido de cetim desfilava na praça da sua terra.
Um acontecimento...Aliás, um pequeno acontecimento este que dava um colorido diferente em dias de festa. A praça era dominada por esta figura altiva, de novo riquismo, que se passeava de cetim. Sim vestido de cetim.
Um pijama de cetim.
Comprado pelo ouro da época - o volfrâmio.
Era o tempo das notas gordas.
Dos sacos pesados de volfrâmio.
Das viagens de taxi para a cidade do Porto.
Das festas regadas a cântaro de vinho acompanhado com sopas de pão-de-ló.
Das noites jogadas a cartas viciadas e fraudulentas.
Das estórias de encantar e de meter medo.
Era a época dos lobisomens, das bruxas que tomavam banho nos ribeiros e roubavam a honra aos homens bons da terra.
Das hospedarias apinhadas de forasteiros. De gentes muito ricas e muito pobres.De vendedores, de traficantes, de mulheres e crianças que corriam para o apanha.
Dias de troca, dias de glória, dias de abundância, dias de desgraça e de muita miséria também.
Caminhos, calçadas e estradas de macadame apinhadas de gente suja, magra e doente. Mulheres com sacos à cabeça de volfrâmio, pareciam uma espécie de artistas de circo, de um circo trágico e verdadeiro.
Como nos dizia, o Zé Maria, um antigo carreteiro das minas de Regoufe, eram tempos do Diabo.
E hoje serão tempos de glória?
Nota: Pequena homenagem a todos os Zés Marias.
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