quarta-feira, 15 de junho de 2011

O Retorno do Individuo e as Novas Lutas Sociais



A sociedade ocidental e a portuguesa em particular apresentam movimentos sociais e acções publicas que apontam para uma elevada consciência colectiva dos direitos e deveres cívicos, associados a momentos de grande exaltação social e politica, plasmados nas novas lutas sociais, que no fundo não são mais do que o retorno às antigas lutas de classes. Noam Chomsky (2003) considera pois, que se está produzindo uma luta de classes entre a classe trabalhadora, por um lado, que é uma classe económica, e as elites que a estão  oprimindo, e que resulta deste liberalismo económico e político. Afirmando mesmo, que, as elites que oprimem os trabalhadores são os liberais elitistas com os seus disparatados valores contraculturais (2003:15).

 Uma crise económica e financeira pela falta de competência política das nossas lideranças políticas, que desde Cavaco Silva, Guterres e agora de forma trágica com Sócrates, nunca desenvolveram um programa nacional de desenvolvimento integrado do nosso território económico, de forma a valorizar os nossos recursos naturais, ambientais e humanos. As políticas desenvolvidas foram sempre na lógica de um construtivismo de grandes obras públicas, à sombra das quais empresários da construção e obras públicas, políticos e banca, foram usufruindo dos dinheiros nacionais e dos quadros comunitários. A economia local e regional foi ignorada, abandonada, e em contrapartida foram-se construindo e duplicando infra-estruturas como se o país tivesse triplicado o seu território e as suas gentes nestes últimos anos. Para tanto, contribuiram  os governos corruptos a nível local, com a total benevolência dos poderes regionais e centrais, que apoiavam e contribuíam para tamanho disparate nacional. O eleitoralismo, o clientelismo e a corrupção conduziram os territórios locais e nacionais para uma situação de caos urbano, social e ambiental. O Poder Local considerado como um exemplo de boas práticas políticas, não ficará na nossa história contemporânea como um exemplo de boa governança, em pelo contrário aparece-nos associado a tudo que se movimenta nos intersticios da especulação e da corrupção.

A adesão de Portugal à Europa, e a forma como foi concretizada, sem nexo e sem responsabilidade colectiva, sem projecto e sem ambição política, transformou a nossa adesão numa espécie de festim ou banquete de cardeais, onde banca, partidos políticos, empresas, agiotas e especuladores do imobiliário puderam reconstruir o velho Portugal do Capitalismo Monárquico dos séculos XVII e XVIII, com tudo que pode haver de corrupção, de clientelismo e de tachismo. Os dinheiros fáceis e abundantes, as taxas de juro baixas, a oferta de dinheiro a tudo e a todos por parte de uma banca corrupta e tribal, uma classe política de jovens guerreiros, ambiciosos, corruptos, mal formados, oriunda das classes mais oportunistas uma espécie de brokers, que furam o sistema em nome de caudilhos locais que se escondem nas florestas do capital.

 O Estado transformou-se numa espécie de Grande Mãe, que distribui e dá a quem tinha poder para exigir e para reivindicar. Para o povo, coitado do povo, fica com umas migalhas, com umas sobras, que se vão distribuindo como incentivos à formação, à empregabilidade. Aqui, também podemos enquadrar o estado assistencialista com as suas dádivas aos velhos, aos abandonados, aos preguiçosos, aos medíocres, aos parasitas da nossa sociedade. E que agora, aparece na forma mais reaccionária do cheque para a educação, para a saude, para a alimentação pela voz mais liberal e direitista deste novo governo.
Um Capitalismo Monárquico em versão pós-moderna que também tratou de forma bondosa os intelectuais, os artistas, os criadores, com a construção de Palácios da Cultura, o caso mais emblemático e o primeiro começa com o afamado CCB (Centro Cultural de Belém) obra emblemática do Homem Novo, durante o consolado de Cavaco Silva e terminou com a construção da Casa da Musica no Porto, no consolado Socialista. Uma obra emblemática do despesismo socialista e de como a cultura também pode ser o ópio do povo.
Vieram também as Capitais da Cultura, uma espécie de Urban Celebration, à imagem de uma cultura light, que se plasmou numa espécie de reabilitação urbana. Muito haverá para se dizer num futuro próximo sobre essas propostas e esses programadores, que nas manifestações são revolucionários e na programação são burgueses e elitistas. Uma esquerda de moda, ou já sem moda, que vive à sombra deste capitalismo radical.
Nesta dicotomia escatológica um povo, uma terra, sem rumo e sem homem do leme, vive suspensa. Uma Nação Suspensa de futuro de acreditar...

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