domingo, 16 de junho de 2013

CONTRA OS INCENDIÁRIOS...A Afirmação da Dignidade do Homem num Mundo de Desigualdades

O titulo deste paper tem a origem num dos livros do sociólogo americano Richard Sennet, Respect in a Wold of Inequality, editado em N. York no ano de 2003; e das movimentações e contestações sociais que dia a dia vão acontecendo em Portugal, na Europa e no mundo em geral.

O autor faz neste livro uma análise pertinente sobre o Respeito e a falta dele ao longo destes últimos séculos, acentuando aquele período americano com a libertação dos escravos do Sul rural para as cidades do Norte. Em Portugal a conquista do Respeito tem uma longa e complexa história, que vem desde a longa idade média, que conheceu um período feudal de grande fragilidade social e de elevada dependência de muitos para alguns senhores feudais donos de castelos, coutos, Colegiada, Beetrias e Honras. Um período de longa e desumana escravatura onde a troco de segurança, abrigo e subsistência homens, mulheres e crianças resignavam à sua condição de homens livres e transformavam-se em escravos e servos de senhores muito pouco solidários com a fome e a miséria destes.

As cidades cresceram, alargaram os seus limites, derrubaram as suas muralhas, aumentaram os seus perímetros e incluíram todos aqueles que tinham de ser incluídos na sua malha urbana. A sociedade urbana ganhou escala, imagem, poder e sacrificou a harmonia perante a ganância dos agiotas que desde muito cedo viram no solo urbano uma mais valia.

O espaço urbano zonifica-se e tipificado pela segmentação social e económica, traduz-se numa força de exclusão e de estigmatização social. Nasce a cidade dual, com duas faces, uma positiva e solar e uma outra, negativa e negra onde mora a doença e a miséria moral.

A dignidade passa a ser uma coisa de classe, de origem e de poder. A falta dela é um destino, uma desgraça  que nasce com a pessoa. O nascimento é a marca de água que selecciona, que classifica que integra ou exclui. O Respeito é uma virtude demasiado inacessível para todos, só alguns eleitos conseguem atingir esse estatuto solar e esplendoroso das elites urbanas.

A falta de Respeito é uma fatalidade, que se explica numa certa biologia social que atribui aos ascendentes essa mácula, esse pecado primordial. Contestando esse Cristianismo puro que pregava a igualdade entre os homens e as mulheres face ao mesmo Deus - Yahveh!... Claro que S. Paulo, na 1ª Epistola aos Coríntios defendeu um código restrito o qual separava a homens e mulheres, mas também susteve que «os Profetas e as Profetizas habitavam o mesmo Espirito» e, nesse sentido não estão determinados pelo género sexual. 

O Cristianismo, apresenta-se assim, como uma religião libertadora e aliada de uma ética espiritual a favor dos pobres, dos doentes, dos oprimidos, dos trabalhadores e operários. Em suma, de todos aqueles cujo corpo é vulnerável. O Cristianismo coloca a sua ênfase na igualdade dos humildes e no poder da pobreza.

Em 1891 o Papa Leão XIII (1878-1902) escreve a encíclica Rerum Novarum, sobre a situação dos operários e mais tarde o Papa  Pio XI (1922-1939) fazendo o balanço dos problemas e das soluções propostas, retoma o pensamento de Leão XIII  para o actaulizar e adaptar às novas condições da vida social. Esse documento é conhecido pelo nome de Quadragesimo Anno (1931).

A seguir vêm as duas encíclicas do Papa João XXIII (1958-1963). A primeira é a Mater et Magistra, publicada em 1961, isto é, 70 anos depois da Rerun Novarum e 30 depois da Quadragesimo Anno. O tema fundamental é o mesmo das duas grandes encíclicas sociais. Só varia a acuidade e a vastidão dos problemas, dada a malha cada vez mais apertada das relações dos homens uns com os outros e a escala mundial em que essas relações se desenrolam.

Estas encíclicas papais são sem duvida documentos de um alcance social verdadeiramente revolucionário na época em que apareceram.

Hoje! 
Também são  referencias fundamentais para a construção da Humanidade num Mundo Globalizado, ao serviço da solidariedade entre os povos, do respeito no trabalho, na dignificação da pessoa na sociedade. 
Num Mundo onde a Política abandonou os pobres, os doentes, os desempregados, as crianças e os desalojados.

Os governantes deixaram de governar para as pessoas, para a sociedade dos homens e transformaram-se em aliados de um fascismo político que escraviza as pessoas em trabalhos precários sem dignidade e respeito pela pessoa. 

Humilha os trabalhadores destruindo riqueza e trabalho digno, lançando os operários e os jovens para a desumanização social da produção.

 Os governos aliados com o capitalismo financeiro lançam o caos na sociedade, destruindo os sistemas produtivos e criando uma espécie de caos que coloca em causa a harmonia social e a paz politica entre cidadãos e instituições.

Uma espécie de incendiários dos regimes democratas e das sociedades do Bem Estar Social. Esta realidade é facilmente visível no nosso país e na Europa em geral. Um Governo maldito que serve um capital corrupto e fascista.

Com o novo Papa Francisco espera-se que a Igreja se reencontre nos valores da matriz do Cristianismo original e abrace a causa dos valores sociais contra a exploração dos trabalhadores e a nova escravatura que sem pudor se afirma contra os valores do Humanismo Social e Cristão.


5 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo Sr. Professor,
Desta terra natal do escritor do neo – realismo Soeiro Pereira Gomes, endereço – lhe um abraço muito sentido de pura amizade.
È verdade Sr. Professor que os políticos, mas não todos, estão a empurrar perigosamente o nosso País, a Europa e o Mundo para a catástrofe. Esta é uma realidade com que estamos confrontados, e que ninguém de boa-fé a pode negar.
Quanto ao que se passa no nosso Pais, o que verificamos é que este governo e os anteriores que lhe sucederam instalaram em Portugal uma ditadura ao serviço do grande capital sem escrúpulos com o nome de democracia. Quando um povo não é sobrano de decidir por sua única e exclusiva vontade o seu destino, estamos conversados!
Quanto ao papel da igreja na nossa sociedade e apesar de me identificar como católico não praticante, devo dizer que a sua hierarquia (salvo raras e honrosas exceções), sempre andou de braço dado com a alta finança, os principais causadores da desgraça a que este nosso País chegou.
É de lamentar que qualquer credo religioso seja ele de que matriz for, se aproveite da fome, da miséria e do sofrimento humano geral, para tentarem passar a imagem de caridosozinhos, esquecendo – se esses credos religiosos, que todo o ser humano independentemente da raça ou sexo tem direito à dignidade humana (e não à caridadezinha saloia) consignada nos várias convenções internacionais: direitos humanos!
Ainda não vai assim há muito tempo que um amigo meu me enviou um Émile com uma foto de um Bispo católico Brasileiro em que este dizia:
Enquanto matei a fome aos pobres, diziam-me que era santo, quando perguntei a razão do porque da existência de tanta pobreza, rapidamente me apelidaram de COMUNISTA!
Portanto caro amigo Sr. Professor. Não é com obscurantismos sejam eles de que matrizes forem, que se resolve o gravíssimo problema da fome e miséria que assola o nosso País, que é fruto da ganância deste capitalismo selvagem sem lei.
A. Gomes

Fernando Matos Rodrigues disse...

Caro Gomes,
Sem duvida que subscrevo as suas palavras inteligentes e oportunas a este momento. Infelizmente a nossa Igreja nem sempre esteve à altura das suas obrigações sociais, culturais e políticas.
O nosso país e a europa infelizmente não identificaram a origem da causa de tanto mal e desgraça. Estamos perante uma das maiores crises civilizacionais que há memória. Uma crise de mentalidades e de humanismo. Aqui pelo Porto a cidade está calma, viva e desperta para alguma coisa de novo. não sei bem o que é, mas que anda um perfume no ar anda. E isso é muito bom tendo em conta o contexto em que vivemos de desemprego e de miséria social. Mas é à noite que a cidade fica mais sombria e triste com centenas de pessoas a apanhar uma malga de caldo e a comer umas sandes distribuidas pelas instituições sociais da cidade. Uma vergonha o que se passa. A rua está a ficar muito triste em algumas zonas.Abraço amigo

Anónimo disse...

Caro amigo Sr. professor,
A tigela da sopa que se vai distribuindo aos famintos da cidade invicta é fruto do que já referi anteriormente.
Mas neste desgraçado caminhar, a curto prazo nem sopa vai haver para distribuir aos esfomeados, porque as chamadas Instituições de Solidariedade Social uma grande parte delas vão acabar por ter que fechar portas, porque como diz o ditado popular: sem ovos não se fazem omeletes.
Abraço amigo
Gomes

Fernando Matos Rodrigues disse...

Meu caro amigo a vida política e social está cada vez mais confusa, patética e quase que ronda o patético em alguns momentos. O que mais custa ver é a pobreza que se instala nas nossas comunidades urbanas e rurais. A fome já começa a dar sinais de presença em algumas familias. E paralelamente temos um país agrícola desactivado e sem produção. Os campos continuam abandonados e em ruína, sem nada que se lhes possa plantar para produzir alguma coisa. As pessoas abandonaram a produção e ainda vivem em estado de festa e de passeio. Foi a política do efémero e do espectáculo. E agora, pimba manel. Mas continuamos fazer recriações históricas com o povo em estado de descentramento social, vestidos de forma ridicula a passear pelas ruas. Enfim...

Anónimo disse...

Amigo Sr. Professor,
É verdade que os campos foram abandonados, ou melhor dizendo, a agricultura foi destruída para consumirmos os produtos importados “de qualidade muito duvidosa”.
Mas o amigo sabe quem foram os responsáveis pela destruição da nossa economia e neste caso concreto do sector primário não sabe?
E sabe quem foi frontalmente contra a destruição “criminosa” do nosso aparelho produtivo agrícola e dos outros sectores económicos?
Como investigador penso que também sabe quem são os responsáveis pelo inquietante alastrar da fome, da pobreza e miséria por todo o País?
Penso que também tem conhecimento quem ao longo dos anos alertaram incansavelmente o País para o rumo catastrófico que o mesmo está a caminhar?
Portanto meu grande amigo, não tenha receio de chamar os bois pelos seus próprios nomes, porque meter tudo no mesmo saco é intelectualmente incorreto!
Como sempre o meu grande abraço de amizade.
Gomes