quarta-feira, 17 de julho de 2013

Poder E Photoshop


Na actualidade portuguesa o poder é uma espécie de mitologia sagrada, onde os rituais da imagem e da palavra substituíram o poder da palavra e a sedução do discurso. Estamos no reino da imagem, de muitas imagens ao serviço de um estilo formatado pela força das modas.

Numa sociedade onde a palavra pouco ou nada significa, a imagem é dominadora e omnipresente na vida quotidiana das pessoas. As criaturas abusam da imagem, do estilo, do poder da manipulação e do milagre do photoshop.

Já não é preciso vara de condão, nem magia, nem fadas, nem milagres. Cada um pode agora desenhar o seu destino e manipular a sua imagem. Estamos perante uma nova versão de definir destino e de projectar a imagem de si.

Criador e criativo, actor e espectador misturam-se numa simbiose diabólica que ultrapassa todos os limites da racionalidade moderna. Aqui realidade e idealidade vivem em circulos sobrepostos, sem espaço e sem memória, sem identidade e sem singularidade. Um é Outro e o Outro é Um mesmo.

Trata-se de uma imagem virtual que vive entre um 3d e o artesanal do analógico. Outra dimensão espacial e temporal onde o plano é horizontal e vertical, é circular e infinito, é real e irreal. Vivemos numa espécie de circularidade cibernética.

A política e o poder que dela imana circula nestes propósitos de identidades fragmentadas e dissonantes. O que nos levanta à partida problemas na forma e no estilo de ver e de compreender a praxis política neste mundo pós-contemporâneo ou de modernidade tardia.

A mascara do mundo clássico foi substituida pela imagem virtual do primitivismo da sociedade pós-moderna. A intoxicação social e cultural das imagens que circulam na nossa galáxia virtual conduziram a sociedade para um retorno à Caverna socrática. Estamos novamente no mundo das emoções irracionais, do sensivel e tangível. O enclausuramento da vida racional.

A vida pública assiste assim à queda do homem público e da sociedade laica e liberal. É o retorno ao mundo fechado e limitado entre linhas e paixões, entre medos e fantasias. 

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