domingo, 21 de maio de 2017

Arouca e Baião: a pensar a política!

É dentro do ritual político que nos vamos reencontrando com a vida, com o futuro mas acima de tudo com o passado. Pois, é do passado que falamos , e é a partir dele que avaliamos os políticos nas suas decisões e omissões.

O que se prometeu fazer? O que se fez? O que se não fez? E acima de tudo o que se fez de mal, que possa colocar em causa esse futuro.

Sobre os dois casos Arouca e Baião, mais do que pretender saber o que se fez e como se fez, importa acima de tudo falar e pensar sobre aquilo que não se fez. Que continua adiado ao longo de mais de uma década.

Em Arouca e Baião o que mais me preocupa são as taxas de envelhecimento progressivas e brutais, associadas a uma deslocação dos mais jovens para fora destas vilas e concelhos, por aí não encontrarem resposta para uma vida digna e um trabalho socialmente justo e humano.

Se olharmos de forma objectiva e com honestidade para estes valores tão dramáticos do envelhecimento populacional e regressão demográfica, ficamos com uma imagem trágica de abandono e despovoamento futuro (estamos a falar de um cenário para daqui a 10 a 20 anos) destas duas magnificas terras.

Com consequências terríveis na economia, no ambiente, na qualidade de vida, na própria sustentabilidade territorial e autonomia politica dos dois concelhos.

Esta realidade de esvaziamento e despovoamento já é visível nos pequenos lugares e no centro das freguesias mais periféricas, com taxas de mais de 290% de envelhecimento e de quase despovoamento.

Esta entropia territorial e demográfica já é visível desde os anos 90 do século XX. Com a queda das aldeias de montanha e o deslocar das pessoas mais idosas para os lares do centro da vila de Arouca. Poucas são as aldeias que possuem casais jovens com crianças em idade escolar. Aliás, o encerramento e o reagrupamento dos equipamentos escolares do primeiro ciclo já foram consequência dessa trágica demografia que vai estrangular o futuro destas povoações.

Alguns lugares já se encontram mortos de vida, sem pessoas, sem vida social, sem vida ambiental, é o retorno do caos e da natureza na sua máxima biologia e zoologia. Já estamos no reino da entropia fisica e ambiental. Esta situação coloca em causa a conservação dos recursos naturais e a protecção da integridade da Natureza. Sem pessoas os recursos naturais degradam-se.

Os cenários futuros são demasiados sérios e graves, para serem ignorados pelo momento eleitoral.

Estamos num momento de assumir um compromisso político para Arouca e Baião que envolva um contrato inter-geracional, de forma a pensar o desenvolvimento local integrado num reformismo ecológico e social.Envolvendo os mais preparados técnica e cientificamente na procura de soluções amigas da economia, do ambiente e da demografia.

Torna-se urgente reformar as políticas de acção local que durante as últimas décadas estiveram mais comprometidas em fazer uma politica espectáculo, sedutora, populista em função de um eleitorado mais resignado e passivo.

A preocupação esteve mais centrada na simpatia e no desleixo político, em vez de apostar em programas integrados de valorização endógena que fossem capazes de criar redes e sinergias nas área da economia e do ambiente local. O que ficou foi a festa, a festança, a romaria aos lugares mais sagrados da ecologia local sem a protecção e a valorização necessárias que se impunham.

As governanças locais / municipais investiram o seu tempo e os recursos públicos em tapeçaria de damasco, em obras de estadão, descurando os verdadeiros interesses das populações locais: a saúde, a qualidade de vida, o trabalho, a justiça e a coesão territorial.

Que se fez de interesse municipal na saúde? na qualidade de vida? na criação de trabalho? na justiça e coesão territorial? Que fizeram os nossos políticos nestas áreas? As populações em Arouca e Baião foram beneficiadas nestas áreas nos últimos anos?

E não me venham com a resposta típica. Fizemos muito. Desenvolvemos muito o concelho e a terra? Como é possível afirmar uma coisa dessas quando a sociedade definha! A economia e o trabalho são cada vez mais um bem raro e escasso! ...

Em Arouca o problema mais grave centra-se na perda da biodiversidade ambiental, na destruição da água com a contaminação de agentes muito poderosos, tais como a exploração das lousas em Canelas; o problema das minas com a contaminação das águas subterrâneas nas bacias do Paiva; o problema da radioactividade com o urânio à superfície do solo; os incêndios florestais e a monocultura do eucalipto que veio empobrecer os solos, destruir as águas, matar a biocenose; a construção especulativa nos solos agrícolas de classe A ao longo do vale do Arda promovidos com a aprovação de um PDM de baixa densidade; as lixeiras municipais com dezenas de toneladas de lixo sem estar tratado e protegido que contamina as águas das ribeiras que vão desaguar ao Arda.

Em Baião os problemas ambientais não têm esta gravidade. Em Baião um dos problemas que veio a agravar a coesão territorial foi a fragmentação e a dispersão da centralidade da Vila em Campelo pelas pequenas e artificiais vilas de Santa Marinha e de Ancede. Em nada contribuiu para  a coesão territorial, mas acentuou a perda de centralidade municipal num concelho com desequilíbrios territoriais próprios da sua própria natureza geográfica e identidade politica.

São mais contidos e localizados. A monocultura do eucalipto é muito menor e localizada. Ainda podemos ver de forma muito generalizada a flora e a fauna local na sua melhor qualidade. Contudo o que se passa na Serra da Aboboreira com a abertura de estradões de forma irracional, deve preocupar os poderes políticos e os agentes locais. A água em Baião é de elevada qualidade. Em Arouca já não podemos dizer o mesmo. A qualidade de água em Arouca como por exemplo, nas zonas de Janarde, Meitriz, Regoufe, Alvarenga e Canelas é muito preocupante.

Era importante proceder a uma monitorização às escorias das louseiras de Canelas para compreender a gravidade da situação. Em Arouca os cancros e as leucemias são uma realidade muito preocupante.

Enfim, faço votos que neste período eleitoral as pessoas possam discutir de forma aberta, plural e com sentido de responsabilidade estes assuntos.

Pois, o futuro de Arouca está em risco. E cada um de nós não pode continuar a meter a cabeça na areia como se nada de muito grave não estivesse para acontecer.











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