sexta-feira, 12 de maio de 2017

Fazer das Tripas Coração

Um  Porto cidade. Um Porto de marca!

Uma cidade tabulheiro de xadrez... peças de porcelana dançam de quadrado em quadrado, de lugar em lugar, de sala e salão à procura de um rei de papelão.

Eleições à porta cheque mate à rainha. Atrás bem a má sorte!...

Ver passar as damas de mão em mão, trocando de pares de acordo com o ritual da ocasião. Entre momentos de pausa e de frenezim, os jogos de paciência são cartas tiradas de cima de mão.

Entrevistas ao senhor deputado, ao alcaide e ao escrivão...
Tratam temas tão banais que se julgam uns sábios de ocasião....

Em dias santos e feriados lá andam de cana na mão...
 pescam tainhas para  vender nas bancas de S. João.

Ao lado dos chefes por entre sorrizos e piscar de olhos lá encontram o rapé do sacristão...

E o coitado do zé povinho tira a caca do nariz e "bota" lá para o doutor juíz.

Cada um cata o que pode em dia de festa ou de comemoração. Lá vão todos empalhados de cravo ao peito, solenes e pretenciosos, levam na mão toda a vontade de um dia serem  um lampião.

Ouvem-se as vozes. O bater das botas. Os gritinhos da manifestação! Há festa de São João!

Um mar de gente perdida entre as ruas da baixa, desce pelo padrão! São tantos os cantos que cada um se sente um rei na forma como mija pró chão!

Fazem-se à rua, ao bairro, à ilha com ganas de gente que trás na boca a vida inteira... Numa cidade que gasta nas tripas a moeda que trás na algibeira.

São vozes, são queixumes, são relampagos que estoiram na Sé, na Lapa e deixam um lastro de luz que lembra um coração de liberdade. Que se encontra prisioneiro desta cidade.

Fazem das tripas coração.
Prometem o que o diabo não dá nem tira. Falam do presente celebrando o ritual de S. João.

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