domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Questão do Poder Político em Portugal

O Poder político em Portugal e a sua alternância político-partidária estagnou frente a uma crise económica e financeira internacional, mas que tem as sua raízes nos problemas estruturais que a classe politica não soube e não quis resolver.

A nossa classe dirigente formada e estruturada entre o fim de um Estado Novo agonizante e a experiência anárquica de um 25 de Abril, pouco ou nada aprendeu e compreendeu das novas mudanças e dos novos desafios em que o nosso país entrava. Aderimos à Europa em 1986 sem problematizarmos a nossa entrada e o nosso papel na Comunidade Europeia. Entramos, concordamos, votamos e elegemos deputados e comissários europeus sem compreendermos a verdadeira importância da nossa adesão. O país entrou numa espécie de delírio europeu, e da nossa terra pouco ou nada importava. Os políticos desde cedo compreenderam que com a Europa e a sua adesão, iriam surgir muitas facilidades, muitos dinheiros, muitos programas, muitas convenções e medidas, etc.

O país abandona as pescas, a agricultura, a pecuária, isto é, todo o sistema reprodutivo cai no mais vil abandono e servilismo europeu. Transformamo-nos em consumidores robotizados de produtos de consumo, que satisfaziam os nossos desejos de consumidores sem regra e sem nexo. Foi a época do novo riquismo, das jantaradas, dos casarões, das festas de estadão, dos mercedes e carros de luxo, das férias no Pantanal e nos parques temáticos da Europa, da Asia, do Oriente, etc.

Nas antigas vilas e nas periferias das nossas áreas metropolitanas (AMP e AML) os terrenos que faziam parte da Reserva Agrícola Nacional (RAN) e da Reserva Ecológica Nacional (REN) foram urbanizados e deram lugar a lugares feios, inóspitos, desintegrados e deste modo insustentáveis do ponto de vista energético e económico.

A especulação imobiliária contaminou a sociedade e a política, infiltrou-se no futebol, nos partidos e nas suas campanhas à americana. Era um mundo novo, de luxos, de gastos sumptuosos, de mimos e brindes à romana. Toda uma sociedade que se rendia aos coches da republica e deixava o interesse público e a pátria ao total abandono e entregue a uma corja sem alma e sem valor.

Estava-mos num tempo de grande aceleração, de grande mudança, as pessoas subiam depressa, enriqueciam rápido de mais, sem justificação e sem pudor.

E assim, de problema em problema, da causa em causa, fomos caindo neste pantano social e político e neste buraco sem fundo em que as nossas contas e finanças se encontram.

Perante isto, ninguém é responsável, ninguém governou ou melhor desgovernou a republica...Estamos a cair numa espécie de amnésia politica, numa erosão da memória, que sem duvida alguma, convém a toda esta casta de politico que governaram o nosso país nas últimas décadas.

As nossas elites abandonaram o arco do poder, refugiaram-se nas academias, nas escolas e nas empresas, e deram espaço a uma gente agressiva, uma espécie de guerreiros que conquistaram os aparelhos partidários e os conservam de forma musculada e desta forma patrocinando uma espécie de "feudalismo político pós-moderno".

O exemplo, mais preocupante deste fenómeno é a forma como este governo socialista, liderado pelo actual Primeiro Ministro José Socrates tem estruturado a sociedade e a distribuição dos lugares e mimos de forma tão feudalizante, um pouco à bruta, sem o minimo de descrição. O assalto ao poder, a tomada do poder e o usufruto das suas mais valias materiais e simbólicas faz-se sem o mínimo de vergonha. Aqui não há nada de digno e de democraticamente aceitável. É tudo muito repugnante e corrupto. Esta forma da fazer política é própria de um caudilho e não de um homem de estado.

Neste contexto, o PSD ou toma para si a responsabilidade de organizar uma alternativa governativa com personalidades autónomas, cultas e tecnicamente habilitadas para a governação difícil que vamos ter e já temos, ou então será a crise do regime e o fim desta republica que será mais das bananas do que da democracia adulta e responsável.

O PSD num prazo muito curto, talvez de dias e pouco mais,tem de falar com sentido de estado aos portugueses, e, olhos nos olhos apresentar o estado em que se encontra o país e dizer aos portugueses e portuguesas qual o caminho e qual a programação a seguir. E sem medo pedir uma maioria para salvar Portugal desta ruína em que o PS colocou a nossa Nação e o nosso Povo. Um partido de governo, um partido democrático e responsável não pode adiar mais esta situação. O país reclama e exige uma alternativa adulta, inteligente e determinada pela salvação nacional.

2 comentários:

Francisco Megre disse...

Será assim tão difícil reunir as elites que se refugiaram nas academias e na sociedade civil e liderar um movimento político com reformas claras, abrangentes e estruturais, apoiada pelas mesmas elites em diferentes áreas, sendo as mais importantes a educação, a justiça, a economia e o estado social? Além disso criar mecanismos de diálogo contemporâneos com o resto da sociedade para um apoio real e um diálogo constante?

Fernando Matos Rodrigues disse...

Caro Francisco Megre, não será dificil num tempo mais ou menos longo. Estas questões são de natureza estrutural e como tal, não se tratam de forma imediata e linear. São o resultado de programas longos e sustentados, fora da demagogia e do eleitoralismo serôdio da petit politique. Caso contrário podemos caír numa espécie de suspensão da democracia e mudamos de paradigma politico e colocamos em causa a democracia...Que penso, que esta profunda crise, obrigatóriamente já fragilizou a nossa democracia. O que é sem duvida muito grave. Abraço do FMR