domingo, 11 de março de 2012

Os Novos Pobres no Norte de Portugal...


Este paper parte de uma análise de dados recolhidos a partir de uma base de dados de uma instituição de apoio e solidariedade social, com sede e rede de intervenção numa freguesia do chamado Grande Porto, mas que ilustra facilmente a nova realidade da pobreza social no norte de Portugal. Uma das regiões mais fustigadas pelo encerramento de empresas e do consequente aumento explosivo do desemprego nas camadas mais jovens.

 Na sua maioria são empregadas do sector fabril da região, mas também nos aparecem alguns casais com formação universitária, felizmente poucos, mas que já nos dão uma ideia de como o país está a cair numa situação de calamidade social e económico.

Os rendimentos per capita por família são de tal forma tão baixos que nos fazem lembrar outros continentes, onde a fome, a miséria e a doença nos entrava pelos noticias, fosse em Africa, ou na América Latina. A realidade agora é no nosso país, no nosso distrito, na nossa terra, na nossa rura, na nossa aldeia.

De catorze famílias analisadas e que são apoiadas por uma Conferencia Vicentina (Sociedade Sâo Vicente de Paula), constatamos que o rendimento per capita por agregado familiar, em média ronda os dois euros. Mas, por exemplo, temos alguns casos, que o rendimento per capita é inferior a um euro. Por exemplo, na família A, composta por quatro elementos, o seu rendimento per capita é negativo: este agregado recebe da reinserção social 287,10 euros, e tem de despesas fixas 478,92 euros, dando um saldo negativo de 191,92 euros. Estamos a falar de uma família que é composta por três filhos: dois gémeos com a idade de seis anos e  outro com cinco anos. De referir que esta familia gasta de despesas no Infantário de 90,00 euros. Sem duvida que esta realidade é uma entre muitas daquelas que excluem as pessoas e crianças de um conforto material e espiritual mínimo.

A família B é composta por quatro elementos, o casal e dois filhos. O rendimento per capita é de 0,40 cêntimos. Recebe de Reinserção Social 389,10 euros e tem de despesas o montante de 340,79 fixos. pagam de renda 143,35 em habitação municipal, condomínio 32,45, água-luz e gaz 164,99 euros. Com um 1,60 cêntimos esta família tem de fazer face às despesas de alimentação, saúde, transportes para um mês. Como facilmente se pode verificar, um litro de leite custa 0,65 cêntimos e cinco pães custam 1,00 euro. Ainda ficam com um saldo negativo de cinco cêntimos. Uma realidade dura, cruel para uma classe muito jovem, nascida na década de 70 e 80 do século XX. Estes problemas eram a realidade social dos antigos idosos. Sem divida, que a tipologia do pobre se alterou e já não estamos perante uma população envelhecida mas jovens desempregados, com agregados famílias e com responsabilidades na formação e na educação de jovens crianças.

Algumas destas famílias quando falam com os Confrades Vicentinos costumam referir que a dispensa deles está muito pobrezinha. O que é bem explicito de como fazer face ás despesas da vida doméstica é uma luta constante pela sobrevivência.

Esta pequena amostra é elucidativa do problema social que esta a atacar as famílias operárias do chamado Grande Porto, colocando na miséria e na situação de exclusão camadas de jovens que não conseguem dar aos seus filhos aquilo que os seus pais lhes deram: uma casa, uma alimentação e uma segurança social. A indigência, a marginalidade, a pobreza e a falta de auto-estima podem levar a uma situação de explosão social com consequências imprevisíveis.

A própria Igreja Católica e as Instituições de Solidariedade Social têm mostrado grande perplexidade pela situação e vão alertando os políticos e o Estado para a dura realidade socio-económica.

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, caro amigo Sr. Professor!
A situação ao estado em que se encontra foi por culpa dos Partidos políticos que nos governaram nos últimos 37 anos.
Esta é a realidade nua e crua, para que nos empurro este capitalismo selvagem, que está a levar perigosamente o País para um poço sem fundo.
Abraço
Gomes

Fernando Matos Rodrigues disse...

As razões desta situação são várias e lgumas t~em causa próxima (governação socialista) outras origem mais remota e prendem-se com os nossos atrasos estruturais. Todavia, que isso não pode justificar tudo e todos. Nisso o amigo Gomes tem toda a razão. Este capitalismo selvagem não pode continuar desregulado e impune. Com estima e consideração

Anónimo disse...

Em primeiro lugar, pedir desculpa ao proprietário do blogue e seus leitores por ter apresentado no meu último comentário alguns erros ortográficos, em segundo lugar, para dizer ao meu grande amigo Sr. Professor Matos, que a culpa pelo estado em que o País se encontra é da única e exclusiva responsabilidade dos Partidos políticos que nos governaram nos últimos 37 anos, que foram: PS, PSD e CDS – PP.
Como cidadão anónimo, continuo a estar muito preocupado com a destruição sistemática da nossa economia, facto que está a empurrar perigosamente o País para o descalabro total.
Abraço!
Gomes

Fernando Matos Rodrigues disse...

Meu caro amigo Srº Gomes, a sua análise é honesta intelectualmente e possui a sua veracidade analitica. Sem duvida que os partidos do arco do poder não estão isentos de responsabilidades pela crise actual. Desde a adesão à Europa que fomos destruindo o sector produtivo e transformamos a nossa economia produtiva em economia de serviços. Erradamente. Agora, estamos como estamos...Abraço amigo