segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ESAP - Uma espécie de canibalismo académico

A ESAP foi sempre uma espécie de micro sociedade académica à parte do mundo do ensino superior e universitário. Uma espécie de couto artístico que de forma autónoma lá ia gerindo como queria e podia as suas funções e as suas obrigações de ensino e formação artística.

O Estado sempre foi bondoso com esta forma de ministrar a arte em doses de anarquia, de experimentalismo e de diferença. Os outros olhavam para a ESAP com diferença e distanciamento, ou porque não entendiam a sua irracionalidade poética ou não se identificavam com esta forma de estar fora do sistema do ensino superior.

Durante décadas a ESAP viveu neste sistema entrópico, onde desaguavam todas as vontades, todas as sinergias e todas as loucuras. Uma Escola que vivia somente das propinas dos seus alunos era para muitos uma loucura que não garantia futuro nem sustentabilidade. Mas, assim, continuou sem preconceitos e sem racionalidade de gestão. Ignorando os relatórios do ministério e dos seus inspectores que iam anotando a sua irracionalidade e a sua insustentabilidade.

A teimosia em continuar nesta dependência directa dos ingressos dos alunos, associada a uma certa incompetência e resignação dos seus directores, conduziu a ESAP para uma situação de irracionalidade de gestão académica e abriu espaço para o afirmar de territorialidades agressivas, com a destituição e dispensa de colegas e a promoção de outros.

Estamos no reino das clientelas, dos caciquismos em torno da luta pelos monopólios internos. Cada um luta pela sua sobrevivência e pela sua afirmação dentro da instituição. Os departamentos e as cadeiras são uma espécie de territórios contaminados pelas redes de influência de grupos que se afirmam pela conservação e ampliação das suas influências resignadas a um mundo fechado entre paredes.

 A divisão é inevitável e a resignação também o é. O medo instala-se. O medo de perder a sua cadeira, o medo de mudar de ano, o medo de não ser reconduzido, o medo de perder o seu lugar na estrutura. Tudo se processa contra a pedagogia, contra a ciência acumulada, contra a formação sustentada e qualificada.

Os alunos sentem essa mudança e esse caos pedagógico e cientifico, com a mudança de professores que durante décadas formaram com qualidade e imprimiram a sua marca na sua cadeira. Esta situação não só coloca em causa a qualidade de ensino, como é inimiga de todo um património que faz parte da marca ESAP.

Assiste-se, a uma perda de diversidade e de qualidade de ensino com a saída de professores e a uma concentração de cadeiras e áreas cientificas numa só pessoa. Casos há de professores que ministram mais do que cinco cadeiras diferentes em anos diferentes. O que coloca em causa a diversidade e a especificidade da formação académica. Engana os formandos e desvirtua a natureza do ensino que assenta na complexidade e na heterogeneidade de saberes e competências dos seus mestres.

A ESAP que foi sempre uma Escola da diferença e da diversidade cientifica e cultural, transforma-se numa instituição monótona, redutora, fechada e conservadora.

Esta ESAP representa o anacronismo de si própria, porque se fez na diferença e na procura da vanguarda. O seu passado é a negação do seu presente.

Aqui, nada se conjuga com memória, identidade e património. Estamos perante uma espécie de neurose institucional, onde o ajuste de contas e a defesa de clientelas se sobrepôs ao futuro e à valorização criativa do seu passado.

A toda esta hiper realidade soma-se a perda de alunos, o fechar de cursos que nunca tiveram relevância e sustentabilidade financeira e cientifica, o vazio nas salas de aula, o desânimo dos alunos e dos professores, a angustia dos cooperantes nas Assembleias da CESAP cada vez menos participadas e ignoradas por quase todos. As conversas silenciosas dos funcionários perante a incerteza e o desvario.

As reuniões são muitas das vezes lugares de confronto entre grupos e clientelas, ajuste de contas pelas divergências de opções e de apoios. O ensino e a formação começam a passar à margem das lutas internas pelo poder e pela sobrevivência. É o fim de um sonho de utopias mobilizadoras que durante décadas formaram, informaram e deram origem a um programa de ensino da arquitectura com dimensão social, ecológica, antropológica e filosófica.







1 comentário:

aluno(s) da esap, arquitectura disse...

Infelizmente, a inevitável verdade veio ao de cima. Verdade essa que não é escondida, nem é uma situação indoor. Não é só os alunos e (alguns) docentes da ESAP que veem a ruína perante os seus olhos. O publico em geral observa a falta de qualidade que o curso de Arquitectura está a atravessar. A arquitecta Fatima Fernandes, mais toda a sua mafia, esquece que nós os alunos somos a maior fonte de informação e publicidade para o publico exterior. Dai se reflecte a quase extinção de alunos dos três primeiros anos, mais todos os alunos que emigraram para as faups e outras escolas. Alias, num acto quase hitlerista, a mesma senhora proibiu a recolha dos dossiers e portefolios depois de avaliados aos alunos que queriam mudar através de transferencia para outras instituições. A falta de profissionalismo e qualidade em alguns docentes reflecte o futuro negro que os novos arquitectos vão ter. Como o Prof. Fernando Matos disse esses "professores" são pessoas cinzentas. Acrescento até frustradas, que levam como se de uma peste se tratasse, as frustrações dos seus gabinetes de arquitectura para o interior da instituição e pior, para as salas de aula. Esse grupinho de docentes constitui o monopólio medroso que está a conduzir a ESAP a uma incurável desgraça.
Se há solução? Não acredito e como aluno(a) de arquitectura perdi todo o orgulho em dizer que pertenço a esta instituição.