Nos últimos anos a cidade do Porto passou por um processo de
deslocação da sua vida social, económica e cultural do centro da cidade para as
periferias da sua área metropolitana, uma espécie de metropolitização do Porto.
Este fenómeno deu origem ao aparecimento de uma cidade vazia, feita de ruínas
acompanhada por uma rápida e sinistra erosão do espaço económico, residencial e
público.
Hoje, em dia, a cidade recupera dessa sinistra realidade.
Parece que o retorno à cidade é para valer. Contudo, a tematização do espaço
público, a sua especulação por metro quadrado, a procura da cidade para
negócios especulativos e imobiliários introduzem uma selectividade de contornos
assustadores. Julgamos, contudo, estarmos na presença não de uma regeneração da
cidade em prol da valorização da sua complexidade, mas perante um fenómeno de
reabilitação mimética do seu casario e de uma simulação de retorno ao espaço
público no centro da cidade.
Uma espécie de cidade da representação ao serviço de uma
economia global que maximiza os recursos arquitectónicos, a sua memória
patrimonial, a sua imagem de elevada singularidade, tudo isto bem acondicionado
numa marca turística que pretende vender um produto nas redes globais das
cidades turísticas. Mas, que não passa disso mesmo, um produto turístico que em
nada tem de significativo na valorização dos usos quotidianos das pessoas que
vivem e fazem a cidade.
As governanças locais investem milhões de euros na
reabilitação não em função da valorização económica da vida daqueles que vivem
e trabalham na cidade, mas preparando esse casco para a sua integração numa
rede especulativa de interesses financeiros que vivem das mais-valias
turísticas e imobiliárias.
Assiste-se, à implementação de um urbanismo ligth, uniforme
e sem poética de gosto globalizado, tipificado nos modelos das cidades
turísticas e globalizadas. De forma a servir de estrutura a um homem-massa,
deslocado e em transito permanente.
A cidade do Porto vai assim, criar uma nova exterioridade
urbana, ao serviço de um Homem-Massa (idola
fori), em detrimento do homem publico. O habitante das nossas ruas é assim,
um ser sem interioridade, vazio, simples, uma espécie de homem invisível que
consome o espaço público mas não o usa, não interage com ele porque ausente na
sua relação com a sua identidade. Por outro lado, o Homem das Ruas parece
conformar-se com o seu papel de actor passivo, medíocre e indiferente à vida na
cidade.
O espaço público é assim, uma espécie de multidão de
“loucos” que circula pelo espaço público, que o usa, que o consume, mas que se
recusa interagir com a sua memória, com a sua história e com a sua identidade.
Uma imensa humanidade intranquila, sem assento, sem território, que se encontra
de passagem para algum sítio, que verdadeiramente desconhece mas que já está determinado
pelo pacote turístico.
Este homem invisível
ocupa as ruas da nossa cidade, pisa as nossas praças, habita os nossos bares,
num ambiente de festa de loucos, um carnaval diário que faz da simulação e do
mimetismo um habitar transitório, próprio de um nomadismo sem gosto e sem fim.
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