quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Retorno do Espaço Público: mimetismo e simulação!


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Nos últimos anos a cidade do Porto passou por um processo de deslocação da sua vida social, económica e cultural do centro da cidade para as periferias da sua área metropolitana, uma espécie de metropolitização do Porto. Este fenómeno deu origem ao aparecimento de uma cidade vazia, feita de ruínas acompanhada por uma rápida e sinistra erosão do espaço económico, residencial e público.

Hoje, em dia, a cidade recupera dessa sinistra realidade. Parece que o retorno à cidade é para valer. Contudo, a tematização do espaço público, a sua especulação por metro quadrado, a procura da cidade para negócios especulativos e imobiliários introduzem uma selectividade de contornos assustadores. Julgamos, contudo, estarmos na presença não de uma regeneração da cidade em prol da valorização da sua complexidade, mas perante um fenómeno de reabilitação mimética do seu casario e de uma simulação de retorno ao espaço público no centro da cidade.

Uma espécie de cidade da representação ao serviço de uma economia global que maximiza os recursos arquitectónicos, a sua memória patrimonial, a sua imagem de elevada singularidade, tudo isto bem acondicionado numa marca turística que pretende vender um produto nas redes globais das cidades turísticas. Mas, que não passa disso mesmo, um produto turístico que em nada tem de significativo na valorização dos usos quotidianos das pessoas que vivem e fazem a cidade.

As governanças locais investem milhões de euros na reabilitação não em função da valorização económica da vida daqueles que vivem e trabalham na cidade, mas preparando esse casco para a sua integração numa rede especulativa de interesses financeiros que vivem das mais-valias turísticas e imobiliárias.
Assiste-se, à implementação de um urbanismo ligth, uniforme e sem poética de gosto globalizado, tipificado nos modelos das cidades turísticas e globalizadas. De forma a servir de estrutura a um homem-massa, deslocado e em transito permanente.

A cidade do Porto vai assim, criar uma nova exterioridade urbana, ao serviço de um Homem-Massa (idola fori), em detrimento do homem publico. O habitante das nossas ruas é assim, um ser sem interioridade, vazio, simples, uma espécie de homem invisível que consome o espaço público mas não o usa, não interage com ele porque ausente na sua relação com a sua identidade. Por outro lado, o Homem das Ruas parece conformar-se com o seu papel de actor passivo, medíocre e indiferente à vida na cidade.

O espaço público é assim, uma espécie de multidão de “loucos” que circula pelo espaço público, que o usa, que o consume, mas que se recusa interagir com a sua memória, com a sua história e com a sua identidade. Uma imensa humanidade intranquila, sem assento, sem território, que se encontra de passagem para algum sítio, que verdadeiramente desconhece mas que já está determinado pelo pacote turístico.
 Este homem invisível ocupa as ruas da nossa cidade, pisa as nossas praças, habita os nossos bares, num ambiente de festa de loucos, um carnaval diário que faz da simulação e do mimetismo um habitar transitório, próprio de um nomadismo sem gosto e sem fim.








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