quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A felicidade, o amor e a simplicidade das coisas belas...

O Atlântico rugia forte e tempestuoso. As barracas voavam por entre as dunas anónimas da praia.  Por entre as rochas um murmúrio dos tempos que demoram a passar, mas que passam sempre por nós, tão rápidos como as nuvens sobre a platina do mar.Do alto dos céus, um raio luminoso e flamejante, cruzava as novas memórias e levantava as velas das naus que encostadas aos muros da cerca já não navegavam por entre esses mares longínquos.

Marinheiros, pescadores, mulheres de pés descalços, moços e moças de cara azul, erguiam-se perante este raio que explodia sobre a praia e o oceano. Tudo era mágico e maravilhoso. As crianças saíram de suas barracas, brincavam com os feixes de luz que, caíam na areia e faziam círculos mágicos de cores e de movimentos luminosos. Tudo era uma sinfonia aos sentidos e ao olhar. A felicidade irradiava destes homens e mulheres, as crianças abraçavam esta luz de vida, corriam dentro dos seus canais luminosos para um tempo infinito. Infinito e cheio de graça. 

A musica do amor rebentava nesses instantes de loucura e de imprudência humana. A lua cheia apareceu também radiosa de graça. Deu as boas vindas a todos os homens de azul e de outras cores. Os sexos misturaram-se por entre as rochas, e deixavam-se embalar pela noite de luz e de cor, desaguando as suas águas nesse imenso oceano de ondas metamórficas. 

A felicidade acontecia neste pequeno espaço de areia de ondas, de água salgada...Um fazer de conta onde a vida é ser e viver ... Uma espécie de néctar divino. A felicidade é um rebentar de onda na praia contra corpos e desejos. Uma dança de gaivotas que riscam o céu com geometrias abstractas e  harmoniosas.

O amor é absoluto na sua potência relativa, quando nos damos perante o outro de quem nada sabemos de essencial, mas que nos confunde com a sua relatividade da pele, do género ou do credo. No Amor a pele, a argamassa, a estrutura de nada nos serve, mas que em tudo nos desvia do essencial do amor que é o amar sem limites e sem fronteiras. Uma espécie de cais de fronteira, que se move sem cessar, juntando as pontas da linha, as margens dos rios, as águas desavindas. O amor é esse fio que nos liga a uma vida, a uma história e a uma essência.

O mundo sofre de ausência de Amor, porque afastou as linhas, destruiu as passagens, abandonou a fronteira entre os povos e as culturas, desfez a beleza das pontes que nos ligava por entre os oceanos da diferença. A luz da beleza primitiva caminha solitária por entre as ruas, as vielas, as praças e os bairros. Despida de andores e de barcolas iluminadas.

Do outro lado da vida... Um cortejo silencioso invade as nossas praças e atira o fogo sobre os céus fazendo estalar foguetes... Por entre uma multidão ruidosa e embriagada só a luz em arco-íris solitário nos prende a esse  fio ontológico. Que é a vida de um ser...

  

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