segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Potlach Político em Baião



Ao longo destes últimos seis anos que se vive um clima de silêncio, de medo e de paz social podre na vila e concelho de Baião. A sociedade civil esta cassada da sua acção e intervenção cívica, por causa, de um poder local soft no discurso mas musculado na acção política. As mais diversas instituições estão controladas pelos homens que controlam o poder político, ou que se fazem representar em nome desse mesmo poder político partidário de discurso jovem, moderno, bem falante mas oco de acções e de programas mobilizadores da sociedade baionense para um desenvolvimento que se quer sustentado na forma e dinâmico na acção. Os únicos e escassos meios de informação são uma face escura e parda daqueles que exercem o poder de forma democrática e em nome do povo. A informação, isto é, jornais, revistas e rádios, ampliam cada vez mais e só a voz do poder e daqueles que usam esse mesmo poder. É o poder de distribuir subsídios, publicidade paga e obrigatória, dar acesso aos mimos das festas e cerimónias municipais protocolares. A propaganda mistura-se e confunde-se com a necessidade de informar os cidadãos para melhor julgar todos aqueles que exercem cargos públicos por representação, - como são todos os lugares políticos. Num concelho de matriz rural, sem grande expressão industrial, as câmaras são a grande empregadora, a grande empresa que alavanca económica e socialmente estes territórios locais.

Daí existir um certo potlach político local, de troca de dádivas e de favores entre aqueles que detêm o poder e aqueles que dependem das benesses desse mesmo poder. Este fenómeno de caciquismo político corta transversalmente toda a sociedade, enfraquecendo os mecanismos da modernização e do desenvolvimento económico, social e cultural de Baião. A sociedade local é constituída por um conjunto minoritário de segmentos sociais e económicos, entroncados ainda em velhas famílias, que influenciam ainda o poder local e determinam as decisões governativas locais, não em função do bem público mas de acordo com os interesses particulares dessas linhagens pré-modernas.

Poderíamos, de forma quase dogmática, afirmar que a teoria das dependências (Wallerstein, 1979), funciona não só para aqueles que são os nossos adversários ou inimigos mas também para os amigos do poder e da democracia em geral. Uma teoria que trata bem e compreende melhor todos os assimilados, e, todos aqueles que vivem na dependência desse mesmo poder.

No espaço local a Igreja, ancorada nas suas paróquias não vive imune a esta pressão por parte do poder político, de assimilar, de controlar e de a reduzir a um simples eco de quem governa. Quem governa nem sempre respeita o munus religioso; e também, nem sempre o munus religioso respeita o mundo da politica e da acção partidária. Sendo, algumas vezes cúmplice, parceiro, interveniente e parte activa no processo de consolidação de lideranças politicas a nível local e regional.

As elites locais são muito fragéis e pouco autónomas, pois, vivem no limite da independência, em virtude das câmaras usurparem todo o tecido social e cultural da vida local. E a partir daí, procederem a uma espécie de assassinato publico dos indesejáveis, não convidando para as suas iniciativas, não demonstrando bondade para com as instituições onde elas desempenham as suas funções ou actividades profissionais.

Desde as fundações até às Instituições de Solidariedade Social que tudo se passa mais ou menos assim, com total despudor pela cidadania e pelos valores da democracia participativa e de alternância politica.

Do outro lado, as forças políticas estão desarmadas de valores, de ideias, de programas mobilizadores para o desenvolvimento do concelho de Baião. Os partidos políticos entraram numa espécie de quaresma política, onde não se discute nem se apresentam ideias ou programas alternativos. Sem rostos e lideranças sérias e credíveis a oposição vai agoniando entre silêncios cúmplices. Enquanto o poder se apropria de tudo e de todos, rodeado por uma massa pouco critica e submissa para com um chefe jovem e vaidoso. Esquecido da verdadeira acção política que é a governação em favor da república. Governa-se para as clientelas, para o imediato, para o eleitoralismo e respectiva cacicagem, numa forma de saldar os votos que se teve em último escrutínio.

Vive-se um ambiente de total instrumentalização, de absoluta assimilação de contrários e de oposições. Mesmo dentro dos directórios partidários, com merecida excepção para o dinâmico e interventivo PCP local, nada existe de verdadeiramente alternativo e independente.

O PSD local está representado em todos os órgãos políticos da gestão local, vereação, assembleia e juntas de freguesia. Deste modo não se compreende este silêncio e esta apatia na vida publica local. Porque será que esta situação se mantém há mais de seis anos? De que tem medo o PSD? Quais os motivos deste medíocre silencio?

Estamos perante uma morte anunciada da oposição social democrata? E onde para todo aquele património que a antiga líder e presidente de câmara, Doutora Emília Silva fabricou e deixou? Esta realidade politica e pública condena a sociedade e o concelho de Baião a um triste presente e a um difícil, mesmo muito difícil Futuro. É preciso encontrar de novo o caminho, o rumo, e dar continuidade à força de mudar que a Doutora Emília Silva nos legou.

2 comentários:

oanalista disse...

Caro professor Matos, revejo-me e sou obrigado a concordar com as suas palavras. De facto a verdade é que o PSD de Baião de hoje (e de há seis anos a esta parte) não é o mesmo de outros tempos. O PS tem importante influência nas principais associações e instituições do nosso concelho. O PS goza de larga vantagem e governa (e outras vezes desgoverna) a seu belo prazer o nosso concelho, o que é facilitado pela ausência de uma oposição activa, visto que o actual PSD Baião poderia e deveria ter uma voz e uma posição mais activa na defesa dos interesses baionenses. Perante este marasmo, é natural que o PS encare a próxima eleição (e ainda faltam três anos) com bastante optimismo. Até aqui estamos inteiramente de acordo, mas deixo-lhe umas perguntas; Como militante do PSD Baião, onde é que esteve nos últimos seis anos e qual o contributo que deu para evitar a situação actual? Esta disposto a contribuir no futuro (e o futuro é agora) para inverter a actual situação?
Certamente muito mais haverá a dizer sobre a politica em Baião.
Com os melhores cumprimentos

Fernando Matos Rodrigues disse...

Caro companheiro,
A sua pergunta é pertinente e faz todo o sentido. Claro que estou disponível para servir o meu país em nome do PSD em qualquer local e em qualquer situação. Durante estes seis anos estive fora da vida activa porque aqueles que lideraram o PSD local, isto é, a sua Comissão Política afastaram-se dos valores, dos programas de desenvolvimento que a grande Presidente de Câmara Doutora Emília Silva nos legou. Depois do 25 de Abril Baião teve dois grandes presidentes de Câmara o Srº Abel Ribeiro e a Doutora Emília Silva. A Doutora Emília Silva fez uma obra de grande dimensão social, cultural e de qualificação urbana e arquitectónica do concelho de Baião. Baião deve-lhe muito, mesmo muito.
Abraço amigo