segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Baião. A Política e os Coiotes

Escrevo estas breves linhas, com um duplo sentimento em relação à vida politico partidária no concelho de Baião, mais propriamente em relação aos candidatos do PSD à Vereação e à Assembleia Municipal de Baião.

Faço-o em pleno direito de consciência cívica e política pelo facto de ser "ainda" Vice -Presidente da actual Comissão Política do PSD de Baião,  e  de ter acompanhado este processo desde o inicio até à uns meses atrás. Afastei-me deste processo quando me apercebi, que nele não havia vontade de mudar, de criar alternativa e de transformar a política no concelho. Mas, essencialmente, sentia que havia algo de perverso e de contraditório neste processo. O candidato a Presidente do PSD e atual Presidente da Comissão Política não estava interessado em afrontar interesses e políticas mas dar continuidade ao sistema e às pessoas que representam esse sistema.

A escolha destas pessoas para constituir as listas para este ato eleitoral merecem-me todas um enorme respeito como profissionais e como cidadãos. Mas, infelizmente na política já demonstraram não ter capacidades ou espaço para afrontar os poderes locais e apresentar alternativas e baterem-se por elas. Durante este último mandato estas pessoas fizeram um exercício de silêncios, de cumplicidades, de medos e de ausências nos órgãos para os quais foram eleitos na politica local e também nos Plenários do próprio PSD.

Nunca apresentaram alternativas, nunca apresentaram outras soluções para resolver os problemas do concelho e das suas populações. Nunca usaram os órgãos de comunicação locais e regionais para afrontar, para denunciar, para criticar e para apresentar outras propostas e outras estratégias.

 Durante estes anos passaram mais ou menos silenciosos dentro dos órgãos do PSD local e regional. Foram muitas e variadas as possibilidades de intervir nos plenários locais e regionais e nunca o fizeram nem nunca o promoveram. Como podem apresentar-se em nome do PSD como alternativa política ao PS local. Em nome de quê? e de quem?

Perguntam. E com razão! Mas o que fiz para evitar esta situação. Lancei candidaturas. Fiz programas. Apresentei estratégias e calendários. Discuti em lugares públicos o futuro de Baião e dos baionenses. Representei o partido na Assembleia Distrital do PSD do Distrito do Porto. Levei lá os problemas do concelho e da região do EDT (Entre Douro e Tâmega), como por exemplo: o desemprego, a falência das empresas da construção, a importância do turismo no Douro, a linha Ferroviaria do Douro, a navegação do Rio Douro e a importância dos Cais no Douro, etc. Nas Reuniões da Comissão Política apresentei as minhas propostas e ideias, defendi os meus pontos de vista. Introduzi novas ideias e novas estratégias de acção política.

Durante o processo da Reforma Administrativa das Freguesias apresentei uma proposta, discuti-a no interior do partido a nível local e regional. Fomos às freguesias apresentar a nossa proposta e escutar os residentes. Onde estavam estas gentes que aparecem agora nas listas? que fizeram pelo partido e pelo concelho? que ideias tinham para apresentar aos baionenses? Durante a discussão pública do PDM no Auditório Municipal apresentei ideias, contestei outras em nome do PSD confrontando a Câmara e os seus técnicos. Onde estavam estes candidatos? Silenciosos nas filas de trás. Calados e resignados a uma futilidade sem nexo e sem pudor. E agora apresentam-se como pessoas capazes de liderar a mudança? a reforma? com que capacidades, com que conhecimento.

Outras estavam mais preocupados em discutir e em insultar os poderes que lhes bloqueavam interesses e mais valias urbanas dos territórios familiares. A política dos interesses. Publicamos a News Letter do partido e o seu blog. Contudo nada fizeram para lhe dar continuidade. Não tiveram a capacidade de assumir um programa e uma estratégia com a sociedade local e as suas instituições.

É mais fácil fazer umas visitas patéticas, tirar umas quantas fotos e colocar no face ou na página da candidatura. Tudo tão patético e tão vazio de conteúdo e de programas. Contrariamente, tinha-mos programado a Organização de um Forum com pessoas competentes a nível local, regional e nacional  para a partir daí elaborar uma Agenda BAIÃO XXI,  para os próximos vinte anos. Nas áreas do ambiente, do planeamento, da economia, do turismo, do emprego, da coesão social, da animação cultural, da educação e saúde, agricultura e floresta.

Quem não conhece a Terra que quer governar. Não serve, mas serve-se da Terra e dos poucos cargos que a terra lhes pode dar! Ninguém pode governar aquilo que não conhece e não quer conhecer.

Apresentei ao Presidente da Comissão Política estratégias e programas alternativos, calendários e formas de programação que assentavam na racionalidade de meios e de instrumentos. Nada disso foi considerado relevante. A sua agenda era pessoal e local. O importante era a sua figura o seu hedonismo pessoal e politico. A afirmação da sua figura política no interior do PSD local e distrital. Afastamo-nos! Claro que sim!

Neste momento seria mais fácil continuar calado, afastado do processo e assistir à derrocada do PSD de Baião. O problema é que isso significa uma perda de alternativa politica e um enfraquecimento da vida autarquica em Baião.

 Assim sendo, não me posso calar e esperar pela desgraça. Sinto que o próximo resultado eleitoral vai ser muito difícil para o PSD a nível nacional e a nível local. Lamento, que não se tenha evitado esta situação em Baião.

O candidato a Presidente da Assembleia Municipal pelo PSD merece-me toda a consideração. Mas não tem perfil para estar na vida pública e na liderança política. É demasiado bondoso e comprometido com as pessoas para fazer rupturas e alavancar mudanças fortes e profundas. Não tem esse perfil. Aliás, nenhum dos candidatos tem esse perfil de liderança e de afirmação programática e política.

Meu caro Luís Sousa, lamento que o PSD tenha atingido este nível de divisão interna e se tenha afastado da população de Baião.

Claro que me podem acusar que assim estou a prejudicar a candidatura do PSD em Baião. Pode ser verdade. O que eu duvido que assim seja. Dificilmente se transformam derrotados em vencedores. Esta gente foi sempre derrotada nas urnas. O Povo de Baião não os quer lá! Ponto final...

Contudo demonstro coragem e liberdade em relação às máquinas do caciquismo partidário. Se o fizesse depois das eleições podiam-me acusar de oportunismo político. O que seria legitimo, pois não o tinha feito na hora própria. Pessoalmente seria mais fácil, mas era um ato de hipocrisia e de cinismo político. Com o qual não me identifico nem me reconheço.

Assim, demonstro que não estou dependente de nenhum "tachito" ou de nenhuma promessa de um qualquer lugar em nome da coesão e da conservação dos mesmos no poder. Pelo contrário afronto esses lugares e essa forma oportunista de estar na politica.

O que me preocupa é a qualidade de servir Baião e o seu Povo.
Nada Mais!

domingo, 4 de agosto de 2013

Política em Cenários de Papel



Portugal assiste de forma quase indiferente às lutas politicas em torno das próximas eleições autárquicas. A crise social, económica e política fazem deste momento, um acontecimento político de pouca relevância. Tirando os casos mais polémicos, de algumas candidaturas se poderem concretizar em Lisboa ou Porto, centradas nas figuras de Seara e Menezes. As candidaturas independentes marcam alguma diferença no cenário político, acima de tudo a candidatura de Rui Moreira ao Porto, apoiada pelo actual Presidente da Câmara do Porto, Rui Rio.

As outras candidaturas parecem despertar pouco interesse e pouca mobilização social. Claro que as máquinas lá vão juntando os seus peões em comícios organizados e pagos pelas estruturas partidárias, deslocando os apoiantes profissionais de comício em comício  Enchendo salas, pavilhões, auditórios, simulando entusiasmos, participação e envolvimentos por causas.

Estamos num reino da pura fantasia, do fazer de conta, nada é real e verdadeiro, a emoção e a participação são uma espécie de artimanha para iludir eleitores inseguros e pouco entusiasmados. As imagens com cenários apinhados de multidões podem fazer a diferença na hora de decidir em quem votar.Os aparelhos partidários trabalham na programação, na fantasia, dão os últimos retoques, nos mesmos figurinos. Retocando os mesmos rostos, as mesmas caras, as mesmas figuras. Aparecem estas figuras com ar sinistro,  de fatos escuros às riscas, com gravatas de um colorido pimba e um fundo forte e popular. 

As siglas desapareceram de algumas candidaturas, demonstrando que as ideologias não são importantes nem as cores partidárias. Mas puro engano. As ideologias, os partidos, as cores partidárias estão lá, ocupam e contaminam toda a máquina, que decide os nomes para as listas, os candidatos, os programas e os interesses. Ninguém acredita nesta forma de fazer política. Estamos na presença da demagogia, da ilusão, do malabarismo político, do reino das sombras e das marionetas. 

Até chegar a este ponto gastronómico. O prato político foi elaborado e programado bem no interior do ADN dos partidos políticos. As ementas foram definidas em silêncio, no meio dos aparelhos, dos grupos de influência. Com avental ou sem avental. Os cozinheiros mestres lá foram escolhendo os ingredientes, com mais ou menos sal, ou com mais ou menos pimenta. Alguns são figuras de topo, usam avental e sentam-se na grande mesa, outros são pequenos aprendizes, e servem os mestres de forma disciplinada. Outros há, que são menores em tudo, na postura pública que lhes é negada e inexistente. Outros aparecem e desaparecem de forma tão rápida que ninguém deu por eles. 

Enfim, existem ingredientes de toda a natureza, e de toda a qualidade, uns são mais produto biológico outros são mais produto tóxico.Os cenários estão quase prontos, requintados e definidos. O povo com certeza vai participar na festa, sem grande entusiasmo é verdade. Mas por força do hábito lá vai colocar a cruz em algum dos cenários de papel.

A ementa é sempre a mesma. Os ingredientes são sempre os mesmos. Os sabores continuam a ser os mesmos. As cores são sempre as mesmas. A possibilidade de intoxicação é elevada. A ementa precisa de ser reinventada, desde a mesa aos comensais.Transformando os gastrónomos em políticos de Letra Grande ao serviço da Republica. Uma mudança de regime alimentar que faça rupturas, mudanças profundas, nos gostos e nos sabores da nossa Republica.

Nas candidaturas à cidade do Porto o cenário é o mesmo e provavelmente não se vai alterar muito. Temos um presidente de Câmara que termina funções autárquicas  com o sentido do dever cumprido e com a angustia de ver o Porto, a sua cidade no limite de ser entregue ao seu maior adversário politico - Luís Filipe Menezes. De um lado o aparelho político do PSD da direcção distrital e da concelhia do Porto a apoiar e a programar a candidatura do Senhor de Gaia, do outro lado, a máquina do Dr. Rui Rio a lutar contra esta candidatura que consideram sinistra para a cidade e para o Distrito.

No fundo, estamos perante a possibilidade de dar continuidade a um mandato autárquico que valorizou a independência dos aparelhos partidários e dos lobbies da cidade, centrado durante doze anos na pessoa de Rui Rio; ou entregar o poder da cidade e do distrito a Luis Filipe Menezes, maestro de toda a máquina partidária e representante dos caciquismos e boys da distrital e concelhia do PSD. Sem esquecer claro a importante personagem desta mecânica que é o Dr Marco António Costa.

Nestas Eleições jogam-se no Porto o futuro da Renovação da Social Democracia e do PSD. Só a vitória de Rui Moreira garante ao Porto e no Porto essa possibilidade de abertura política em prol de uma renovação de quadros e de atores políticos.

Não é só o Futuro da nossa Cidade, o Porto que se encontra em disputa.É todo um complexo mundo de transformações e de possibilidades políticas que se confrontam neste território politico que é o Porto. Com a vitória de Rui Moreira é do Porto que se levantam as velas da Renovação Política e se aprofundam as novas tendências da Futura Social Democracia que se encontra manietada por um liberalismo tosco na forma e anacrónico na acção.




terça-feira, 23 de julho de 2013

Baião. Contributos para um programa político nas áreas do urbanismo, arquitectura e desenvolvimento regional


         O concelho de Baião estruturou-se, organizou-se e desenvolveu-se em torno de um território idiossincrático em termos paisagísticos, culturais e socio-económicos. Duas realidades distintas mas complementares definem e estruturam a identidade local de um povo, uma terra e de um território. Uma topografia de montanha ( confinada às serras do Marão, da Aboboreira, Matos, Valadares, etc. ), e outra ribeirinha de matriz duriense. Estas duas topografias configuram realidades económicas e culturais distintas e assimétricas no plano da centralidade concelhia. De um lado a montanha configuradora de uma ethnogénese específica, própria de comunidades que se estruturaram com base numa actividade agro-pastoril, patentes na suas actividades económicas, nos seus costumes e vivencias festivo-religiosas; do outro lado, o Vale do Ovil com as suas quintas agrícolas e os seus terrenos fundos e alagadiços e por último o reino do Douro com os seus socalcos e vinhedos. A zona do Douro tem-se desenvolvido em função da Linha do Douro e do seu canal fluvial. O turismo tem-se demonstrado uma actividade de valor acrescentado, associado à produção de vinhos de excelente qualidade e produtos agrícolas. 

É neste contexto de grande e importante diversidade paisagística, geológica, social, cultural e agrícola que vamos propor um conjunto de ideias que possam materializar um programa de desenvolvimento integrado e sustentável para o concelho de Baião. Associando ideias, estratégias, principios básicos para um programa simples mas eficaz. E desta forma potenciador de uma maior qualidade de vida, produzindo riqueza e emprego. Urgentes para melhorar a qualidade de vida e a sustentabilidade económica e social.

Assim, propomos as seguintes linhas de acção:
          

i)             Reforçar a centralidade dos núcleos estruturados sejam eles antigos e/ou novos,

ii)            Qualificar as estruturas arquitectónicas e as redes de acesso,


iii)          Valorizar o planeamento à escala local (dos pequenos núcleos edificados), como forma de evitar o despovoamento e a destruição dos mesmos, bem como a respectiva pressão nos centros urbanos do concelho, como por exemplo, Campelo, Ancede, Santa Cruz do Douro, Gove, Eiriz e Santa Marinha do Zêzere,

iv)          Densificar o tecido urbano da Vila de Baião, da Vila de Santa Marinha do Zêzere de forma a configurar uma imagem congregadora de todas  as manchas construídas e suas  pré-existências,


v)           Valorizar e potenciar os recursos locais/endógenos de forma a potenciar novas formas de habitabilidade urbana,


vi)          Definir novos paradigmas de sustentabilidade urbana e de planeamento endógeno que evitem pressões desnecessárias sobre o meio ambiente, e os recursos naturais e paisagísticos,





vii)        Estruturar de forma sustentada os núcleos urbanos locais, designados por aldeias, dotando-os de equipamentos e de melhorias tendo em conta a escala do lugar e/ou aldeia,

viii)       Propor um programa de planeamento integrado para os núcleos de montanha que sejam potenciadores de práticas económicas sustentáveis, como exemplo o eco-turismo de montanha,

ix)          Propor um programa de planeamento verde (eco-urbanismo) para os núcleos antigos e respectivas manchas de expansão urbana, de forma a evitar constrangimentos de natureza arquitectónica, urbanística e ambiental,


x)           Dotar a autarquia local de meios humanos e técnicos que possibilitem uma melhor prática do planeamento urbano e do ordenamento territorial, programação turística no contexto concelhio, regional e nacional,

xi)          Incentivar a autarquia e respectivos técnicos superiores e auxiliares para a formação continua nas áreas do planeamento e do ordenamento, valorizando os recursos endógenos,

xii)        Criação de um Gabinete Técnico de Planeamento Urbano, de Ordenamento do Território e do Ambiente Local, bem como a criação de um Departamento de Programação Turística e Cultural,


xiii)       Desenvolver uma política de publicações sobre as questões do planeamento e do ordenamento, como forma pedagógica e civica de transmitir à população local informação sobre os instrumentos de planeamento concelhio, ex. PDM(Plano Director Municipal), PU(Plano de Urbanização), PDE(Planos de Desenvolvimento Estratégico),

xiv)      Propor Planos de Ordenamento Urbano para Áreas Urbanas “Consolidadas” de acordo com a conformação estrutural e espacial – parcelamento, urbanização e edificação a partir de um modelo de participação e envolvimento com a população local,


xv)        Propor Planos de Ordenamento Urbano para Áreas Urbanas Não Consolidadas e respectivas Expansões Urbanas Existentes (Eixo Urbano Chavães - Tapada - Campelo; Eixo Urbano Gove-Ancede; entre outros);

xvi)      Propor Planos de Ordenamento Urbano, para Áreas Urbanizáveis, isto é, Expansões Urbanas Previstas nos Planos Municipais de Ordenamento,

xvii)     Estruturar, ampliar e qualificar as Zonas Industriais e de Armazenagem existentes,


xviii)     Transformar e readaptar as Áreas Industriais ou de Armazenagem propostas pelos Planos Municipais de Ordenamento do Território às novas necessidades económicas e empresariais do concelho e região,

xix)      Valorização e qualificação dos Elementos de Macroestrutura Ferroviária, isto é, modernizar a Linha do Douro até às cidades de Marco de Canavezes e do Porto, combatendo a degradação e o estado de ruína de muitas das estações; dotar algumas das Estações como por exemplo a da Pala em núcleo turístico;

xx)        Desenvolver uma política de Parques Urbanos e Ecológicos de Montanha, potenciando a criação de espaços abertos no interior da malha urbana dos núcleos consolidados (Vila de Baião, Vila de Santa Marinha do Zêzere, e Centro de Ancede), com equipamentos desportivos, de lazer ou outros,

  

1-   Propostas urbanísticas para os 4 núcleos consolidados do concelho de Baião: -Vila de Baião, Campelo,
                -Vila de Santa Marinha do Zêzere,
                -Centro de Ancede,
                -Gove-Eiriz,

                   1ª proposta: centralizar – deve-se reforçar a centralidade da vila com a criação e estruturação do espaço público, ampliando e qualificando os arruamentos, ruas, praças, jardins e pequenas alamedas com a necessária qualidade urbana e arquitectónica. Esta centralização passa obrigatóriamente pela concentração de equipamentos, redes de sistemas de equipamentos.

                   2ª proposta: densificar – a malha urbana deve ser estruturada de forma radial, capaz de produzir um todo organizado harmoniosamente, com equilibrio, com forma, com beleza e sentido urbano entre as Áreas Consolidadas e Áreas urbanas a Consolidar.


                   3ª proposta: qualificar – desenvolver um urbanismo de qualificação do espaço construído no interior destes 4 núcleos. Que passa obrigatóriamente pela definição de traçado de rua, de praça, de jardim, em função de uma imagem integradora do tecido edificado. Evitando desta forma o fragmento, o difuso e a dispersão do edificado no contexto territorial concelhio. A qualificação destas pequenas “estruturas urbanas” passa pela relação entre os componentes tradicionais que identificam o território local (monumentos, artesanato, gastronomia, paisagem, etc.) e as novas formas potenciadoras de outras modernidades tardias.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Poder E Photoshop


Na actualidade portuguesa o poder é uma espécie de mitologia sagrada, onde os rituais da imagem e da palavra substituíram o poder da palavra e a sedução do discurso. Estamos no reino da imagem, de muitas imagens ao serviço de um estilo formatado pela força das modas.

Numa sociedade onde a palavra pouco ou nada significa, a imagem é dominadora e omnipresente na vida quotidiana das pessoas. As criaturas abusam da imagem, do estilo, do poder da manipulação e do milagre do photoshop.

Já não é preciso vara de condão, nem magia, nem fadas, nem milagres. Cada um pode agora desenhar o seu destino e manipular a sua imagem. Estamos perante uma nova versão de definir destino e de projectar a imagem de si.

Criador e criativo, actor e espectador misturam-se numa simbiose diabólica que ultrapassa todos os limites da racionalidade moderna. Aqui realidade e idealidade vivem em circulos sobrepostos, sem espaço e sem memória, sem identidade e sem singularidade. Um é Outro e o Outro é Um mesmo.

Trata-se de uma imagem virtual que vive entre um 3d e o artesanal do analógico. Outra dimensão espacial e temporal onde o plano é horizontal e vertical, é circular e infinito, é real e irreal. Vivemos numa espécie de circularidade cibernética.

A política e o poder que dela imana circula nestes propósitos de identidades fragmentadas e dissonantes. O que nos levanta à partida problemas na forma e no estilo de ver e de compreender a praxis política neste mundo pós-contemporâneo ou de modernidade tardia.

A mascara do mundo clássico foi substituida pela imagem virtual do primitivismo da sociedade pós-moderna. A intoxicação social e cultural das imagens que circulam na nossa galáxia virtual conduziram a sociedade para um retorno à Caverna socrática. Estamos novamente no mundo das emoções irracionais, do sensivel e tangível. O enclausuramento da vida racional.

A vida pública assiste assim à queda do homem público e da sociedade laica e liberal. É o retorno ao mundo fechado e limitado entre linhas e paixões, entre medos e fantasias. 

O Pêndulo Político...





A actualidade política vive numa espécie de pêndulo político que balança entre duas partes da vida pública que em nada são iguais e em nada se diferenciam.

 Entre dimensões tácticas e emoções irracionais lá se vão construindo cenários e enredos cómicos, entre abordagens demasiadamente patéticas que não conduzem a sociedade para a axialidade necessária e desejada.

O frenesim, a emoção, a irracionalidade e a intriga tomaram conta da vida política nacional. Tudo se estrutura sem estrutura e sem nexo causal que lhe conceda alguma espécie de lógica neste quadro de elevado anacronismo político partidário.

A política continua emersa num enredo pouco claro, onde os actores  principais apresentam elevado valor de desgaste social e já sofrem das tensões e dos desânimos normais de uma crise que abala as estruturas psiquicas e as placas societais da dita vida normalizada. Resta-nos os cenários e os rituais da vida política, entre carrões de estado, policias de segurança, sessões informativas, momentos de espera e de silêncio entre o tudo e o nada. Que já é muita coisa!

Os Partidos Políticos encontram-se em estado de apatia, sem capacidade de resolver os problemas que irrompem no nosso dia a dia. Tudo é demasiado veloz para se poder conceptualizar e entender, os problemas sucedem-se de tal forma que não permitem uma clara objectivação e uma possível categorização. O pensamento político está a um clique de distância, sem profundidade e sem complexidade não há nenhuma arte criativa que programe Futuro e Esperança.

Esta realidade super vulcânica retira a capacidade critica ás instituições clássicas que sem tempo e sem racionalidade possível se sentem excluídas do entendimento destes problemas. O Estado da Nação é reactivo e perdeu desse modo o seu propósito principal que é Pensar e Programar Futuro.

Os Partidos sem gabinetes de estudos próprios, sem estruturas capazes de pensar e de agir perante os problemas que nos afectam ficam reféns de outras instituições e personalidades. Perdem capacidade de acção política e consequentemente a sua independência e identidade ideológica. São uma espécie de simbiose de interesses e de saberes sem configuração politica e sem identidade partidária. A relação entre a militância e as personalidades que tombam nos gabinetes ministeriais é de puro estranhamento e desconexão ideológica e social.

É urgente um retorno à vida partidária plena de acção e de pensamento. Transformar os partidos na casa da Democracia, da discussão e do aprofundamento das ideias, dos programas e das estratégias. Abandonar de vez a ideia de que os partidos são uma espécie de instrumento para o acesso ao poder e um mecanismo privilegiado para a conservação do mesmo.

A vida partidária tem de ser muito mais complexa e diversificada, criando estruturas de discussão temática, desde o ambiente, a sustentabilidade, a economia e o emprego, a cultura e a educação, a ciência e a inovação, a globalização e a universalidade. Abrindo espaços de discussão e de problematização entre os militantes, a sociedade e mais instituições.

Uma acção de abertura e de pluralismo que possibilite o aparecimento de novas ideias, novas personalidades, novos programas dentro dos valores e princípios democráticos. Deste modo será possível provocar uma espécie de curto-circuito de ideias que contamine os seus pares e leve a uma espécie de explosão cultural e civilizacional. Contaminando cidadãos para essa nova regeneração política.

Infelizmente não é ainda esta a realidade dos nossos partidos. Continuamos a ter uma visão estreita e redutora da vida e da organização dos nossos partidos. A sua existência resume-se a uma instrumentalização em função dos interesses da luta partidária, preocupados somente com as eleições e com os resultados dessas mesmas eleições. Segurando lugares e companheiros, distribuindo cargos e poderes, conservando os poderes de forma quase tribal. Inaugurando desta forma um certo primitivismo político.

Uma grande parte dos partidos não organiza de forma atempada as suas candidaturas com programas partilhados e participados com a comunidade e com a sociedade em geral. Muitos ainda não apresentaram as suas linhas programáticas para os respectivos concelhos. E muitos poucos têm gabinetes de estudos que possam fornecer elementos seguros para definir estratégias e programas.

A banalidade dos programas e a sua infantilidade são uma constante. Os slogans das candidaturas são muitas das vezes patéticos e anacrónicos. Sem valor acrescentado e sem sentido estético. Vazios de mensagens e de conteúdos pouco ou nada transmitem e pouco ou nada comprometem candidatos, partidos e eleitores.

Uma realidade que transmite a forma como se encontra a nossa vida política e como se encontra o Estado da nossa democracia.









domingo, 16 de junho de 2013


CONTRA OS INCENDIÁRIOS...A Afirmação da Dignidade do Homem num Mundo de Desigualdades

O titulo deste paper tem a origem num dos livros do sociólogo americano Richard Sennet, Respect in a Wold of Inequality, editado em N. York no ano de 2003; e das movimentações e contestações sociais que dia a dia vão acontecendo em Portugal, na Europa e no mundo em geral.

O autor faz neste livro uma análise pertinente sobre o Respeito e a falta dele ao longo destes últimos séculos, acentuando aquele período americano com a libertação dos escravos do Sul rural para as cidades do Norte. Em Portugal a conquista do Respeito tem uma longa e complexa história, que vem desde a longa idade média, que conheceu um período feudal de grande fragilidade social e de elevada dependência de muitos para alguns senhores feudais donos de castelos, coutos, Colegiada, Beetrias e Honras. Um período de longa e desumana escravatura onde a troco de segurança, abrigo e subsistência homens, mulheres e crianças resignavam à sua condição de homens livres e transformavam-se em escravos e servos de senhores muito pouco solidários com a fome e a miséria destes.

As cidades cresceram, alargaram os seus limites, derrubaram as suas muralhas, aumentaram os seus perímetros e incluíram todos aqueles que tinham de ser incluídos na sua malha urbana. A sociedade urbana ganhou escala, imagem, poder e sacrificou a harmonia perante a ganância dos agiotas que desde muito cedo viram no solo urbano uma mais valia.

O espaço urbano zonifica-se e tipificado pela segmentação social e económica, traduz-se numa força de exclusão e de estigmatização social. Nasce a cidade dual, com duas faces, uma positiva e solar e uma outra, negativa e negra onde mora a doença e a miséria moral.

A dignidade passa a ser uma coisa de classe, de origem e de poder. A falta dela é um destino, uma desgraça  que nasce com a pessoa. O nascimento é a marca de água que selecciona, que classifica que integra ou exclui. O Respeito é uma virtude demasiado inacessível para todos, só alguns eleitos conseguem atingir esse estatuto solar e esplendoroso das elites urbanas.

A falta de Respeito é uma fatalidade, que se explica numa certa biologia social que atribui aos ascendentes essa mácula, esse pecado primordial. Contestando esse Cristianismo puro que pregava a igualdade entre os homens e as mulheres face ao mesmo Deus - Yahveh!... Claro que S. Paulo, na 1ª Epistola aos Coríntios defendeu um código restrito o qual separava a homens e mulheres, mas também susteve que «os Profetas e as Profetizas habitavam o mesmo Espirito» e, nesse sentido não estão determinados pelo género sexual. 

O Cristianismo, apresenta-se assim, como uma religião libertadora e aliada de uma ética espiritual a favor dos pobres, dos doentes, dos oprimidos, dos trabalhadores e operários. Em suma, de todos aqueles cujo corpo é vulnerável. O Cristianismo coloca a sua ênfase na igualdade dos humildes e no poder da pobreza.

Em 1891 o Papa Leão XIII (1878-1902) escreve a encíclica Rerum Novarum, sobre a situação dos operários e mais tarde o Papa  Pio XI (1922-1939) fazendo o balanço dos problemas e das soluções propostas, retoma o pensamento de Leão XIII  para o actaulizar e adaptar às novas condições da vida social. Esse documento é conhecido pelo nome de Quadragesimo Anno (1931).

A seguir vêm as duas encíclicas do Papa João XXIII (1958-1963). A primeira é a Mater et Magistra, publicada em 1961, isto é, 70 anos depois da Rerun Novarum e 30 depois da Quadragesimo Anno. O tema fundamental é o mesmo das duas grandes encíclicas sociais. Só varia a acuidade e a vastidão dos problemas, dada a malha cada vez mais apertada das relações dos homens uns com os outros e a escala mundial em que essas relações se desenrolam.

Estas encíclicas papais são sem duvida documentos de um alcance social verdadeiramente revolucionário na época em que apareceram.

Hoje! 
Também são  referencias fundamentais para a construção da Humanidade num Mundo Globalizado, ao serviço da solidariedade entre os povos, do respeito no trabalho, na dignificação da pessoa na sociedade. 
Num Mundo onde a Política abandonou os pobres, os doentes, os desempregados, as crianças e os desalojados.

Os governantes deixaram de governar para as pessoas, para a sociedade dos homens e transformaram-se em aliados de um fascismo político que escraviza as pessoas em trabalhos precários sem dignidade e respeito pela pessoa. 

Humilha os trabalhadores destruindo riqueza e trabalho digno, lançando os operários e os jovens para a desumanização social da produção.

 Os governos aliados com o capitalismo financeiro lançam o caos na sociedade, destruindo os sistemas produtivos e criando uma espécie de caos que coloca em causa a harmonia social e a paz politica entre cidadãos e instituições.

Uma espécie de incendiários dos regimes democratas e das sociedades do Bem Estar Social. Esta realidade é facilmente visível no nosso país e na Europa em geral. Um Governo maldito que serve um capital corrupto e fascista.

Com o novo Papa Francisco espera-se que a Igreja se reencontre nos valores da matriz do Cristianismo original e abrace a causa dos valores sociais contra a exploração dos trabalhadores e a nova escravatura que sem pudor se afirma contra os valores do Humanismo Social e Cristão.