sábado, 27 de novembro de 2010

Política, Imagem e Sedução

Estas últimas décadas foram marcadas essencialmente pelo vazio, pela vaidade, pela mediocridade no pensamento e acção política quer nos contextos locais, regionais e nacionais. O mundo político foi-se contaminando com o mundo dos dinheiros da finança especulativa e rentista que controlou durante estes quase vinte anos a economia portuguesa, de forma directa ou indirecta. Os partidos políticos cada vez mais prisioneiros da imagem, da propaganda "à americana", de distribuição de brindes e mimos, caiêm numa séria e profunda dependência de financiamentos estranhos à vida e à transparência pública. Este fenómeno cria dependências e vícios que não favorecem a vida pública e a democracia portuguesa.

Este problema corta a vida partidária de cima a baixo e contamina mesmo a gestão e a boa "governança" a nível dos poderes locais, regionais e nacionais.

Critérios como equidade, transparência, eficiência e eficacia deixam de ser uma realidade quotidiana na nossa vida pública. Os responsáveis pela gestão e governo dos interesses da nossa rez publica, estão mais prisioneiros da sua gestão da imagem, da importância do aparecer e do marcar a agenda, do que propriamente governar, mas governar bem para o povo.

A demagogia, o populismo e o oportunismo político aparecem como regra, como norma de acção política. A forma como se seleccionam os membros para uma lista de candidatos a uma vereação de uma câmara municipal, ou como se colocam as pessoas numa lista para uma assembleia municipal é bem a prova de como os interesses alheios à gestão pública, muito condicionam e determinam a escolha desses nomes. Escolha sempre feita em nome do interesse nacional, das comunidades, dos povos, mas no fundo é esta a grande mentira, a grande aldrabice da nossa democracia. Estes nomes são escolhidos em função da posição que cada um ocupa no interior do partido; se é ou não da confiança do chefe; se a igreja local apadrinha ou nao; se faz parte daquelas instituições que controlam e condicionam o voto à hora da urna.

Como se verifica facilmente, nenhum deles é colocado na lista pelo seu mérito académico, profissional ou civico, mas pela quantidade de votos que pode angariar e se é fiel ao big men, isto é , ao Chefe.

A partir daqui, as listas ficam repletas de mediocres, de incompetentes, de vaidosos, de dependentes, de representantes do chefe em vez do Povo Soberano.

Como consequência, as oposições ficam silenciadas, deprimidas, vazias de personalidades activas e interventivas. E o poder do chefe é reforçado por este silêncio que o apoia, o segue, o imita e o venera. Os homens do poder eleitos na lista do chefe são uma espécie de caixa de ressonância, de bajulice mediocre, que num amém sem nexo e sem sentido, tudo fazem para agradar ao chefe a troco de um lugar que se quer perpetuar durante os tempos mais próximos. Porque dele depende o ganha pão, a vida fácil e ociosa da política, de governar sem responsabilidade, sem objectivos e sem ter que dar ou prestar contas à oposição que se deleita perante este leite derramado da santa corrupção.

As claques aumentam ao sabor da necessidade de o chefe ter que aumentar a sua presença e o seu poder nos contextos locais ou regionais. Equipas que prestam serviços dentro da lei, cumprindo com todos os requisitos legais, mas com fortes vínculos ao partido que governa. E de quem o Chefe depende em eleições para ganhar uma qualquer distrital perdida neste imenso Alentejo político. Estudos disto e daquilo, acessores para isto e para aquilo, ao sabor da moda e do interesse do momento.

Num dia agradamos à maquina local do partido e criamos vereadores para o ensino universitário e superior. Noutro dia, arranjamos justificação para mais um assessor na educação e na sei lá...de forma a agradar a um padre casmurro local, que decide puxar as orelhas ao Chefe no Jornal da Terra. Depois, é preciso domesticar e silenciar a oposição da terra e convida-se o chefe da máquina do partido da oposição para fazer umas obras no concelho.

Criam-se conselhos consultivos para as mulheres divorciadas, para as mulheres desempregadas, para os jovens sem emprego, e convidam-se as ditas forças vivas da terra, uma forma simpática e inteligente de os calar e de os assimilar à ordem do Chefe. Oferecem-se uns brindes, umas bengalas, umas bebidas, un artesanato,uns passeios a Fátima, os jantares no restaurante da terra.

Como podem ver, qualquer semelhança com o que se passa em Baião é pura ficção e uma absoluta mentira.

Felizmente, que na nossa Terra, nada disto se passa. Temos um poder político sério e isento e uma oposição dinâmica, independente e inteligente na programação e na acção política.

2 comentários:

oanalista disse...

Dou-lhe os parabens pela clareza com que "põe a nu" a desgovernação e caciquismo em baião. Lamentavelmente estas opiniões não chegam ao seu verdadeiro destinatario, os baionenses.

Fernando Matos Rodrigues disse...

Agradeço as suas palavras e prometo continuar.