domingo, 5 de dezembro de 2010

Política, emprego, e clientelismo

Ao olhar para o pequeno mundo da política local, o clientelismo aparece-nos como um fenómeno que tem o seu fundamento estrutural na sociedade, e está em função dos serviços realizados por uma ou mais pessoas, nas quais se deposita expectativas comuns.


O clientelismo cria também uma dialéctica entre o líder e os seus seguidores, na medida em que permite a estes ter acesso a recursos escassos de ordem económica. Deve-se realçar que estes recursos não são sempre quantificaveis nem imediatos. Estão submetidos a uma economia do dom e do contradón, isto é, do dar e do receber (Mauss,1934).

Quem dá? O quê? E a quem?

Estamos perante uma concepção mecânica do poder, em que alguém tem sempre alguma coisa para dar e para receber.Em função de algum serviço prestado a outro(Simmel,1986). No mundo da política local este fenómeno é pratica comum entre pares e entre adversários. Uma visão do poder como mecanismo de socialização, que tem como suporte uma economia de troca de favores materiais e simbólicos entre aquele que pode dar e aquele que recebe, mas também tem alguma coisa para dar, nem que seja a fidelização do seu voto para com os chamados caciques locais que servem de forma muito bondosa o líder e representante máximo da vida politica local.

Intercâmbio e clientelismo fazem parte deste sistema de autoridade politica local, cujos pilares são a dimensão simbólica e social do poder local; e a dimensão material e económica desse mesmo poder, através da sua capacidade em dispor de meios materiais facilmente distribuidos por aqueles que se submetem à sua ordem e mando.

O poder, o exercicio desse mesmo poder, pode ter uma natureza pragmática e irracional, mais orientado para a conservação do poder. Mas pode também ter uma segunda natureza, mais idealista, normativo, e direccionado para a transformação. A ideia de uma economia moral, defendida por E.P. Thompson, é aplicavel aqui, como forma de evitar o confronto entre as classes poderosas e as classes desprotegidas e

sem meios próprios. No fundo, este clientelismo com as suas trocas ou distribuição de brindes materiais e simbólicos serve como uma almofada de consolo social para com as classes desprotegidas e mais pobres da sociedade local.

É o preço razoavel para evitar a tensão social e a entropia política. Não é por acaso que este governo do Srº Socrates, tenha aumentado de forma insustentável o assistencialismo para todos em detrimento do estado social de bem-estar. Mais justo e mais solidário e socialmente mais equitativo na utilização dos recursos do Estado Português. Este assistencialismo socialista permite a este governo anestesiar diferenças, angustias e injustiças sociais.

No espaço local assiste-se à mesma política assistencialista, com a distribuição de recursos pelas instituições locais de apoio social e cultural, de forma a anestesiar descontentamentos e a promover uma massa social de homens e mulheres (jovens, adultos ou velhos) que vivem na total dependência da bondade do principe (os presidentes de Câmara). São uma espécie de bandos sem memória, sem identidade e sem referentes civicos. Funcionam mecânicamente em função das suas dependencias e fragilidades económicas e sociais.

As festas, os jogos, as mesas recheadas com pitéus, a musica, a fanfarra, tudo serve para iludir e enganar o Zé Povo!

É uma espécie de mercado local de troca de lugares por votos, por solidariedades mecânicas, que possibilitem ao Chefe consolidar o seu poder local e se possível ampliar.

As pequenas sociedades locais, ficam totalmente reféns desta gente sem moral e sem escrúpulos, impedindo que a figura da oposição funcione de forma a policiar quem governa e a apresentar ideias e programas alternativos. Mas nada disso se passa, as posições esperam que o fruto caia de maduro, o que demora muitos anos, e desta forma os territórios, as economias e as sociedades concelhias vão empobrecendo socialmente com o envelhecimento da sua população e a deslocação dos mais jovens e inteligentes para as cidades do litoral ou da Europa.

As vilas esvaziam-se de gentes, os comerciantes empobrecem, o ambiente definha e as aldeias viram a ruínas para turista ver.

Os Senhores Presidentes de Câmara apoiados por um sem número de dependentes que o seguem e que dele dependem, falam com a sua voz, respiram o mesmo ar, comprometem-se com a cacicagem e governam ao faz de conta. Temos, assim, um conjunto de instituições locais governadas por uma mediocridade instalada, muito disciplinada, que passa horas e horas no faceboock, no messenger, nos jogos na net, ocupando espaço e a cumprir religiosamente com o seu horário de pequeno e bem comportado funcionário público. Uma massa sem voz publica, sem intervenção civica digna desse nome, mas muito ousada nas artes da intriga, da maledicência, da inveja social. Armas sofisticadas na e para a conservação dos tachos que ocupam nas pequenas chefias locais. Uma gente sem cultura, sem informação, um grupo parado e imobilizado pela ignorância, habilitados para a luta de lugares e para a troca de favores e de brindes em troca de umas pequenas coisas.

Uma espécie de mercado local, de trocas, regulado pelos interesses da conservação dos poderes locais. Um jogo muito complexo e demasiado sério. Dele dependem lugares de chefia, empregos, assessoria, mimos e brindes, trabalho e obras bem pagas, estar incluído no grupo do poder,...Enfim, um mercado ruralizado, desprovido de anonimato, de grande proximidade das pessoas. Onde toda a gente sabe quem ganha o quê?; e o seu porquê? Um espaço de transacções às claras, mas como se tudo se passasse de forma silenciosa e escondida.

Cada espaço politico local tem os seus clientes e a quem o representante máximo deve satisfazer as suas necessidades. Daí dizer-se, fulano tal, foi para assessor do Senhor Presidente, mas coitado ele até trabalhou imenso na campanha que deu a vitória ao senhor presidente. Outros casos, olha aquele que tão mal falava do Srº Presidente nos cafés, nas ruas, foi promovido...já esta na Câmara. Que rico tacho...Faz o mesmo, fala mal do Srº Presidente. Mas cuidado, o tipo é uma vibora. O Presidente ainda vai provar do seu veneno.

E muitas e muitas estórias aqui se podiam narrar. Mas o essencial da coisa é a promiscuidade social e a ausência de uma massa critica nos concelhos que nos preocupa. Sem eles o nosso povo continua ausente de desenvolvimento e a economia não cresce e o emprego é um bem social muito raro.


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