segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Queda de um Anjo



A vida pública portuguesa esta contaminada com produtos tóxicos, aliás, demasiadamente tóxicos. São eles que detêm o poder de decidir e de governar desde a esfera nacional até à esfera local. Uma gente ávida de ter, de possuir, de mandar. Uma espécie de cidadãos menores, que olham para o Estado como uma grande oportunidade de subir na vida e na sociedade em geral. Indivíduos que utilizam o Estado e as suas benesses como uma ferramenta que os habilite a conservar e a amplificar os seus poderes e patrimónios familiares. Veja-se por exemplo, a não taxação dos terrenos em zonas de expansão urbana, verdadeiros oásis financeiros para os rentistas e grandes proprietários que não disponibilizam e não libertam os solos, contribuindo para uma especulação dos solos em espaços rurais e ou periféricos às vilas e cidades.


Os políticos, alguns políticos muito têm contribuido para este agravar de situações, mantendo este tipo de problemas, e tirando deles o proveito necessário ao seu sucesso politico. Em contrapartida, assiste-se, a uma perda de densidade e de compacticidade das vilas e cidades, com a fuga para outros núcleos mais afastados da city ou do casco velho das vilas.


Esta situação dá origem ao aparecimento de outro tipo de construções e aglomerados urbanos, dispersos, de baixa densidade, com custos muito elevados na infra-estruturação e na mobilidade. Custos sociais, ambientais e económicos de dimensão que ultrapassa a capacidade de gestão destes pequenos governos locais, dependentes dos financiamentos exógenos (Estado Central e Europa). Vive-se numa ilusão social e económica, parece que o dinheiro vem sempre de algum lado, que alguém tem uma varinha mágica capaz de resolver sempre a falta dos euros.


Deste modo, estes políticos sem estrutura e sem responsabilidade politica foram assumindo compromissos, contratos de forma a financiar vaidades, consumo inútil, gastos efémeros em assessoria, em criadagem inutil, que foram acumulando em gabinetes cada vez mais pequenos e exíguos para dar "repasto" a tanto e a tanta inutilidade de funcionários políticos que o único mérito que se lhes conhece é fazerem parte do grupito do Chefe.

As nossas Câmaras ficaram repletas de criadagem "inutil" sem funções determinadas, sem objectivos a atingir, a não ser servir os interesses do chefe e do aparelho na conservação e na manutenção desse poder.
 Existem situações de completa assimilação da gestão autárquica pelo aparelho partidário, isto é, aqueles que durante tanto tempo controlaram a máquina partidária a nível local, são agora funcionários e técnicos ciosos do seu labor nas ditas câmaras.
Foram anos e anos de despesismo, de dinheiros gastos em festas, em jantaradas, em comemorações sem nexo social e sem interesse algum para o desenvolvimento das populações. Desfiles e protocolos, mesas com comes e bebes, muita gente a assistir, debates e sessões de esclarecimento, que mais parecem regimentos dependentes das benesses do poder e do seu chefe. Gentes com forte dependência dos poderes locais, e perante as quais se curvam de forma inglória e sem honra.

Um punhado de homens e de mulheres que sistematicamente vão mudando de partido, consoante a mudança da cor partidária do aparelho político que governa a respectiva Câmara. Durante os governos Sociais Democratas, são Sociais Democratas convictos, militam nesse partido, organizam campanhas, atacam os adversários, fazem parte das respectivas Comissões Políticas, e bajulam o Chefe de forma submissa e bastante disciplinada. Mas, quando o Chefe perde o Poder e se retira dos holofotes da vida politica, esquecem o Chefe, ignoram a sua existência, praticam uma espécie de assassinato da memória dessa personalidade, e começam a bajular o novo chefe. Passados alguns meses, fazem já parte da sua comitiva, da sua gente, e alguns até mudam de militância e vão ocupar cargos politico-partidários no partido que governa.

Não nos podemos esquecer de vereadores que pediram o seu estatuto de independentes para servir outro dono e outros sentidos ideológicos, de forma a manter intactos os seus interesses económicos ou dos seus familiares.

Mas também existem casos de militantes que continuam a militar no PSD e são todos colaboracionistas com o poder municipal do PS. Situação que demonstra uma total falta de dignidade humana e cívica para com a transparência democrática e dos valores da nossa República.

Sem esquecer alguns eleitos nas listas do PSD que se refugiaram numa espécie de limbo politico, de silêncios comprometedores, ausentes de qualquer luta partidária, de qualquer alternativa politica local ao partido socialista que governa.

O concelho de Baião está fortemente penalizado por uma massa de políticos que não servem o concelho, de forma a potenciar novos programas de desenvolvimento integrado capazes de mobilizar a sociedade e a economia para um progresso que a todos diz respeito. Faltam programas, faltam estratégias, faltam vontades, faltam alternativas.

O poder local está sem energia. A desilusão é grande e a frustração é inevitável. A Queda do Anjo está eminente.


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