sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

De Skate no Reino da Estupidez...

Estamos a poucos horas e a uns tantos minutos do fim deste Ano de 2010. Brevemente estaremos no Ano 2011. E pouco ou nada mudou ou se alterou neste Reino da Estupidez, como escrevia Jorge de Sena em meados do século XX.

O país continua a ser governado pelos mesmos homens e mulheres, que de forma burocrática vão falando e representando um Estado, cada vez menos independente e autónomo. O povo atarefado com as rabanadas, com a letria, os doces para a quadra festiva, ignora a vida pública e deixa passar ao lado os muito graves problemas do nosso país. Para eles pouco ou nada diz, se a divida pública portuguesa já ultrapassou há muito a meta dos 60% e se situa em 2010 em 77%. Simultâneamente, a dívida externa portuguesa ( a das administrações públicas, mais a das empresas estatais e locais, mais a das famílias, empresas privadas e bancos) atinge o patamar dos 233% do PIB (Produto Interno Bruto), o que não deixa de ser calamitoso para um país pobre e com previsão de débil crescimento económico nos próximos anos (Carlos Moreno, 2010:26 e ss.).

Falar em PEC, isto é, em Pacto de Estabilidade e de Crescimento nada diz e nada representa para um povo dócil, irresponsável e ignorante, que olha para a política numa espécie de instrumento de "distribuição de tetas", de lugares bem pagos, de tachos para amigos e clientelas. A sociedade civil em Portugal é uma ave rara e em vias de extinção, que luta de forma muito complexa para sobreviver num país onde toda a gente gosta de viver debaixo da protecção de um Estado bondoso mas essencialmente irresponsável e negligente na forma e na acção.

Pulido Valente na sua Crónica do Jornal Público, escreve não me lembro de um começo de ano tão perigoso como o de 2011. Não há precedentes para a ruína do país que se anuncia cada vez mais certa (2010, fol.36).Nesta sua forma dura e quase radical de chamar a atenção para os problemas do país, o cronista e historiador tem a sua razão. O que nos coloca perante um jogo de espelhos, com muitas imagens, todas elas fragmentadas e transparentes. Uma espécie de ilusão perante o mundo e o nosso pequeno mundo - Portugal.

Desde o espaço local, matriz política de pequenos reinos, liderados por um sistema de presidencialismo retórico e demagógico, assente na partilha e na cumplicidade, de troca de mimos e favores entre governantes e governados.Onde a vida pública e civil é uma espécie de antecâmara do poder institucionalizado pelo voto em eleições locais que assentam numa espécie de economia de trocas (Maurice Godelier, 1976).

O Poder Nacional, Lisboeta, para uns, centralista para todos, é o lugar por excelência da luta política pela conservação e ampliação de poderes objectivados uns, difusos outros. Um poder centrado na bondade do príncipe, um primeiro-ministro, que comanda e decide, nomeia e despromove, persegue e gratifica. Este poder é arbitrário e pouco complacente para com os adversários e para com a sociedade civil. Tudo que é espaço público informal e espontâneo transforma-se em inimigo e adversário do seu reino e poder iluminado.

Neste final de ano as coisas continuam na mesma em "Casa de Mafalda". Os governos fazem de conta que são governos. Os Estados fazem de conta que são estados. O País faz de conta que é rico e progressista. As pessoas compram doces e guloseimas, preparam os fatos a preceito para a grande noite. As crianças jogam no computador e gozam as ultimas maravilhas do mundo virtual e projectam sonhos em bites. Os bebés já não vêm de Paris no bico da cegonha. O Pai Natal abandonou há muito o trenó e anda de mercedes benz pelas avenidas de Las Vegas. Os avós trocaram o pé-de-meia pelo jogo no casino e noites de fantasia eróticas em Boates para a terceira idade.

Em princípio o País, a que chamam de Portugal deve continuar localizado na parte mais ocidental da Península Ibérica e o Fundo Monetário Internacional, concerteza que respeitará a nossa identidade atlântica e a nossa vocação para o desgoverno.

ANO DE 2020 e esta merda continua na mesma.

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