sábado, 5 de outubro de 2013

ÉTICA E CONDIÇÃO POLÍTICA: Homens de Outros Homens!

Os resultados eleitorais do dia 30 de Setembro de 2013 marcam uma nova fase na vida pública portuguesa. Os tradicionais caciques por via da lei de limitação de mandatos ou pela via da expressão do voto popular foram remetidos para uma espécie de limbo politico. De realçar também a forma como foram penalizados os directórios partidários a nível local e regional, pelas escolhas dos seus candidatos dentro das redes dos seus interesses e fiéis companheiros.

Aquele que nos merece mais atenção é o caso da Distrital do Porto, que por insistir nos mesmos amigos e representantes das linhas do aparelho foram severamente penalizados. Destacamos a derrota esmagadora que teve o Presidente da Distrital do Porto Virgílio Macedo, digno representante do Dr Marco António Costa na Distrital. E o seu companheiro da concelhia do Porto, Ricardo Almeida. Claro que a estes derrotados temos que associar o lider do PSD Nacional Passos Coelho.

Num contexto de crise social económica o PSD de Passos Coelho e de Marco António juntaram-lhe a crise política. O PSD tem sido um partido governado na base das clientelas que se acantonaram nos aparelhos locais, regionais e nacionais e que levaram o Dr Passos Coelho até à liderança e da liderança a Primeiro Ministro de Portugal.

Qualquer militante activo do PSD distrital e local sabia que o caminho traçado por esta liderança estreita, redutora e acritica só conduziria o PSD a um isolamento social e a uma derrota que já estava anunciada. O PSD sempre demonstrou pouca capacidade critica para compreender as mudanças sociais que se estavam a processar na rua, no trabalho, na escola, na empresa, na familia e na política. O PSD refugiou-se nos seus interesses e lutas internas, isolou-se nas festas e jantaradas, nos orgãos que deram cobertura aos amiguinhos sem relevância intelectual e profissional.

Quem assistia às Assembleias Distritais e ouvia aquela gente a falar, com pose de estadista, de onde nada saía a não ser vaidade e vazio. Acreditem que era um terror, olhar para aquelas mesas e ver aquela gente feia, ignorante, sem nervo, sem valor e sem relevância cultural, politica e intelectual nos contextos locais e regionais.Falavam ninguém sabe do quê e para quê? Com sobranceria, arrogância e sem respeito por aqueles que levantavam duvidas e apontavam outras saídas.

O importante para aquelas criaturinhas era a pose para a fotografia no face da página da Distrital. Nada mais os motivava a não ser conservar o lugar na mesa e afastar a concorrência. O Presidente nunca fez um discurso de valor, de relevância para o distrito ou para a região norte. Foi sempre uma espécie de queixinhas da política em relação aos poderes centrais que não lhe davam a minima atenção às suas preocupações. Contudo, lá se iam distribuindo lugares e uns tachitos pelos fiéis companheiros da rede clientelar.

Existe uma espécie de silêncio cúmplice entre estes aparelhos, estas clientelas que de forma disciplinada ocupam os lugares de direcção partidária e consequentemente distribuem os lugares de representação e de governação pelos seus eleitos. Esta situação coloca em causa qualquer tipo de mudança e de transformação positiva dos partidos internamente, e agrava a qualidade da governação. São os mais dependentes e os mais incompetentes que se sujeitam a uma disciplina e a uma corrente de comando. Homens e mulheres sem alma, sem identidade social, sem independência económica e profissional que ficam reféns destes caciques locais, regionais e nacionais.

A partir dos directórios regionais distribuem-se os lugares das chefias administrativas do Estado ( Institutos do Estado, Agências, Direcções Regionais, Departamentos, etc.) levando a uma feudalização da política partidária.Contribuindo também para uma verticalidade de dependências entre aqueles que mandam e aqueles que obedecem.

Ao longo destes últimos anos, foram-se construindo laços de dependência entre as classes políticas, com o aparecimento de «homens de outros homens», num grau inferior em relação aos chefes e aos padrinhos das cliques.Estas relações de dependência encontraram o seu fundamento na necessidade de ganhar poder interno às chefias dos partidos e na capacidade de controlar a distribuição dos lugares nas estruturas da administração do estado ou das empresas controladas pelo mesmo Estado.

Estes «Homens de outros homens» oriundos do aparelho partidário das «jotas» e das estruturas locais das periferias das cidades, com alguma formação superior nas áreas do Direito, do Ensino, da Gestão, da Saúde e dos Serviços geralmente em Universidades Privadas, são sem duvida a base de suporte destes caudilhos regionais que influenciam e determinam a política nacional.

Entre eles foi-se construindo um conjunto de códigos de identificação, o serem oriundos das jotas partidárias, baptismo que lhes garante um lugar de destaque nas listas e no acesso aos cargos disponíveis. Por outro lado, estes «homens de outros homens» são obrigados a uma espécie de juramento de compromisso e de fidelidade ao chefe.

Legitimam a autoridade do chefe com a sua presença nos órgãos e na defesa dos interesses do chefe, bem como lhes cumpre a tarefa de afastar outros concorrentes da zona de acesso ao poder. São uma espécie de «caes de fila», agressivos, cinicos, impostores, mal educados, sem nenhum tipo de respeito por aqueles que os rodeiam e não pertencem ao grupo. Não toleram a diferença nem a alternativa.

No PSD Distrital esta realidade foi bem a marca da direcção do actual Presidente da Distrital, que é uma espécie de sargento-mor do Dr Marco António Costa e seus companheiros. Estamos perante uma linhagem de senhores da política regional que entre si, trocam os poderes e definem os compromissos necessários e possíveis no jogo da política dos interesses.

Temos num escalão mais alto os Chefes e num escalão mais baixos os que fazem a intermediação entre os que mandam e os que obedecem. Toda esta tribo se organiza em torno de secções locais do PSD -, uma espécie de torres de reserva de poder a partir da qual dominam os poderes regionais e nacionais. Nestas secções vamos encontrar uma espécie de «tiranetes de secção» que são comandados pelo sargento-mór que preside na distrital em nome daqueles que o lá colocaram.

Assim, se vão construindo as fidelidades políticas e assim se vai contaminando a vida publica com figuras menores, incompetentes e anti-democráticas. Como contrapartida estes «homens de outros homens» ocupam os lugares da administração pública local, regional e em alguns casos são eleitos como deputados da nação.

No caso concreto do PSD distrital do Porto a lista para deputados das últimas eleições é um documento precioso destas dependências e fidelidades entre aqueles que mandam e aqueles que obedecem.

É uma espécie de parentela política que troca entre si favores e lugares. Contamina a sociedade portuguesa e intoxica o Estado com gente sem valor e sem relevância de qualquer natureza.


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