domingo, 4 de agosto de 2013

Política em Cenários de Papel



Portugal assiste de forma quase indiferente às lutas politicas em torno das próximas eleições autárquicas. A crise social, económica e política fazem deste momento, um acontecimento político de pouca relevância. Tirando os casos mais polémicos, de algumas candidaturas se poderem concretizar em Lisboa ou Porto, centradas nas figuras de Seara e Menezes. As candidaturas independentes marcam alguma diferença no cenário político, acima de tudo a candidatura de Rui Moreira ao Porto, apoiada pelo actual Presidente da Câmara do Porto, Rui Rio.

As outras candidaturas parecem despertar pouco interesse e pouca mobilização social. Claro que as máquinas lá vão juntando os seus peões em comícios organizados e pagos pelas estruturas partidárias, deslocando os apoiantes profissionais de comício em comício  Enchendo salas, pavilhões, auditórios, simulando entusiasmos, participação e envolvimentos por causas.

Estamos num reino da pura fantasia, do fazer de conta, nada é real e verdadeiro, a emoção e a participação são uma espécie de artimanha para iludir eleitores inseguros e pouco entusiasmados. As imagens com cenários apinhados de multidões podem fazer a diferença na hora de decidir em quem votar.Os aparelhos partidários trabalham na programação, na fantasia, dão os últimos retoques, nos mesmos figurinos. Retocando os mesmos rostos, as mesmas caras, as mesmas figuras. Aparecem estas figuras com ar sinistro,  de fatos escuros às riscas, com gravatas de um colorido pimba e um fundo forte e popular. 

As siglas desapareceram de algumas candidaturas, demonstrando que as ideologias não são importantes nem as cores partidárias. Mas puro engano. As ideologias, os partidos, as cores partidárias estão lá, ocupam e contaminam toda a máquina, que decide os nomes para as listas, os candidatos, os programas e os interesses. Ninguém acredita nesta forma de fazer política. Estamos na presença da demagogia, da ilusão, do malabarismo político, do reino das sombras e das marionetas. 

Até chegar a este ponto gastronómico. O prato político foi elaborado e programado bem no interior do ADN dos partidos políticos. As ementas foram definidas em silêncio, no meio dos aparelhos, dos grupos de influência. Com avental ou sem avental. Os cozinheiros mestres lá foram escolhendo os ingredientes, com mais ou menos sal, ou com mais ou menos pimenta. Alguns são figuras de topo, usam avental e sentam-se na grande mesa, outros são pequenos aprendizes, e servem os mestres de forma disciplinada. Outros há, que são menores em tudo, na postura pública que lhes é negada e inexistente. Outros aparecem e desaparecem de forma tão rápida que ninguém deu por eles. 

Enfim, existem ingredientes de toda a natureza, e de toda a qualidade, uns são mais produto biológico outros são mais produto tóxico.Os cenários estão quase prontos, requintados e definidos. O povo com certeza vai participar na festa, sem grande entusiasmo é verdade. Mas por força do hábito lá vai colocar a cruz em algum dos cenários de papel.

A ementa é sempre a mesma. Os ingredientes são sempre os mesmos. Os sabores continuam a ser os mesmos. As cores são sempre as mesmas. A possibilidade de intoxicação é elevada. A ementa precisa de ser reinventada, desde a mesa aos comensais.Transformando os gastrónomos em políticos de Letra Grande ao serviço da Republica. Uma mudança de regime alimentar que faça rupturas, mudanças profundas, nos gostos e nos sabores da nossa Republica.

Nas candidaturas à cidade do Porto o cenário é o mesmo e provavelmente não se vai alterar muito. Temos um presidente de Câmara que termina funções autárquicas  com o sentido do dever cumprido e com a angustia de ver o Porto, a sua cidade no limite de ser entregue ao seu maior adversário politico - Luís Filipe Menezes. De um lado o aparelho político do PSD da direcção distrital e da concelhia do Porto a apoiar e a programar a candidatura do Senhor de Gaia, do outro lado, a máquina do Dr. Rui Rio a lutar contra esta candidatura que consideram sinistra para a cidade e para o Distrito.

No fundo, estamos perante a possibilidade de dar continuidade a um mandato autárquico que valorizou a independência dos aparelhos partidários e dos lobbies da cidade, centrado durante doze anos na pessoa de Rui Rio; ou entregar o poder da cidade e do distrito a Luis Filipe Menezes, maestro de toda a máquina partidária e representante dos caciquismos e boys da distrital e concelhia do PSD. Sem esquecer claro a importante personagem desta mecânica que é o Dr Marco António Costa.

Nestas Eleições jogam-se no Porto o futuro da Renovação da Social Democracia e do PSD. Só a vitória de Rui Moreira garante ao Porto e no Porto essa possibilidade de abertura política em prol de uma renovação de quadros e de atores políticos.

Não é só o Futuro da nossa Cidade, o Porto que se encontra em disputa.É todo um complexo mundo de transformações e de possibilidades políticas que se confrontam neste território politico que é o Porto. Com a vitória de Rui Moreira é do Porto que se levantam as velas da Renovação Política e se aprofundam as novas tendências da Futura Social Democracia que se encontra manietada por um liberalismo tosco na forma e anacrónico na acção.




6 comentários:

Unknown disse...

"(...)as máquinas lá vão juntando os seus peões em comícios organizados e pagos pelas estruturas partidárias, deslocando os apoiantes profissionais de comício em comício Enchendo salas, pavilhões, auditórios, simulando entusiasmos, participação e envolvimentos por causas." JÁ NÃO É NOVIDADE

"As siglas desapareceram de algumas candidaturas, demonstrando que as ideologias não são importantes nem as cores partidárias. Mas puro engano. As ideologias, os partidos, as cores partidárias estão lá, ocupam e contaminam toda a máquina, que decide os nomes para as listas, os candidatos, os programas e os interesses. Ninguém acredita nesta forma de fazer política." MARKETING POLÍTICO.


"Até chegar a este ponto gastronómico. O prato político foi elaborado e programado bem no interior do ADN dos partidos políticos. As ementas foram definidas em silêncio, no meio dos aparelhos, dos grupos de influência. Com avental ou sem avental. Os cozinheiros mestres lá foram escolhendo os ingredientes, com mais ou menos sal, ou com mais ou menos pimenta. Alguns são figuras de topo, usam avental e sentam-se na grande mesa, outros são pequenos aprendizes, e servem os mestres de forma disciplinada." DE REPENTE FIQUEM SEM APETITE

"Estamos na presença da demagogia, da ilusão, do malabarismo político, do reino das sombras e das marionetas." = "CUIDADO estamos na presença (...) das marionetas." NÃO PODIA ESTAR MAIS CERTO ! Obrigada Professor !

Fernando Matos Rodrigues disse...

Estive a ver as listas às Câmaras de Baião e de Arouca. E tudo na mesma. Os dois primeiros candidatos à Vereação nas listas do PSD já o foram e têm sido sempre candidatos. Até aqui nada de novo. Os mesmos. Aliás, mais do mesmo. Optou-se pelo aparelho pós-Emilia Silva. Uma gente pequena que ela acolheu nas suas listas nós últimos lugares e pelo vazio chegaram à liderança sem mérito e sem valor. Em Arouca também mais do mesmo. Tirando o meu amigo José Luís Alves os restantes é gente menor e que se repete de forma sistemática e que não têm aceitação do eleitorado. Nem mais, é a vidinha partidária no seu pior...

Fernando Matos Rodrigues disse...

Obrigada pelo comentário Ana Catarina. Infelizmente, a política está doente no nosso país. A democracia está manietada pelos interesses e pelos lobbies económicos e financeiros. Tudo se move em função dos interesses. Desta forma, elaboram-se as listas fora dos orgãos e não se comunica nada para se afastarem os mais válidos e os mais independentes.
Abraço amigo

Anónimo disse...

Caro Amigo Sr. Professor Matos,
Com toda a estima e consideração, envio – lhe uma abraço amigo, extensivo a toda a sua família.
Aproveito uma vez mais para lhe dizer que essa ideia repetitiva que o amigo evoca para meter os partidos todos no mesmo cesto é falsa e altamente perigosa. Eu já tive oportunidade de lhe dizer olhos nos olhos, de que o PCP faz toda a diferença. Aliás, o meu caro amigo tem aí um exemplo muito concreto na vereação da Câmara Municipal do Porto onde o único vereador do PCP e da CDU faz toda a diferença das restantes forças politicas representadas em tal órgão colegial: É mentira Sr. Professor?
Quanto às candidaturas ditas independentes, ditas de cidadãos livres de dizer o que pensam como Sr. afirma, essas sim, a mim e amilhares de cidadãos deste nosso cantinho Português é que não convencem.
Toda a gente sabe, que as chamas candidaturas independentes (salvo raras e honrosas expões) provêm de cidadãos conotados com os partidos de direita e do dito PS, e ex. militantes dos partidos anteriormente referidos, os exemplos desta realidade abundam um pouco por todo o País.
Portanto, esse slogan de que tais candidaturas não têm nada a ver com os partidos políticos é mais uma forma de lançar areias aos olhos dos incautos.
Sr. Professor;
De uma vez por todas acabe lá com essa ideia de meter toda a gente no mesmo saco. Eu compreendo a sua frustração e a justa revolta que sente perante esta desgraçada política que esta a levar o País para o abismo total, mas tenha a coragem e o bom senso de responsabilizar quem deve ser responsabilizado pela catástrofe eminente do Pais: PS/PSD com o CDS atrelado os tais que se intitulam de democratas cristãos, que de cristianismo não têm rigorosamente nada!
Gomes

Fernando Matos Rodrigues disse...

Caro amigo,
claro que tem alguma razão no que afirma. Mas o meu texto pretende questionar o que se passa na actualidade, sem esquecer a genealogia das causas. Evidentemente, que o PS, o PSD e o CDS são os principais autores desta desgraça. Mas não podemos ficar só pela sua identificação. É preciso implementar mudanças de sistema e de actores políticos.
Abraço

Anónimo disse...

Caro amigo Sr. Professor Matos Rodrigues,
Uma vez mais receba um abraço amigo e cincero.
se há nececidade de mudar de actores políticos penso que sim, nomeadamente afastar do poder o mais rápido possivel aqueles que nos governaram e vogenam a mais de três decadas e meia que estão a lançar o cãos total no nosso país.
Ainda muito recentemente alguma comunicação sociaL lançou para a opinião publica a ideia de que o desmprego em Portugal estáva a deminuir. Ao ouvir tal notícia muito sinceramente deu -me vontade em dar uma valente gargalhada. Só não a dei, porque estou altamente preocupado com o rumo que este nosso Portugal está a levar.
Todos os dias somos confrontados com encerramento de empresas, pessoas a viverem em extrema pobreza, como é possivel que se venha lançar a ideia para a opinião publica que o desemprego está a descer?
Ainda à poucos dias fui confrontado em plena Vila de Baião com mais um dos muitos casos que me vão relatando sobre esta praga social do desmprego.
Algúem quase com as lágrimas nos olhos fazia o segunte comentário:
acabouse -me o desmprego, estou doente e necessito de compar alguma medicação para combater o mal que me atormenta, se já tenho dificulades na alimentação, comprar os medicamentos nem pensar!
São estas situações que me deixam pelos cabelos, a política espectáculo que continua à grande e à francesa neste Municipio fica para aqueles que são especialistas em tal matéria.
Gomes