segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Que se lixe a Troika


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Esta última manifestação Que se Lixe a Troika trouxe ao de cima vários dos seus problemas na incapacidade de liderar uma alternativa social. Ficou claro que este "movimento" que aparecia como não tendo uma agenda política na realidade a ausência de uma agenda política é ela mesma a Agenda que não se quer objectivar e evidenciar.

Estes jovens que aparecem associados a este movimento trazem colados ao seu imaginário uma praxis de luta política que se identifica mais com a esquerda contestatária e de rua, do que propriamente um movimento natural que emerge por consequência de uma alternativa aos partidos que se encontram fora do arco governativo.

Este Movimento não pretende ser um espaço de emergência de novos lideres e novas alternativas à arquitectura política actual, mas funcionar como elemento de choque entre a rua e as instituições democráticas. Não se assumiu nem se assume como um movimento com uma agenda e com um programa próprio, mas como uma força pura de contestação social. Esta tentativa imaculada de lutar na rua coloca-nos algumas dúvidas e remete-nos para outros campos da antropologia do poder e dos poderes. Nem tudo aquilo, que diz que é, pode vir a ser. Esta tão divulgada inocência de que não queremos ser um outro poder, que não queremos ser a emergência de outro poder. Demonstra um certo cinismo e hipocrisia política.

A organização mobiliza-se em função de uma agenda social e política, apelando aos portugueses para se manifestarem na rua contra as políticas que são consequência do compromisso com a troika. Até aí tudo bem, o problema é que toda a manifestação política tem um fim social e político concreto. Derrubar o governo e consequentemente mudar de políticas.

Nada disto está objectivamente neste Movimento. Não passa por aqui a necessidade de criar uma alternativa aos actuais partidos políticos. Este Movimento emerge dos silêncios e das cumplicidades
de uma esquerda contestatária e libertária que numa espécie de anarquismo pós-moderno faz da partiipação e da mobilização uma arte performativa.

Esta situação conduz a sociedade actual para uma espécie de limbo político e social, onde a ausência de alternativas e a incapacidade de se criarem lideranças levará para uma situação de conflito armado entre o poder e os cidadãos. E aí, sim, estaremos perante o conflito e a destruição. As ruas apinhadas de multidões silenciosas vão dar lugar à violência e à entropia. O caos social  e a desordem tomaram conta das nossas cidades, das nossas ruas, das nossas escolas.

Aliás, sobre esta tendência a Igreja Católica tem tido uma atitude de muita cautela e sensibilidade. Se por um lado, alguns dos seus máximos representantes criticam a situação actual, porque nela não existe equidade e coesão social, por outro lá vão resfriando os ânimos da população.

A situação está no limite. Um governo que não é tolerante e democrático na forma e no estilo. Que agrava as desigualdades sociais. Que coloca em confronto gerações. Que estimula o ódio entre o publico e o privado. Que esmaga a classe média com impostos e taxas injustas e fora da lei.

Um Presidente da Republica que não existe e não está preparado para liderar um Povo em situaçao de colapso social e económico. Um Presidente que não representa o Povo e a Nação. Que não pode saír à rua. É um Presidente sem função, sem mandato e sem relevãncia.

O Presidente da Republica é inútil e caro à Republica.Reparem que à distancia de quase dois anos a nação já discute a mudança de Presidente. Este é mesmo inútil...

Claro que não está em causa a capacidade e a bondade dos organizadores deste tipo de manifestações. Que sem as máquinas dos partidos e sem o apoio dos media conseguem montar uma estrutura que conduz milhares e milhares para a rua em claro protesto contra as políticas actuais.

Infelizmente, estes grupos não estão mandatos por lideranças novas e diferentes, capazes de trazer para o palco político outras pessoas, outras personalidades com discursos diferentes alicerçados em programas e manifestos políticos alternativos aos aparelhos partidários. É urgente, uma nova praxis política para impulsionar novas reformas e a partir daí regenerar a social democracia e o socialismo democrático. Sem este impulso renovador os partidos da social democracia e do socialismo democrático continuam prisioneiros de uma agenda programática liberal e capitalista.

A democracia ocidental encontra-se refém de um conjunto de políticas neoliberais alinhadas à direita e dependentes de um mercado globalizado de capitais. Os mercados financeiros especulativos cercaram os partidos e domesticaram a vida pública.

 

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo Sr. Professor Matos,
Leio com toda a atenção e guardo em pasta própria o que o meu amigo vai aqui colocando para leitura do público em geral.
Como cidadão e leitor assíduo deste blogue, devo – lhe dizer que este tipo de manifestação ou manifestações organizadas pelo denominado “movimento que se lixe a troika” muito sinceramente nunca me cativaram nem nunca me cativarão, mas também não critico quem envereda por este tipo de manifestar a sua revolta perante o rumo (para o abismo) que o nosso País está a caminhar.
Quanto ao envolvimento da Igreja católica neste desmoronar perigoso em que nos encontramos, deve – lhe dizer que como católico não praticante louvo a atitude e a coragem do Sr. Bispo emérito D. Januário Torgal Ferreira que por várias vezes e “sem papas na língua” chamou os bois pelos seus próprios nomes; ou melhor dizendo: apontou o dedo aos responsáveis pela desgraça em que a nossa pátria se encontra.
O mesmo infelizmente já não se pode dizer do emérito patriarca de Lisboa D. José policarpo que contra o que foi Emanuel de Jesus Cristo, “coloca – se de alma e coração” ao lado daqueles que sugam e rapinam o pão de cada dia em milhões de lares portugueses onde nem as crianças, pessoas idosas e doentes são poupadas a esta fúria gananciosa de pura selvajaria.
Quando um responsável eclesiástico como foi D. Policarpo afirma publicamente que só haveria dinheiro para mais um mês e meio, e quase a culpar a oposição e os sindicatos como se eles fossem os bodes expiatórios pela situação em que nos encontramos, está tudo dito!
Já aqui mencionei num comentário que fiz a alguns meses e novamente volto a referir: a Igreja católica (salvo honrosas exacções) ao longo dos seculos sempre andou de braço dado com os senhores das grandes fortunas. Não estou aqui a inventar nada, é o que nos diz a história!
Abraço
Gomes

Fernando Matos Rodrigues disse...

Meu caro amigo,
Infelizmente a Igreja secular, de bispos, cónegos e cardeais nunca foi um exemplo de boas práticas morais e éticas. São uma espécie de políticos da carreira diocesana. Foram treinados e educados para viverem na Corte dos Paços Episcopais, com toda a criadagem e mordomias, vícios e luxos. O Povo daqui não pode esperar nada de relevante e a pátria muito menos. O clero regular dos frades descalços e que pregam a pobreza e a humildade sempre fizeram a diferença e sempre lançaram as bases da mudança e renovação.
Abraço amigo