quinta-feira, 12 de junho de 2014

O Renascer da Democracia

Em toda a Europa aparecem movimentos civicos, alternativos e forças na defesa dos valores democráticos. Reivindica-se liberdade de decisão. Liberdade de escolha política. Exige-se que os partidos que sustentam os governos liberais mudem de políticas e abram as portas à cidadania.

Nas praças, nas ruas, nas escolas, nas fábricas luta-se minuto a minuto, hora a hora, dia a dia pela Democracia e pela Liberdade.

Nas urnas mostra-se o cartão vermelho a estas políticas que assassinam o trabalho e a economia produtiva, em prol da especulação financeira e de capitais. Luta-se contra a destruição de trabalho e contra a deslocalização das industria e do trabalho.

Nas Praças das capitais da Europa e do Mundo jovens, mulheres e homens lutam pela reposição dos direitos democráticos na vida das sociedades europeias. A sociedade condena de forma brutal todo o tipo de violência e de autoritarismo burocrático contra os cidadãos.

A informação colabora para esta globalização democrática e para esta onda de solidariedade entre os povos, as culturas oprimidas, as minorias e as maiorias escravizadas pela ordem neo-liberal.

Perante um sofisticado aparelho de propaganda e de terror suave instalado nos Estados Ocidentais as sociedades estão a dar uma resposta consciente, determinada e musculada. Não se aceita esta nova agenda liberal de destruição do Estado Democrático do Bem-Estar Social.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

As narrativas de Cavaco...



A queda do Presidente da República é um sinal dos tempos. Tempos que já foram de exaltação e de celebração da pátria de Camões. De festas gordas e apinhadas de gentes com bandeirinhas, lenços e chapeladas. Com discursos longos, simpáticos e proféticos a um povo alienado pelas narrativas ficcionais de uma Europa para todos.

Pregava-se o pão nosso de uma Europa rica, desenvolvida, solidária e progressista. Inventavam-se programas numa espécie de catecismo em prol de uma Europa unida e forte. Tratados e mais tratados, compromissos e mais compromissos. Quadros de referencia estratégica para aproximar os fracos dos mais fortes. Os ricos davam aos pobres e os pobres recebiam dos ricos. Tudo corria bem na eurolândia dos burocratas e dos demagogos.

Inventava-se o discurso da subsidiariedade europeia, do multiculturalismo, da herança europeia muito antiga e bem definida. Jacques Le Goff, o historiador francês da escola dos annalles inventava uma nova história para esta Europa mítica e fundacional, católica, protestante,judaica e muçulmana.

Era tudo tão perfeito. Criamos um parlamento europeu a fazer de conta. Um governo a fazer de conta. Um banco europeu a fazer de conta. Uma moeda a fazer de conta. Toda a gente acreditava na narrativa. Em Portugal os lideres políticos lá iam vendendo aos indígenas da nação o pacote de uma Europa Unida e Solidária. Despejaram-se toneladas de dinheiro que vinha dos nossos parentes ricos. Tínhamos descoberto de novo a "nossa" árvore das patacas. O nosso brasil era primeira vez aqui ao lado.

Tudo tão perfeito. Abi Feijó no seu "Fado Lusitano" levanta duvidas a esta narrativa. E chama-lhe loucura insana e ingénua. Manuel de Oliveira com "NON" leva-nos para os nossos palácios da psique colectiva. E deixa-nos irritados. Deixamos de pensar. Eduardo Lourenço na sua linguagem de uma identidade cultural europeia lá dá o fermento ideológico e estético a uma Europa que ele quer socialista e cosmopolita.

Inventamos o Homem do Leme. E o Homem do Leme inventou o "novo português". Construímos auto-estradas dando-lhes o nome de IPs e ICs por onde circulavam carros e carrões. Abandonamos a pesca e a agricultura, sinais de um país atrasado e anti-europeu. Mandamos queimar olivais e pomares, barcos e conserveiras, deslocamos os pescadores das frentes de praia para aí instalar unidades turísticas para os povos ricos do Norte e para os "Novos Portugueses" que Cavaco ajudou a criar.

Ser político era uma carreira de sucesso na mobilidade social e económica da Nova Republica. Bastava a militância e o cartão de sócio num  clube de primeira. Meu filho o futuro está garantido: o papa vai para político. Os políticos eram como os eucaliptos. Muitos e em grande mancha mas pouco ou nada úteis à sociedade onde se integravam. Secavam tudo ao seu redor.

A narrativa está suspensa. Os heróis desfaleceram. Os políticos são menores e ridículos. O Povo cai de si e sente que lhe mentiram. Foi tudo uma farsa.

Fica-nos a ironia, a raiva e a miséria resignada. Claro que não. Outros dias virão!...

quarta-feira, 28 de maio de 2014

LA FOLIE, C`EST LA FOLIE...

A França está louca. A loucura regressou à pátria da Revolução Francesa e do Maio de 68. Um povo, uma sociedade, uma nação que abandona a sua matriz cultural cosmopolita e universal e se refugia nos mitos fundadores de uma França de Ancien Régime. Uma França que foi a grande pátria do conhecimento, das artes e das ciências e que regressa ao mundo fechado dos senhores e privilegiados. Que procura no ódio ao outro, ao estrangeiro a justificação de todos os seus problemas.

Uma França que desde François Mitterrand (1916-1996) não consegue encontrar o seu fio de areane. Miterrand era o lado culto, cosmopolita e universal de uma França que procurava um novo sentido na Europa depois de abandonar as suas colónias. Mas, um sentido aberto e plural. Onde a grande França era uma pátria de cultura, de humanismo e de solidariedade.

Hoje, a França é um espaço fechado sem horizontes e sem designio algum no contexto do Mundo e da Europa. Uma França que não se governa e que deixou de liderar a Europa. Onde habita essa pátria de Camus, de Foucault, de Barthes, etc.

É urgente reinventar essa Pátria de Grande Cultura e de Grande Civilização. A França dos escritores, dos artistas, dos cientistas, dos arquitectos geniais.
 A França de hoje, é racista e mesquinha. Levanta fronteiras e ódios. Persegue os estrangeiros e os ciganos. Abandonou a Revolução Francesa e o Maio de 68. As suas cidades são espaços de segmentação e de exclusão..
Segrega os estrangeiros e persegue os outros com base na cor, no credo, na cultura. 

terça-feira, 27 de maio de 2014

GAME OVER...



São oito horas e quarenta e seis minutos. Escrevo logo pela manhã com uma sensação de fim de alguma coisa. Está um dia de sol e de luz atlântica. O mar é já alí...As gaivotas ainda não apareceram. Um silêncio profundo invade todo o espaço onde me encontro.

Espaço, silêncio e sol com luz. A Europa foi a votos. Muitos votos nem por isso. Os europeus decidiram não exercer o seu direito de voto. Aliás, o direito de não votar é um direito que todos temos consagrados na nossa Carta Constitucional.

Os políticos dos partidos do chamado arco governativo estão ainda em estado de choque. Perderam votos, perderam votantes e influência na vida política europeia. O Povo já não os quer. Mas eles teimosamente teimam em impor o mesmo figurino, o mesmo programa e as mesmas almas.

Contudo na noite eleitoral todos cantaram vitória. Claro que uns mais que outros. Mas todos estavam satisfeitos com os resultados. Até porque ninguém perdeu. E ninguém ganhou.

Se houvesse um vencedor seria a abstenção...mas essa não conta para a contagem. Pois, ainda não elege deputados nem decide as governações.

Em Portugal. O PSD continua a ser controlado por um aparelho de gente neoliberal e pouco recomendável. O PS está cada vez mais inseguro. O Bloco de Esquerda mergulhou numa espécie de coma induzido. A CDU mais estruturante e consequente mantém a sua trajectória política retirando dividendos da crise, da governação neoliberal, do descontentamento, da situação complexa que o país atravessa. Coerente com o seu programa e com a sua liderança.

Europa Game Over!..
Portugal  over!.. Sem euros para distribuir a Europa é um espaço político sem sentido e sem futuro. Infelizmente, os lideres europeus transformaram a Europa numa espécie de grande casino. A partir do qual se distribuíam fichas que davam acesso a cheques chorudos para distribuir sem nexo e sem sentido pelos povos a troco da sua soberania.

Game Over!..

segunda-feira, 26 de maio de 2014

EVITEM A EUROPA FEDERAL...



Nestas eleições para o Parlamento Europeu os povos da União Europeia deixaram impresso a sua marca de descontentamento sobre os caminhos que os burocratas europeus e nacionais tinham traçado nos últimos Tratados. De um redondo não contra este federalismo imposto nas últimas décadas a troco de uns dinheiros mais ou menos fáceis.

Na realidade a construção de uma Europa Federal com uma moeda única, um governo único, um banco único era uma mistificação, que alguns burocratas nacionais e europeus acreditavam a troco de uns lugares bem remunerados nas instituições europeias e internacionais.

Os políticos nacionais eleitos democraticamente pelo povo soberano das Nações, tomaram decisões sobre a soberania dos Estados sem consulta ou referendo. Hipotecaram os Estados e submeteram os Povos a uma espoliação de direitos e de soberanias.

Perante, esta hipócrita forma de fazer política os partidos europeístas cederam ao centralismo burocrático dos europeus que sonhavam com um Estado europeu centrado numa Alemanha unificada e numa França confinada a uma europa entre Paris e Berlim.

Os Estados Soberanos reagiam de forma calculada, em silêncio e abstenção nas urnas. Mas, com a crise do Euro e das dividas soberanas, os Povos passaram ao protesto apoiando-se nos extremos. A extrema direita e a extrema esquerda ressuscitam de um longo período de silêncio. Ganham posições e maiorias em países como a França Republicana e Laica, a Grécia, a Inglaterra, a Holanda, a Itália.

Portugal por enquanto limita-se a ter uns fenómenos caseiros, sem força e sem convicção. Marinho Pinto é um produto ingénuo, racional e inteligente de um eleitorado que quer castigar o PSD, o CDS e o PS. Mas por enquanto recusam o populismo da extrema direita e da extrema esquerda. Uma atitude de grande maturidade democrática que o Povo português deu a essa Europa do Centro, rica, burguesa e moderna.

Este resultado eleitoral veio demonstrar como frágil é esta Europa do Euro e dos burocratas. O Povo dos Estados Nações rejeitou o Federalismo sem consulta e sem referendo. O Povo é e continuará a ser o garante do Estado. A Nação não é uma peça de museu, nem muito menos uma espécie de mistificação folclórica da identidade pátria. Cuidado que a besta do Leviathan ainda se levanta dos escombros e ergue novamente as fronteiras, os medos, as guerras, as divisões sem nexo e sem sentido.

É urgente voltar a uma Europa Cosmopolita, Universal e Humanista. Aliás, a única forma de restaurar a paz social entre os Povos das Nações e evitar os ódios e os fanatismos de raça, de cor, de fronteira. A imposição de um Euro centrado nas mais valias rentistas contra a força do capital ao serviço da produção é um erro e um crime contra a Civilização Ocidental.

Acreditamos que as sociedades europeias têm a força e a inteligência suficientes para neutralizar estas economias financeiras especulativas e fazer do trabalho e da economia um Bem Social.


terça-feira, 22 de abril de 2014

A Minha Geração e o 25 de Abril...

A minha geração era ainda muito jovem quando se dá o 25 de Abril. Não tínhamos consciência da importância que o 25 de Abril teria nas nossas vidas.

Claro que fomos assistindo a mudanças estranhas no nosso quotidiano, mas que para nós eram muito positivas. O guarda da GNR local já não aparecia com aquele ar intimidador quando jogávamos à bola na rua, nem nos mandavam calar nas noites longas que se seguiram.

Em casa a política ganhou espaço e dignidade. O passado era contestado em função de um futuro que ninguém sabia o que era, mas que imaginavam como devia vir a ser.As ruas e as praças enchiam-se de homens e mulheres, de velhos e novos a qualquer hora do dia. Facto que só era permitido em dias de festa.

Todos os dias eram dias de festa. Dias de conversa. Dias de confraternização. Os assuntos eram muito diversificados. Mas as questões da liberdade, da fraternidade, da democracia. A palavra democracia começa a entrar no nosso ouvido, no nosso imaginário. Que palavra tão estranha e tão sedutora - Democracia.

Na Escola os muros que dividiam sexos e géneros foram derrubados. Que coisa estranha era esta. Mas que momento tão doce e perfumado. Estão a deitar a baixo o muro que dividia a Escola dos meninos das meninas. Era o fim de um pecado original que carregávamos na pele sem sentido. O crucifixo e os quadros solenes foram retirados das salas de aulas. Os senhores professores lá foram de mansinho escondendo as réguas, as canas e os castigos da humilhação.

Na minha Escola deixou de haver má cara, violência e humilhação. Toda a gente dançava, cantava e sorria. Andava no ar um perfume a primavera, a liberdade, a fantasia. Os jogos eram momentos de convívio, de socialização entre todas as classes e grupos. 

O medo tinha desaparecido. Sim o medo de falar, de errar, de levar com a cana porque se fez mal o calculo ou o exercício de matemática. Andava um perfume no ar. Que nos embriagava e nos dignificava. Pela primeira vez sentíamos que a Escola era nossa. 

Em Casa, na rua e na Igreja. O medo deu lugar a um sentimento de liberdade, de explosão social e cultural de grande magnitude. Era uma coisa única. 

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Primavera Vermelha

A primavera chegou com as suas chuvas e os seus nevoeiros. A minha cidade acordou com frio e humidades nas ruas, nas casas, nas praças onde as pombas debicam alguma coisa de forma muito silenciosa. As pessoas apertadas até ao pescoço recusam o frio e lá vão enfiadas na sua vida. O país também lá vai como pode, ou como o deixam ir. Corte ali, programa para acolá, e a vida política lá se arrasta de forma melancólica e pesada.

Os meus cafés cada vezes com mais turistas e com menos portuenses, amigos e vizinhos, dá-nos a sensação de que afinal a cidade está viva e cheia de luz. Mas, afinal os tempos estão vazios e crus. As pessoas vão partindo para dentro de si, afogando-se numa melancolia doentia que vai lacando o nosso viver quotidiano.

O cinzento é absoluto nesta cidade de luz e de rio e mar. Que paradoxo é este que nos esconde do rio, do mar, da luz e do sol e nos remete para um retorno à caverna das origens. A festa já não é festa, mas programação artificial comandada pelo mercado e pelo lazer artificial ao serviço das modas turísticas.

As pessoas perderam o seu fio ontológico (de ser história) e mergulharam num espaço linear e cíclico, sem tempo e sem contexto. As estruturas das descontinuidades perderam a sua razão de ser e de existir, o mandato foi substituído pelo mercado efémero que transforma as pessoas em meros consumidores sem identidade e sem singularidade. Os territórios transformam-se em espaços globalizados ao serviço de um homem descarnado de sociedade, de cultura e de política. A memória, o tempo, a ruína são os maiores inimigos desta sociedade global e ficcional.

Foucault já nos tinha anunciado a morte do homem moderno, associando-lhe a erosão do tempo e do espaço. Infelizmente, não lhe de-mos a devida referencia epistemológica. E, eis-nos aqui, agora, a constatar uma evidência já anunciada.

O fim das estruturas foi sem duvida um dos grandes problemas da sociedade actual. Sem sociedade, sem poder, sem cultura. A política transformou-se num jogo sem regras e sem fundamentos éticos e filosóficos. Enclausurou-se nos gabinetes das bolsas especulativas e dos mercados selvagens. O homem político foi substituído pelo homem pós-moderno.

As sociedades globalizaram-se no modo e na forma, conduzindo o actor social para uma espécie de retorno à vida na caverna. Reduzido a um contexto onde as emoções, as imagens, e as projecções dominam o seu universo de vida. Estamos perante a perda de vida social. A partir de agora, é na ausência de realidade concreta e territorialmente vivida que desenvolvemos as nossas interacções.

Estamos aqui e agora. Mas vivemos no ali inconstante e hiper volatil. Nada é como era. E não tem de o ser. O retorno ao passado é também uma espécie de nostalgia que nos remete para uma mistificação de um paraíso perdido. E na realidade o passado não o é e nunca o será. É na dinâmica e na transformação dos tempos que o homem se realiza e se integra. A mudança, o movimento leva-nos para a valorização do fragmento como partícula desintegrada de um processo de longas durações.

Será talvez oportuno referir que os tempos modernos são sempre de resistência e de vanguardas. De rupturas e de afirmações fortes e diferentes. Onde a criação e o novo são uma espécie de choque e de recusa desse tempo redondo e salvífico. A heresia está sempre associada ao Tempo Novo. É desse Tempo Novo que se espera que o Homem encontre de novo essa força de mudança e de renascimento.