sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Carta a Bruxelas

Meus caros amigos de Bruxelas,

Portugal é um país com uma longa história, situado numa Península que dá pelo nome de Ibérica. Aderiu à União Europeia na década de oitenta do século XX. Vive em democracia após a queda da ditadura do Estado Novo, com a Revolução de 25 de Abril de 1974.

A partir daí o povo português de forma determinada envolveu-se na transformação do nosso país, participando na politica, na cultura, na economia. A sociedade portuguesa viveu a Revolução na rua, no campo, na fábrica, na escola, na família com um entusiasmo e um envolvimento nunca visto. Foi um romper de silêncios, de medos, de recalcamentos estruturantes.

Um Povo e uma Nação libertaram-se do medo!

A liberdade, a igualdade e a fraternidade começaram a fazer parte do imaginário quotidiano dos portugueses. Mulheres, crianças e velhos vieram à rua  cantar a "Grândola Vila Morena" do Zeca.Foram dias, foram meses de celebração colectiva. O Povo português acreditava que era possível. E ainda acredita que é possível! Portugal era um rio de Esperança!

Contudo, a burocracia, a corrupção, o clientelismo, o dinheiro fácil, os empréstimos fraudulentos, os gestores mafiosos, os partidos e suas clientelas secaram este rio de fraternidade, de igualdade e de felicidade.

O Povo triste e espoliado dos seus direitos, dos seus bens, das suas casas, das suas famílias, deixasse cair numa espécie de passividade colectiva. Desencanto, dizem uns, resignação dizem outros.

O nosso povo não sabe onde fica Bruxelas. Pouco ou nada sabe da sua cultura e das suas gentes, dos seus cantões, da sua monarquia, dos seus desgovernos.

Bruxelas corre o risco de ser a nossa babilónia.Porque nos castiga com normas, com taxas, com regras que nos retiram a possibilidade de sermos uma Nação digna.

A nossa Jerusalém  já não mora para os lados de Bruxelas. Aliás, penso que hoje, ninguém nos saberá indicar o caminho para a Jerusalém Europeia. Nesta incógnita sistémica a desconfiança e os medos não são os melhores conselheiros num mundo em mudanças tão rápidas e assustadoras.

Ninguém sabe quem governa a Europa, ninguém sabe quem decide pela Europa.

Os governos deixaram de governar as suas Nações e os seus Povos. A economia já não é a alavanca do progresso, mas a causa da nossa queda como civilização.

É nesta contextualidade, que escrevo esta Carta a Bruxelas. Bem sei que não me conheces, que eu não sei quem tu és, Bruxelas.

Mas mesmo assim, não queria deixar de ter escrever esta Carta, porque penso que não és tu a culpada da nossa desgraça. Contudo, és tu que albergas dentro das tuas torres estes burocratas que desgovernam o mundo, que espalham o terror e o medo nas ruas de babilónia.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Mau, Maria!

Hoje, o ministro da Educação anunciava que estava a ser equacionada a possibilidade de os alunos ficarem a tempo inteiro na Escola.

Numa tentativa de agradar a todos aqueles que consideram a Escola uma espécie de "prisão", ou de espaço de retaguarda educativa das famílias. Assim, a Escola tomará conta dos nossos filhos durante a formação e durante a educação e os tempos livres.

Em certa medida, até se podia considerar uma boa medida, uma excelente reforma, uma política em prol da inclusão e da coesão social.

Mas, há sempre um mas nestas coisas da educação!

Será que este Estado "falido", excessivamente burocratizado e centralizado terá as condições materiais e humanas para lançar tal medida com suporte de qualidade e de segurança. Penso que não!

O Estado não garante o aquecimento dos nossos alunos e professores.
O Estado não garante a segurança dos nossos alunos, professores e auxiliares da educação.
O Estado não garante uma refeição digna aos nossos alunos.
O Estado não garante um bom ambiente nas Escolas.
O Estado não garante um espaço feliz na Sala de Aula.
O Estado não garante ensino e formação de qualidade.
Então! Encerremos a Escola Pública? Claro que não!

Mas como se pode dar um passo de gigante, quando nestes últimos anos a Escola Pública foi desvalorizada com a redução de investimento público na formação, na segurança, na educação e no apoio social.

Assistimos, ao aumento de turmas, causa de violência e de perda de qualidade de ensino. Ao aumento da carga horária dos seus docentes, que se encontram esgotados e desmotivados.

O apoio social e psicológico foi desvalorizado com a redução e extinção de contratos de técnicos das áreas da psicologia, da sociologia e antropologia da educação. Os animadores culturais nunca chegaram a fazer parte desta escola inclusiva e interactiva. Os equipamentos da Parque Escolar nunca foram valorizados e dinamizados de forma a alavancar novas sinergias. A relação com a comunidade é um eufemismo!

Um Primeiro Ministro não pode deixar um Ministro da Educação a gerir a educação como se se tratasse de uma mercearia entre o deve e o haver. Um Ministro da Educação que não conhece os meios, nem os problemas da educação nacional.

A primeira medida a tomar é criar os Encontro Nacionais para a Educação e a partir daí identificar problemas e necessidades. Possibilitar a construção de um Livro Branco para a Educação XXI. Chamar os parceiros á discussão e à problematização. É tempo de abandonar as catedrais do ministério da educação que de forma redutora e excessivamente burocrata desgovernam a Nossa Educação e o Nosso Futuro!

domingo, 31 de janeiro de 2016

Variações menores de um partido à beira do Abismo!...

Numa análise rápida à vida partidária nacional e regional constatamos que alguns dos partidos do chamado arco da governação se encontram em absoluta desagregação ideológica e programática. Um PSD que abandonou a matriz social democrata europeia de Francisco Sá Carneiro. Um Partido Socialista em angustia pelo desaparecimento tutelar do soarismo. Uma esquerda nova que aponta novos rumos e novos caminhos perante a incerteza e a duvida dos partidos clássicos nacionais.

Mas, gostaria de me centrar aqui na perda de centralidade política e ideológica do Partido Socialista. O PS abandonou desde a liderança de Mário Soares a social democracia e a esquerda renovada e democrática. Transformou-se num partido prático e utilitário, com uma burocracia e uma clientela que lhe dava a razão de ser e de viver. Um partido que viveu encostado ao Estado, centrado na figura de Mário Soares, útil ao capitalismo liberal e financeiro.Mário Soares que desempenhou o papel do monarca republicano num pós 25 de Abril. Uma figura controversa e complexa, que moldou o partido à sua imagem e dos seus legitimos sucessores António Guterres e José Socrates.

Hoje, é um partido fragmentado sem lideranças carismáticas. Acantonado na sua mais redutora capacidade de acção política. Incapaz de afirmar valores e programas. Vive numa espécie de limbo instrumental, distribuindo lugares por uma clientela menor, localista e provinciana. A sua coligação à esquerda é a prova dessa menoridade ideológica e política. Aliás, sem o programa e a juventude política do Bloco de Esquerda como seria este PS que governa. Certamente, seria mais vazio de programa e de ideias. A Esquerda do Bloco trouxe a este Governo e a este PS novas causas, novas ideias, novos combates.

Ainda, ontem (Sábado, 30 de Janeiro 2016) o Jornal Público noticiava a candidatura do Vereador do PS na Câmara do Porto, à Distrital do Porto, e dava quase como certo que o PS do Porto, não apresentaria uma candidatura alternativa ao candidato independente da direita Dr Rui Moreira. O que demonstra como este PS se transformou numa estrutura política sem relevância. Ao ponto de ser absorvido por uma candidatura independente forjada pela direita do CDS/PP e do PSD da Foz.

Aguarda-se que a esquerda renovada do Bloco de Esquerda saiba ocupar o seu espaço e permita a construção de uma alternativa sólida e consequente para o governo da segunda maior cidade do país.

O Partido Socialista abdicou de ter candidato às Presidenciais e ganhou um candidato da direita; abdica agora de apresentar candidato à segunda maior Câmara do País (O Porto) em beneficio da direita que se instalou na vereação da câmara do Porto e nas suas empresas municipais. Amanhã abdicará de ser candidato à governação do país. quem sabe!

Fazemos votos que o Bloco de Esquerda se afirme como uma alternativa democrática ao absentismo politico do PS!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Pêndulo de Marcelo!...

Image result for penduloAs eleições para as presidenciais marcam uma nova fase na luta política portuguesa. A eleição de Marcelo Rebelo de Sousa por uma maioria expressiva de 52%, veio retirar ao actual primeiro ministro a paz política que ele necessitava para poder implementar o seu programa e aprovar a sua proposta de orçamento de Estado para o novo ciclo político.

Do ponto de vista da análise política temos neste momento duas maiorias. Uma maioria com legitimidade parlamentar, que suporta o actual governo, de matriz socialista e de esquerda. E outra maioria, personificada no recém eleito Presidente da República, mais à direita e popular. A dúvida, não reside na possibilidade de ambas coabitaram de forma mais ou menos tranquila na política nacional. A duvida, reside na vontade de uma direita nacional e europeia não aceitar este governo de maioria parlamentar e legitimo.

A partir daqui, os cenários complicam-se para o actual ministro. E complicam-se, porque, a situação é cada vez mais insustentável para um PS que não aceita esta coabitação com a esquerda que sempre combateu. Este PS pode ser personificado na patética candidatura de Maria de Belém, e na forma ingénua e quase ridícula como se distribuíram os ministros a apoiar esta figura simpática, mas politicamente artificial.

Sampaio da Nóvoa foi uma espécie de dulcineia sem D. Quixote. Não se podia pedir mais ao professor que de forma simpática mas nada combativa se apresentou com toda a sua bondade e saber. Mas, como já se esperava, faltou política. Faltaram políticos nestas eleições presidenciais.

O candidato da direita também não veio da política. Mas do mundo da televisão. Foi eleito um comentador de uma televisão. Parabéns a toda a máquina dessa cadeia televisiva que docemente foram preparando a candidatura e o candidato. Marcelo Rebelo de Sousa, foi eleito não como político, mas como figura pública da televisão. Um presidente que é o produto de uma televisão. Tal como Tino de Rans foi promovido pela televisão mais populista e demagógica. Dois produtos televisivos. Com qualidades e trajectos bem diferenciadas.

Os únicos partidos que assumiram candidaturas com uma genealogia partidária e programática específica foram a CDU e o Bloco de Esquerda.

A CDU não teve o resultado que esperava. Ficou mais uma vez provada a nossa natureza anti-clerical. Um ex-padre não adivinhava grande resultado. O país ainda não esqueceu os "padres amaros" da nossa república. O Bloco de Esquerda apostou no mesmo figurino, na mesma lógica, na mesma pedagogia política de combate político mostrando as diferenças entre o seu candidato e os demais. Marisa Matias veio da política e fez política. E o resultado está aí.

O grande problema está no partido socialista e por arrasto no actual governo. Como é que um líder político se pode deixar cair no erro de que era mais fácil ter umas primárias nos dois candidatos presidenciais (Maria de Belém e Sampaio da Nóva). Um erro primário para quem anda na política à tantos anos e já ocupou cargos de grande complexidade política.

A partir daqui, o PS e o actual governo vão ser vitimas da sua incoerência política, do seu medo político. António Costa deixou-se apanhar por uma rede de problemas que já não têm solução. Um PS sem autoridade. Um PS sem liderança. Um PS submisso aos lugares que pode vir  a distribuir. Mas lugares esses num governo que se encontra a prazo. Uma CDU que necessita de se afirmar no espaço político. Um Bloco que goza de um entusiasmo que o pode levar a uma queda vertiginosa.

Uma Europa onde quem decide são burocratas e tecnocratas liberais e de direita. Que não gostam desta esquerda, nem deste governo. Que esperavam por este erro grosseiro de António Costa e de toda a esquerda. Uma esquerda que não se uniu, que não se concentrou num único candidato à Presidência da República.

A política é assim, um mundo efémero marcado pela velocidade dos acontecimentos. Estamos novamente perante o Reino da Política!...António Costa tem sobre si, e sobre o seu governo um presente de grande intensidade e de grande porosidade política e social.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Retorno do Espaço Público: mimetismo e simulação!


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Nos últimos anos a cidade do Porto passou por um processo de deslocação da sua vida social, económica e cultural do centro da cidade para as periferias da sua área metropolitana, uma espécie de metropolitização do Porto. Este fenómeno deu origem ao aparecimento de uma cidade vazia, feita de ruínas acompanhada por uma rápida e sinistra erosão do espaço económico, residencial e público.

Hoje, em dia, a cidade recupera dessa sinistra realidade. Parece que o retorno à cidade é para valer. Contudo, a tematização do espaço público, a sua especulação por metro quadrado, a procura da cidade para negócios especulativos e imobiliários introduzem uma selectividade de contornos assustadores. Julgamos, contudo, estarmos na presença não de uma regeneração da cidade em prol da valorização da sua complexidade, mas perante um fenómeno de reabilitação mimética do seu casario e de uma simulação de retorno ao espaço público no centro da cidade.

Uma espécie de cidade da representação ao serviço de uma economia global que maximiza os recursos arquitectónicos, a sua memória patrimonial, a sua imagem de elevada singularidade, tudo isto bem acondicionado numa marca turística que pretende vender um produto nas redes globais das cidades turísticas. Mas, que não passa disso mesmo, um produto turístico que em nada tem de significativo na valorização dos usos quotidianos das pessoas que vivem e fazem a cidade.

As governanças locais investem milhões de euros na reabilitação não em função da valorização económica da vida daqueles que vivem e trabalham na cidade, mas preparando esse casco para a sua integração numa rede especulativa de interesses financeiros que vivem das mais-valias turísticas e imobiliárias.
Assiste-se, à implementação de um urbanismo ligth, uniforme e sem poética de gosto globalizado, tipificado nos modelos das cidades turísticas e globalizadas. De forma a servir de estrutura a um homem-massa, deslocado e em transito permanente.

A cidade do Porto vai assim, criar uma nova exterioridade urbana, ao serviço de um Homem-Massa (idola fori), em detrimento do homem publico. O habitante das nossas ruas é assim, um ser sem interioridade, vazio, simples, uma espécie de homem invisível que consome o espaço público mas não o usa, não interage com ele porque ausente na sua relação com a sua identidade. Por outro lado, o Homem das Ruas parece conformar-se com o seu papel de actor passivo, medíocre e indiferente à vida na cidade.

O espaço público é assim, uma espécie de multidão de “loucos” que circula pelo espaço público, que o usa, que o consume, mas que se recusa interagir com a sua memória, com a sua história e com a sua identidade. Uma imensa humanidade intranquila, sem assento, sem território, que se encontra de passagem para algum sítio, que verdadeiramente desconhece mas que já está determinado pelo pacote turístico.
 Este homem invisível ocupa as ruas da nossa cidade, pisa as nossas praças, habita os nossos bares, num ambiente de festa de loucos, um carnaval diário que faz da simulação e do mimetismo um habitar transitório, próprio de um nomadismo sem gosto e sem fim.








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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A felicidade, o amor e a simplicidade das coisas belas...

O Atlântico rugia forte e tempestuoso. As barracas voavam por entre as dunas anónimas da praia.  Por entre as rochas um murmúrio dos tempos que demoram a passar, mas que passam sempre por nós, tão rápidos como as nuvens sobre a platina do mar.Do alto dos céus, um raio luminoso e flamejante, cruzava as novas memórias e levantava as velas das naus que encostadas aos muros da cerca já não navegavam por entre esses mares longínquos.

Marinheiros, pescadores, mulheres de pés descalços, moços e moças de cara azul, erguiam-se perante este raio que explodia sobre a praia e o oceano. Tudo era mágico e maravilhoso. As crianças saíram de suas barracas, brincavam com os feixes de luz que, caíam na areia e faziam círculos mágicos de cores e de movimentos luminosos. Tudo era uma sinfonia aos sentidos e ao olhar. A felicidade irradiava destes homens e mulheres, as crianças abraçavam esta luz de vida, corriam dentro dos seus canais luminosos para um tempo infinito. Infinito e cheio de graça. 

A musica do amor rebentava nesses instantes de loucura e de imprudência humana. A lua cheia apareceu também radiosa de graça. Deu as boas vindas a todos os homens de azul e de outras cores. Os sexos misturaram-se por entre as rochas, e deixavam-se embalar pela noite de luz e de cor, desaguando as suas águas nesse imenso oceano de ondas metamórficas. 

A felicidade acontecia neste pequeno espaço de areia de ondas, de água salgada...Um fazer de conta onde a vida é ser e viver ... Uma espécie de néctar divino. A felicidade é um rebentar de onda na praia contra corpos e desejos. Uma dança de gaivotas que riscam o céu com geometrias abstractas e  harmoniosas.

O amor é absoluto na sua potência relativa, quando nos damos perante o outro de quem nada sabemos de essencial, mas que nos confunde com a sua relatividade da pele, do género ou do credo. No Amor a pele, a argamassa, a estrutura de nada nos serve, mas que em tudo nos desvia do essencial do amor que é o amar sem limites e sem fronteiras. Uma espécie de cais de fronteira, que se move sem cessar, juntando as pontas da linha, as margens dos rios, as águas desavindas. O amor é esse fio que nos liga a uma vida, a uma história e a uma essência.

O mundo sofre de ausência de Amor, porque afastou as linhas, destruiu as passagens, abandonou a fronteira entre os povos e as culturas, desfez a beleza das pontes que nos ligava por entre os oceanos da diferença. A luz da beleza primitiva caminha solitária por entre as ruas, as vielas, as praças e os bairros. Despida de andores e de barcolas iluminadas.

Do outro lado da vida... Um cortejo silencioso invade as nossas praças e atira o fogo sobre os céus fazendo estalar foguetes... Por entre uma multidão ruidosa e embriagada só a luz em arco-íris solitário nos prende a esse  fio ontológico. Que é a vida de um ser...