domingo, 31 de janeiro de 2016

Variações menores de um partido à beira do Abismo!...

Numa análise rápida à vida partidária nacional e regional constatamos que alguns dos partidos do chamado arco da governação se encontram em absoluta desagregação ideológica e programática. Um PSD que abandonou a matriz social democrata europeia de Francisco Sá Carneiro. Um Partido Socialista em angustia pelo desaparecimento tutelar do soarismo. Uma esquerda nova que aponta novos rumos e novos caminhos perante a incerteza e a duvida dos partidos clássicos nacionais.

Mas, gostaria de me centrar aqui na perda de centralidade política e ideológica do Partido Socialista. O PS abandonou desde a liderança de Mário Soares a social democracia e a esquerda renovada e democrática. Transformou-se num partido prático e utilitário, com uma burocracia e uma clientela que lhe dava a razão de ser e de viver. Um partido que viveu encostado ao Estado, centrado na figura de Mário Soares, útil ao capitalismo liberal e financeiro.Mário Soares que desempenhou o papel do monarca republicano num pós 25 de Abril. Uma figura controversa e complexa, que moldou o partido à sua imagem e dos seus legitimos sucessores António Guterres e José Socrates.

Hoje, é um partido fragmentado sem lideranças carismáticas. Acantonado na sua mais redutora capacidade de acção política. Incapaz de afirmar valores e programas. Vive numa espécie de limbo instrumental, distribuindo lugares por uma clientela menor, localista e provinciana. A sua coligação à esquerda é a prova dessa menoridade ideológica e política. Aliás, sem o programa e a juventude política do Bloco de Esquerda como seria este PS que governa. Certamente, seria mais vazio de programa e de ideias. A Esquerda do Bloco trouxe a este Governo e a este PS novas causas, novas ideias, novos combates.

Ainda, ontem (Sábado, 30 de Janeiro 2016) o Jornal Público noticiava a candidatura do Vereador do PS na Câmara do Porto, à Distrital do Porto, e dava quase como certo que o PS do Porto, não apresentaria uma candidatura alternativa ao candidato independente da direita Dr Rui Moreira. O que demonstra como este PS se transformou numa estrutura política sem relevância. Ao ponto de ser absorvido por uma candidatura independente forjada pela direita do CDS/PP e do PSD da Foz.

Aguarda-se que a esquerda renovada do Bloco de Esquerda saiba ocupar o seu espaço e permita a construção de uma alternativa sólida e consequente para o governo da segunda maior cidade do país.

O Partido Socialista abdicou de ter candidato às Presidenciais e ganhou um candidato da direita; abdica agora de apresentar candidato à segunda maior Câmara do País (O Porto) em beneficio da direita que se instalou na vereação da câmara do Porto e nas suas empresas municipais. Amanhã abdicará de ser candidato à governação do país. quem sabe!

Fazemos votos que o Bloco de Esquerda se afirme como uma alternativa democrática ao absentismo politico do PS!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O Pêndulo de Marcelo!...

Image result for penduloAs eleições para as presidenciais marcam uma nova fase na luta política portuguesa. A eleição de Marcelo Rebelo de Sousa por uma maioria expressiva de 52%, veio retirar ao actual primeiro ministro a paz política que ele necessitava para poder implementar o seu programa e aprovar a sua proposta de orçamento de Estado para o novo ciclo político.

Do ponto de vista da análise política temos neste momento duas maiorias. Uma maioria com legitimidade parlamentar, que suporta o actual governo, de matriz socialista e de esquerda. E outra maioria, personificada no recém eleito Presidente da República, mais à direita e popular. A dúvida, não reside na possibilidade de ambas coabitaram de forma mais ou menos tranquila na política nacional. A duvida, reside na vontade de uma direita nacional e europeia não aceitar este governo de maioria parlamentar e legitimo.

A partir daqui, os cenários complicam-se para o actual ministro. E complicam-se, porque, a situação é cada vez mais insustentável para um PS que não aceita esta coabitação com a esquerda que sempre combateu. Este PS pode ser personificado na patética candidatura de Maria de Belém, e na forma ingénua e quase ridícula como se distribuíram os ministros a apoiar esta figura simpática, mas politicamente artificial.

Sampaio da Nóvoa foi uma espécie de dulcineia sem D. Quixote. Não se podia pedir mais ao professor que de forma simpática mas nada combativa se apresentou com toda a sua bondade e saber. Mas, como já se esperava, faltou política. Faltaram políticos nestas eleições presidenciais.

O candidato da direita também não veio da política. Mas do mundo da televisão. Foi eleito um comentador de uma televisão. Parabéns a toda a máquina dessa cadeia televisiva que docemente foram preparando a candidatura e o candidato. Marcelo Rebelo de Sousa, foi eleito não como político, mas como figura pública da televisão. Um presidente que é o produto de uma televisão. Tal como Tino de Rans foi promovido pela televisão mais populista e demagógica. Dois produtos televisivos. Com qualidades e trajectos bem diferenciadas.

Os únicos partidos que assumiram candidaturas com uma genealogia partidária e programática específica foram a CDU e o Bloco de Esquerda.

A CDU não teve o resultado que esperava. Ficou mais uma vez provada a nossa natureza anti-clerical. Um ex-padre não adivinhava grande resultado. O país ainda não esqueceu os "padres amaros" da nossa república. O Bloco de Esquerda apostou no mesmo figurino, na mesma lógica, na mesma pedagogia política de combate político mostrando as diferenças entre o seu candidato e os demais. Marisa Matias veio da política e fez política. E o resultado está aí.

O grande problema está no partido socialista e por arrasto no actual governo. Como é que um líder político se pode deixar cair no erro de que era mais fácil ter umas primárias nos dois candidatos presidenciais (Maria de Belém e Sampaio da Nóva). Um erro primário para quem anda na política à tantos anos e já ocupou cargos de grande complexidade política.

A partir daqui, o PS e o actual governo vão ser vitimas da sua incoerência política, do seu medo político. António Costa deixou-se apanhar por uma rede de problemas que já não têm solução. Um PS sem autoridade. Um PS sem liderança. Um PS submisso aos lugares que pode vir  a distribuir. Mas lugares esses num governo que se encontra a prazo. Uma CDU que necessita de se afirmar no espaço político. Um Bloco que goza de um entusiasmo que o pode levar a uma queda vertiginosa.

Uma Europa onde quem decide são burocratas e tecnocratas liberais e de direita. Que não gostam desta esquerda, nem deste governo. Que esperavam por este erro grosseiro de António Costa e de toda a esquerda. Uma esquerda que não se uniu, que não se concentrou num único candidato à Presidência da República.

A política é assim, um mundo efémero marcado pela velocidade dos acontecimentos. Estamos novamente perante o Reino da Política!...António Costa tem sobre si, e sobre o seu governo um presente de grande intensidade e de grande porosidade política e social.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O Retorno do Espaço Público: mimetismo e simulação!


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Nos últimos anos a cidade do Porto passou por um processo de deslocação da sua vida social, económica e cultural do centro da cidade para as periferias da sua área metropolitana, uma espécie de metropolitização do Porto. Este fenómeno deu origem ao aparecimento de uma cidade vazia, feita de ruínas acompanhada por uma rápida e sinistra erosão do espaço económico, residencial e público.

Hoje, em dia, a cidade recupera dessa sinistra realidade. Parece que o retorno à cidade é para valer. Contudo, a tematização do espaço público, a sua especulação por metro quadrado, a procura da cidade para negócios especulativos e imobiliários introduzem uma selectividade de contornos assustadores. Julgamos, contudo, estarmos na presença não de uma regeneração da cidade em prol da valorização da sua complexidade, mas perante um fenómeno de reabilitação mimética do seu casario e de uma simulação de retorno ao espaço público no centro da cidade.

Uma espécie de cidade da representação ao serviço de uma economia global que maximiza os recursos arquitectónicos, a sua memória patrimonial, a sua imagem de elevada singularidade, tudo isto bem acondicionado numa marca turística que pretende vender um produto nas redes globais das cidades turísticas. Mas, que não passa disso mesmo, um produto turístico que em nada tem de significativo na valorização dos usos quotidianos das pessoas que vivem e fazem a cidade.

As governanças locais investem milhões de euros na reabilitação não em função da valorização económica da vida daqueles que vivem e trabalham na cidade, mas preparando esse casco para a sua integração numa rede especulativa de interesses financeiros que vivem das mais-valias turísticas e imobiliárias.
Assiste-se, à implementação de um urbanismo ligth, uniforme e sem poética de gosto globalizado, tipificado nos modelos das cidades turísticas e globalizadas. De forma a servir de estrutura a um homem-massa, deslocado e em transito permanente.

A cidade do Porto vai assim, criar uma nova exterioridade urbana, ao serviço de um Homem-Massa (idola fori), em detrimento do homem publico. O habitante das nossas ruas é assim, um ser sem interioridade, vazio, simples, uma espécie de homem invisível que consome o espaço público mas não o usa, não interage com ele porque ausente na sua relação com a sua identidade. Por outro lado, o Homem das Ruas parece conformar-se com o seu papel de actor passivo, medíocre e indiferente à vida na cidade.

O espaço público é assim, uma espécie de multidão de “loucos” que circula pelo espaço público, que o usa, que o consume, mas que se recusa interagir com a sua memória, com a sua história e com a sua identidade. Uma imensa humanidade intranquila, sem assento, sem território, que se encontra de passagem para algum sítio, que verdadeiramente desconhece mas que já está determinado pelo pacote turístico.
 Este homem invisível ocupa as ruas da nossa cidade, pisa as nossas praças, habita os nossos bares, num ambiente de festa de loucos, um carnaval diário que faz da simulação e do mimetismo um habitar transitório, próprio de um nomadismo sem gosto e sem fim.








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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A felicidade, o amor e a simplicidade das coisas belas...

O Atlântico rugia forte e tempestuoso. As barracas voavam por entre as dunas anónimas da praia.  Por entre as rochas um murmúrio dos tempos que demoram a passar, mas que passam sempre por nós, tão rápidos como as nuvens sobre a platina do mar.Do alto dos céus, um raio luminoso e flamejante, cruzava as novas memórias e levantava as velas das naus que encostadas aos muros da cerca já não navegavam por entre esses mares longínquos.

Marinheiros, pescadores, mulheres de pés descalços, moços e moças de cara azul, erguiam-se perante este raio que explodia sobre a praia e o oceano. Tudo era mágico e maravilhoso. As crianças saíram de suas barracas, brincavam com os feixes de luz que, caíam na areia e faziam círculos mágicos de cores e de movimentos luminosos. Tudo era uma sinfonia aos sentidos e ao olhar. A felicidade irradiava destes homens e mulheres, as crianças abraçavam esta luz de vida, corriam dentro dos seus canais luminosos para um tempo infinito. Infinito e cheio de graça. 

A musica do amor rebentava nesses instantes de loucura e de imprudência humana. A lua cheia apareceu também radiosa de graça. Deu as boas vindas a todos os homens de azul e de outras cores. Os sexos misturaram-se por entre as rochas, e deixavam-se embalar pela noite de luz e de cor, desaguando as suas águas nesse imenso oceano de ondas metamórficas. 

A felicidade acontecia neste pequeno espaço de areia de ondas, de água salgada...Um fazer de conta onde a vida é ser e viver ... Uma espécie de néctar divino. A felicidade é um rebentar de onda na praia contra corpos e desejos. Uma dança de gaivotas que riscam o céu com geometrias abstractas e  harmoniosas.

O amor é absoluto na sua potência relativa, quando nos damos perante o outro de quem nada sabemos de essencial, mas que nos confunde com a sua relatividade da pele, do género ou do credo. No Amor a pele, a argamassa, a estrutura de nada nos serve, mas que em tudo nos desvia do essencial do amor que é o amar sem limites e sem fronteiras. Uma espécie de cais de fronteira, que se move sem cessar, juntando as pontas da linha, as margens dos rios, as águas desavindas. O amor é esse fio que nos liga a uma vida, a uma história e a uma essência.

O mundo sofre de ausência de Amor, porque afastou as linhas, destruiu as passagens, abandonou a fronteira entre os povos e as culturas, desfez a beleza das pontes que nos ligava por entre os oceanos da diferença. A luz da beleza primitiva caminha solitária por entre as ruas, as vielas, as praças e os bairros. Despida de andores e de barcolas iluminadas.

Do outro lado da vida... Um cortejo silencioso invade as nossas praças e atira o fogo sobre os céus fazendo estalar foguetes... Por entre uma multidão ruidosa e embriagada só a luz em arco-íris solitário nos prende a esse  fio ontológico. Que é a vida de um ser...

  

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

A Matança de Paris...

A violência que nos entrava pelos olhos nesse dia de Inferno, não era ficção nem uma cena de um qualquer filme de terror. Era sim, a morte em directo numa das mais emblemáticas cidades modernas do Ocidente -, Paris. A cidade das luzes fica banhada de sangue nas suas ruas, nos seus cafés, nos seus restaurantes, nas suas esplanadas e salas de espectáculo.

Em plena cidade da luz, da arte, do amor e da felicidade, a violência mostra mais uma vez a sua marca de terror, de destruição, de ataque aos valores do humanismo e da liberdade. A França que foi pioneira nos valores do humanismo ocidental, plasmados numa racionalidade que não deixará de espantar pela sua lucidez, pela sua liberdade, pela sua tolerância.

Uma França que foi modelo do pensar, do escrever, do desenhar, do pintar, do fazer arquitectura em prol dos homens e dos valores sociais. Onde Le Corbusier apresentava a sua casa como uma espécie de máquina de habitar, integrada no seu mais puro racionalismo e funcionalismo ao serviço do Movimento Moderno em Arquitectura. Uma arquitectura à medida do Homem, sem exclusões e sem distinções de classe ou de género.

Uma França multicultural na sua afirmação social, política e cultural, e na forma como conjugava o verbo receber com integrar.Mas, tudo isto parece ambíguo e contraditório. Um punhado de jovens franceses, filhos das primeiras gerações de emigrantes, sem estudos, sem trabalho, sem direito a um lugar digno na sociedade embarcam numa espécie de cruzada do mal, contra tudo e contra todos.

Intoxicados por uma ideologia que os oprime e esmaga, tirando partido da sua ignorância e ingenuidade, do seu vazio espiritual e intelectual, grupos extremistas e radicais reconhecem aqui um espaço social propicio ao recrutamento de jovens para implementar um ataque ao Ocidente a partir de dentro desse mesmo Ocidente.

Paralelamente, grupos da direita radical e violenta, começam a organizar o seu espaço, recrutando nesses mesmos não-lugares, as tropas que um dia os conduziram ao poder. Dois movimentos que nunca aceitaram a democracia ocidental nem as liberdades humanistas e socialistas.

A Europa, encontra-se aninhada perante a besta que criou a partir de políticas redutoras e neo-liberais, que patrocinaram o facilitismo, o consumismo e a mediocridade social. Uma sociedade do espectáculo e do banal, em detrimento de uma sociedade de mérito, onde a inteligência e a beleza deviam ser os eixos deste Ocidente Moderno e Democrático.

Patrocinamos a violência fora de portas. Invadimos Estados Soberanos à revelia das Organizações Internacionais. Alimentamos toda uma máquina de guerra em prol de uma economia globalizada e desregulada. Destruímos Estados e Nações. Espalhamos o ódio e a vingança. Construímos barreiras cá dentro e lá fora. Levantamos paredes e deslocamos nações sem terra, sem água e sem pão. Difundimos a crueldade em directo, fomentando a divisão entre bons e maus; pretos e brancos; muçulmanos e ocidentais.E por fim, lançamos o pânico social: muçulmano igual a terrorista.

Urgente encontrar de novo essa Felicidade cosmopolita e universal.



sábado, 12 de dezembro de 2015

O Purgatório da Direita Portuguesa

Depois de tanta escrita, de tanto comentário, de tanta suspeita e ameaça o governo da república é nomeado pela voz do Presidente da República, - Aníbal Cavaco Silva. Com esta aprovação institucional o líder do PS António Costa dá origem a um novo mandato político que se quer de convergência, de compromisso, de contrato com a sociedade portuguesa. Restabelecendo a paz social, a harmonia entre as classes e as instituições, entre as gerações e as corporações.

Será sem duvida alguma, um mandato de grande complexidade política, de grande exigência ética e moral, de grande sentido de Estado Social. De outra forma, seria  o justificar de quatro anos de liberalismo imoral, sem limite e sem sentido social. O anterior governo foi uma espécie de caixa de ressonância dos interesses especulativos ao serviço de um capitalismo global sem alma e sem ética. Tudo que fosse social, educativo, ambiental e civilizado era uma espécie de  obstáculo ao globalismo emergente de capitais sem rosto e sem humanidade personificados num punhado de jovens ministros bem formados/formatados nos palácios do capitalismo emergente.

Um governo que deve governar à esquerda, não pode ser um governo com medo, com duvida, com receio de decidir em prol da reconstrução, porque se trata de reconstruir a democracia e a vida democrática. Restabelecendo os Direitos e os Deveres consagrados na Constituição da República Portuguesa. Introduzindo medidas que renovem a participação cívica, a igualdade de oportunidades: tais como o direito ao trabalho, à educação, à habitação e à saúde para todos sem descriminações injustificáveis.

Reconstruir a estrutura macro económica do país de forma a garantir equidade entres todas as classes e profissões, devolvendo a independência económica a Portugal e aos portugueses. Resgatar dos capitais mafiosos o Estado e as suas funções vitais: distribuição da água, electricidade, transportes públicos, etc.

O actual primeiro ministro tem uma grande responsabilidade na gestão desta agenda de restauração nacional. Toda a Esquerda sentiu esse chamamento e respondeu com sentido de responsabilidade a esse desígnio nacional. Pelo menos, é nesse sentido que os portugueses acreditam que se estrutura a maioria que garante a estabilidade governativa do actual governo.

Mas, não confundir estabilidade governativa com unanimidades acríticas e submissas. Pelo contrário, a estabilidade governativa deve ser construída tendo como base um ponto de convergências inteligentes e diferenciáveis .

Resultando deste processo o retorno da discussão política à Assembleia da República.