quarta-feira, 2 de outubro de 2013

ESTE PORTO NÃO É O NOSSO PORTO...

A cidade do Porto nunca foi uma cidade de grandes mudanças e de grandes transformações. As suas elites sempre estabeleceram uma espécie de compromisso entre um Porto Conservador e Burguês, e um Porto Socialista e Republicano. A sociedade portuense nunca foi dada a grandes rupturas sociais, culturais e políticas. Pelo contrário, as grandes mudanças foram-no sempre em nome de Revoluções e de mudanças violentas em contextos muito especificos.

As suas instituições tiveram sempre aquele ímpeto transformista, mas nunca foram uma força de mudança radical. O Porto sempre foi uma cidade de compromissos, de pactos, de cedências, de resistências. O Porto é uma cidade de resistência, e nunca uma cidade aberta ao mundo, cosmopolita e universal. O Porto sempre teve aquele ar caseiro da Foz e da Ribeira, contracenando com os palacetes da rica burguesia. 

Uma cidade que vai da «Ribeira até à Foz» na voz de Rui Veloso, e, que traduz bem este lado rural, fechado, localista e tripeiro.

O Porto nunca foi de Garrett e de herculano ou de Antero. Nem mesmo o foi de Eugénio de Andrade. Mal o poeta fechou os olhos e encerram-lhe a fundação lá para os lados da Foz. Agustina vive enclausurada na sua domus literária. O Porto é assim, fechado, elitista, burguês e provinciano. O Porto é escuro, cinzento e popular para Resende.

Os seus arquitectos são mal compreendidos e violentamente atacados na praça, no quiosque, na esquina, e agora nas redes sociais. Siza Vieira mal amado e incompreendido pela sua cidade. Souto Moura o estranho e provocador genial que desenha um burgo na vertical lá para os lados da Av. da Boavista. 

No Porto a filosofia rima com poesia. Desde Almeida e Antero, Leonardo Coimbra e Pascoaes, Teófilo e Pedro Homem de Mello. No Porto nunca houve aquilo que poderiamos chamar de Escola. A escola era o café, a tertulia, o gabinete, o sindicato, a viagem, a Cooperativa Árvore e a Confronto, o devaneio associados ao impulso criador - a curiosidade pelo saber e pela singularidade do outro diferente.

Nesta cidade a liberdade rima com criatividade. Ainda, hoje, falar de Escola de Arquitectura do Porto, é para os nossos arquitectos, como Siza e Souto Moura um puro eufemismo e vaidade.

Este Porto com sabor a tripas, com cheiro a rio e mar é único e singular na morfologia da cidade e na produção artística e cultural.
Mas também é um Porto mesquinho, estreito e redutor quando olha para os seus criadores e génios com desconfiança e desdém, próprios de um pequeno burgo que vive com um pé na Foz e outro na Metrópole. O Porto de Manuel de Oliveira é universal e cinematográficamente genial quando retrata o quotidiano de um Porto pobre e clandestino e faz daí a sua arte.

O Porto político tem sido um Porto do aparelho e da clientela. Pouco lucido e universal. Tem faltado raça e engenho ao governo da cidade. Vereadores que se recusam a atribuir ruas a poetas e a escritores; que negam a arte e a cultura que faz «ser» a sua cidade. 

O Porto Político é conservador e mesquinho, egoísta e analfabeto. Burguês na acção e rude no pensamento. O Porto Político desconfia da universalidade e da sua identidade cultural. Persegue e desloca os fracos que habitam na cidade, e protege e glorifica os fortes que vivem à sombra dos poderes que governam a cidade. 

Hoje!... Sim, hoje, gostavamos de ter um novo Porto. Um Porto que dialoga-se com os fortes e portege-se os fracos. Que fizesse da sua governança uma lição de cultura civica aberta ao mundo, à criatividade e à diferença cultural. 

Um Porto que tivesse como propósito a criação e valorização de uma cidade para todos e com todos. Um espaço inclusivo alicerçado em valores humanistas de respeito pelas diferenças singulares. 

Uma cidade onde as ruas não podem ser unicamente um espaço de negócio mas um lugar de convivio, de fraternidade e de socialização. Onde o viver aqui seja um ato digno de respeito por todos. Um Porto que conserve e valorize as suas ruas, os seus bairros, as suas ilhas, os seus jardins.

Um Porto que abra as portas dos seus museus, das suas salas de cinema, dos seus jardins e palácios. Um Porto de espaço aberto e plural para o saber e para a arte, que se aprende a fazer nas escolas e instituições (Teatros e Cooperativas) da cidade.

Um Porto Cidade que não seja mais um Porto da não-cidade. Onde se derrubem casas e bairros, se desloquem pessoas e familias, se lance o estigma sobre comunidades inteiras. 

Este Porto não é o nosso Porto.

Não quero mais um Porto que afasta vizinhos e parentes, que deixa velhos e crianças sem cama e sem bens, sem alma e sem auto-estima.

Não quero um Porto de fato cinzento e gravata, nem a falar com sotaque de metropole. 

Quero um Porto tripeiro e popular, criativo e universal. 
Um Porto de pensamento e de acção governativa em busca da qualidade e da universalidade. 

Um Porto com propósito e com Futuro. 
Sem nunca esquecer a sua cultura e a sua identidade.

  

terça-feira, 1 de outubro de 2013

O Dia 29 de Setembro....

Os resultados das Eleições do dia 29 de Setembro possivelmente serão um marco de mudança na forma de fazer política em Portugal. Quer pelas consequências quer também pelos resultados obtidos nas cidades do Porto, de Gaia, de Braga, e no Funchal.

De tal maneira nos parece uma constatação que podemos afirmar que nestas eleições o povo português das grandes cidades recusou de forma categórica o populismo e a demagogia política de certas candidaturas. Evidente, que o contexto de crise social e de crise política também funcionou como um estimulante cerebral para os eleitores. Associado a uma vontade de mudança e de ruptura com as identidades políticas instaladas nos directórios partidários.

Durante as últimas décadas foram os directórios dos partidos a decidir quem eram os candidatos de primeira e de segunda linha a candidatarem-se a cargos políticos. Esta insistência levou ao aparecimento de um caciquismo e aparelhismo redutor e conservador. Criaram-se clientelas, lobbis partidários, clivagens e lutas dentro e fora dos aparelhos pela conservação dos poder. As energias concentravam-se no interior dos partidos na luta interna, em detrimento da organização e da programação de uma ideia para o futuro da sua cidade, da sua região ou do seu país.

A vida política e a luta interna nos partidos foi assim uma espécie de instrumento para promoções pessoais, para acesso a lugares de destaque da administração do Estado. Sem esquecer as "negociatas" que envolvem os interesses do Estado e os interesses dos particulares. A relação entre políticos e grandes instituições financeiras e de capitais globais foi e tem sido de grande promiscuidade. Situação esta que tem lesado o Estado português em milhares de milhões de euros.

A partir deste estado de coisas a nossa democracia foi-se degradando face a uma corrupção que contaminou e contamina de forma transversal a sociedade portuguesa, e em particular os políticos e os partidos.

A vitória das candidaturas independentes pode e deve trazer uma nova frescura e honestidade à acção política, deslocando dos partidos clássicos dessa dominância sobre a governança das nossas cidades e concelhos. Permitindo um aprofundamento da democracia, oxigenando a vida pública, e erradicando as clientelas partidárias que ocuparam e se instalaram na administração local e regional.

O caso da vitória no Porto pelo independente Rui Moreira é paradigmático dessa possibilidade de abertura, de regeneração governativa da cidade, de renovação de formas e de instrumentos, que cortem com os aparelhos que ao longo das últimas décadas se foram instalando na administração da cidade.

Vamos aqui sinalizar alguns dos departamentos da Cidade que nos merecem alguma preocupação. Por exemplo, o comando da Policia Municipal do Porto. Consideramos que deve ser renovado de forma a introduzir outras formas de actuar na cidade. Ao longo destes últimos anos, fomos assistindo que o comando municipal usou e abusou do seu poder, com acções demasiadamente fortes e desajustadas. Como por exemplo, no desalojamento e deslocação dos moradores do Bairro Nicolau, com um aparato de 40 viaturas e dezenas de efectivos.

A Domus Social deve ser reestruturada de cima abaixo. Mudando o seu paradigma de organização e de acção. É urgente substituir os quadros e introduzir uma nova forma de ver a habitação e a coesão social. Criar um gabinete da Habitação e Coesão Social, aproveitando a experiência da Domus Social mas introduzir uma nova chefia e uma nova programação, associada às escolas de arquitectura, de Serviço Social, de Engenharia. Possibilitando uma intervenção acção mais programática e mais social.

A cidade deve ser participada, criativa e inclusiva de forma a consolidar novas formas de acção política de natureza humanista e social democrata. É urgente alterar alguns dos procedimentos relativos à forma como se abordou o problema da habitação na cidade do Porto. Acredito que Rui Moreira terá essa sabedoria, esse humanismo e essa força liderante. Evitando, as contaminações daqueles que de forma eficaz se aproximam de si, fazendo a ponte entre os interesses e as práticas que vêm de trás, mas com o intuito de conservar ou ampliar os seus poderes na governança da cidade.

Se não houver essa ruptura corremos o risco de dar continuidade a velhos hábitos e interesses. Eles na noite de 29 já lá estavam a espreitar. As vitórias têm esse problema. No dia da vitória essas almas penadas aparecem sempre. Independentemente do rosto do vencedor.







quinta-feira, 19 de setembro de 2013

CIDADE DO PORTO: ocupados e ocupantes



Assistimos a uma simpática mobilização para todos saírem de casa e ocuparem a rua, a praça e o jardim. Aquilo que se tem chamado de espaço público. Um espaço aberto e plural. Neste período eleitoral esse chamamento é ainda mais forte e categórico. Com as intervenções das várias candidaturas a percorrer e a fazer o apelo a visitarem a cidade. São as arruadas, as manifestações em espaços públicos abertos, as caravanas móveis. Tudo em função de uma boa marcha democrática e cívica. As visitas aos bairros da cidade são uma espécie de «banhos litúrgicos» obrigatórios para os políticos em período eleitoral.

A ideia de que as instituições e os movimentos cívicos devem favorecer e incentivar os cidadãos para uma participação mais directa nos assuntos de interesse público leva a uma visita obrigatória às instituições de natureza popular ou de bairro. Entram neste role as Associações de Moradores, as Associações Desportivas e Culturais. Candidatos tiram o retrato com o emblema, dão donativos, tomam o café da praxe, levantam o cartão de associado, fazem promessas, apontam soluções. E depois um até um dia destes. Quem sabe!

Esta participação pública baseia-se na defesa e valorização da apropriação colectiva  do espaço público. Apelando aos cidadãos para a mobilização em torno de causas e interesses colectivos. Todos os partidos e movimentos independentes fazem desse instrumento uma plataforma de envolvimento e de partilha, dando a entender que com eles o poder e a gestão da cidade é uma actividade que implica politicas municipais partilhadas e de interesse colectivo. Independente das cores partidárias e dos jogos de interesses.

Esta proposição leva-nos a pensar sobre o antes e depois das eleições para a nossa cidade. O que levanta algumas questões de semântica sobre o valor dos diferentes discursos neste período eleitoral. Aos olhos dos cidadãos eleitores parece-nos que não existe grande diferença de discurso e de propostas programáticas. O que parece enigmático e quase redutor. Será que não existem diferenças de substância e de forma entre os diversos candidatos e forças políticas?

Do ponto de vista formal existem diferenças. Diferenças de índole simbólico e ritual, mas também no que se refere aos conteúdos e estratégias na implementação das políticas municipais para o governo da cidade do Porto. Para além das diferenças nas tropas que cada candidato tem ao seu dispor para esta batalha eleitoral.

Nos debates a unidade de discursos e a convergência de propostas é uma constante. O que na verdade é uma falsa realidade. Por detrás do discurso cada candidato tem a sua agenda, a sua programação e a  sua ideologia de governança. Cada candidato tem a sua ideia, os seus patronos e as suas clientelas. Evidente, que nesta campanha e pré-campanha o jornalismo foi muito contido e não conseguiu demonstrar as diferenças entre as várias propostas. O que não seria assim tão complexo e difícil....

Fica-nos a ideia de que a diferença entre eles se é que existe resume-se à forma de gestão e à proposta daquele evento, ou daquele projecto concreto. Nada mais do que isso. Claro que não!

Nada mais falso e redutor crer que não existem diferenças de fundo. Claro que existem diferenças de fundo e são muitas. A começar pelas de natureza ideológica, programática e de estilo de governança. Para além das do estilo e da substância da proposta para governar a cidade.

Temos candidaturas populistas e conservadoras. Candidaturas progressistas e de esquerda. Candidaturas Independentes. Candidaturas a fazer de conta. Candidaturas que não são candidaturas.

Temos candidatos sem candidatura. Candidaturas sem candidato e sem propósito político. Candidaturas sem candidato e sem candidatura. Nos debates públicos esta realidade sociológica foi uma evidência cruel e patética.

Todos falavam em nome de um povo, que nunca identificaram. Mas poucos legitimaram a sua candidatura na defesa de valores e de programas em beneficio da qualidade de vida desse povo imaginado ou imaginário.Os discursos foram pobres e pouco incisivos. O contraditório quase nunca esteve presente. A unidade e a convergência foram uma constante. Quase apetece lançar o repto: façam da vossa únião a nova governança da cidade do Porto.

Os candidatos oficiais dos partidos clássicos nada acrescentaram ao discurso e à alternativa. O PSD fez da obra do lado do rio a sua alavanca política. Claro, que se foi esquecendo do buraco financeiro que deixou em Gaia e apostou sempre no Porco no Espeto.

O PS pouco de novo. O candidato num discurso certinho e sem grandes ritmos lá foi mostrando que estudou bem a lição. Mas nada de novo. Algumas contradições entre o PS local e o PS nacional. Fez algumas propostas com nexo mas falta a força e a energia para as implementar. O Bloco de Esquerda com uma candidatura muito jovem está a cumprir a agenda. Demonstra um discurso seguro e uma bom conhecimento da cidade e das políticas para a cidade. O candidato do BE demonstra conhecimento, inteligencia e energia. Acreditemos no futuro. Deixem o candidato amadurecer.

O PCP continua a apresentar uns candidatos com perfil, com conhecimento, com vontade e saber. Seria bom que a sua candidatura se afirma-se mais na cidade para bem da democracia e da politica municipal.

O independente Nuno Cardoso. Nada de novo. Num discurso frágil e repetitivo lá vai falando da sua obra passada. Sem apresentar novas ideias e novas propostas para a cidade. Esperava-se muito mais de um candidato que já teve responsabilidades na governação da cidade.

O independente Rui Moreira. Este candidato é sem duvida aquele que se apresenta com melhores condições para governar a cidade do Porto. Tem estilo e competências, tem qualidades e ferramentas, tem energia e autoridade para governar em função de politicas municipais participadas e partilhadas com a população e as instituições da cidade. Tem ideias e programa para a cidade e pessoas na sua lista que podem fazer a diferença. Claro, que nem tudo é linear e positivo nesta candidatura. A sua ligação ao CDS-PP e a alguns dos vereadores de Rui Rio podem-lhe retirar alguma força.

Claro que também lhe podem dar algum sustento eleitoral. E falo da Dr Guilhermina Rêgo que sendo vereadora de Rui Rio não teve os problemas nem esteve envolvido em situações de conflitualidade com a cidade. Esta antiga vereadora pode inclusive trazer para o governo da cidade uma nova frescura e uma nova identidade de governação.

Com Rui Moreira a governança da cidade acreditamos que o Porto recuperará de novo a sua identidade e a sua liderança no contexto regional, nacional e internacional. Para isso conta com a inteligência e a sabedoria do Dr Paulo Cunha e Silva.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O DIREITO À CULTURA: cultura e poderes...





Cultura e Poder são duas faces de uma mesma moeda. Ao longo destas últimas décadas a cultura e as artes ganharam um espaço público de grande valor social, político e económico. A Cultura e os seus atores foram conquistando públicos  e instituições, condicionando modas e ritmos, fabricando ideologias e estéticas. Umas vezes aliada do poder, outras vezes afrontando os poderes e as suas clientelas.

O palco, a sala estúdio, o auditório e a rua foram os seus primeiros espaços de afirmação e de divulgação das suas programações e provocações artísticas. Mais tarde, a rádio e a televisão, e agora todas as outras linguagens performativas de grande alcance mediático a nível global. O artista, o comediante de rua cedem lugar a um ator com formação e com outras competências estéticas, formais e expressivas mais complexas e intelectualizadas.

Aparecem as primeiras escolas de musica, de dança, de teatro que permitem outras formações e outras experiências artísticas e plásticas mais alternativas e modernas. A fotografia, o vídeo, a arte da instalação entram nesse mundo da produção e da formação. O Porto é uma cidade rica em diversidade e em oferta variada nas áreas da musica, do teatro, da dança e da fotografia e vídeo.

Os poderes públicos timidamente vão-se aproximando do mundo das artes, conquistando colaboradores e clientelas que lhes possibilitem humanizar e credibilizar a acção política. Aliás, este fenómeno começa com a introdução do Liberalismo em Portugal, e a implementação da Primeira República. Quando homens da cultura ocupam lugares de destaque na governação de Portugal. Com o Estado Novo a cultura e as artes são colocadas num espaço de marginalização e são perseguidas pela censura. Grandes escritores e artísticas plásticos perseguidos pela PIDE e pela Censura, abandonam Portugal e passam a viver na clandestinidade ou no estrangeiro. De destacar Paula Rego, Magalhães Godinho, etc.

Com a Revolução do 25 de Abril a cultura e as artes voltam a ocupar o seu lugar na sociedade portuguesa. As escolas superiores abrem as portas aos estrangeirados e perseguidos pela PIDE e assiste-se a um verdadeiro Renascimento artístico e cultural em Portugal. A liberdade de imprensa, a liberdade de ensino, a liberdade de expor a suas criações sem censura e sem constrangimentos. Portugal é um país virado para a Cultura e para as Artes.

Durante as primeiras décadas do Pós Abril a sociedade portuguesa reinventou-se a si própria, descobrindo sinergias, vontades e forças que estavam atrofiadas por uma sociedade política conservadora e mesquinha. Portugal ganha escala e dimensão. As nossas artes e os nossos artistas ganham dimensão internacional e Portugal estava na Moda.

Esta cultura irreverente, transgressora e humanista devolveu a um país pobre e analfabeto outro sentir e outra dignidade. O associativismo, a cidadania participativa, o cooperativismo, o ativismo foram uma realidade de serviço a uma jovem democracia que se queria afirmar pelos valores da cultura e das artes.

A Cultura e as Artes começaram a fazer parte da gramática política e teve consequências nos seus programas e orçamentos, a nível nacional, local e regional. Os governos passaram a olhar para a Cultura e para as Artes como um parceiro adulto, autónomo e fundamental para a qualidade e progresso dos povos. A Cultura é  então um Direito. O Direito à Cultura.

Criam-se gabinetes ministeriais, secretarias da cultura, ministérios da cultura, pelouros da cultura, casas da cultura, fundações, etc. Políticas de incentivo ao mecenato cultural de forma a que particulares individualmente ou colectivamente possam apoiar e patrocinar a vida cultural e nacional. Que até então tinha como grande e único mecenas a Fundação Calouste Gulbenkian.

Os governos locais começam a apostar na cultura e nas artes. Aparecem os Auditórios Municipais, as Casas da Cultura, os Fóruns, etc.

Contudo, a cultura foi-se enclausurando cada vez mais nas malhas do poder e dos poderes e suas clientelas. Aparece o protecionismo e o financiamento daqueles que estão sob a protecção dos que governam. Toda a gente assiste ao uso e abuso dos homens da cultura nas campanhas eleitorais, nos comícios, na televisão, no abraço de Rui de Carvalho a Pedro Passos Coelho, etc. Claro, que , assistimos a uma perda considerável de independência por parte dos atores culturais.

A cultura é assim domesticada pelos favores e pelas clientelas. No Porto assiste-se mesmo à deslocação de instituições culturais para outros concelhos a convite dos que detinham e detiveram aí o poder. E dependendo dos resultados eleitorais de 29 de Setembro, podem ou não, retornar à cidade de onde saíram à anos por discordarem da politica cultural de Rui Rio.

Enfim, a Cultura e a Politica e respectivos poderes sempre tiveram uma relação de complexidades contraditórias na forma e na acção da sua atividade artística. Penso, que seria importante que a Cultura se defende-se da sempre possível manipulação política em função dos seus interesses eleitoralistas. Interesses estes, que são exclusivamente, a necessidade de conservação e ampliação do Poder por partes dos caciques políticos que dominam os aparelhos partidários locais, regionais e nacionais.







terça-feira, 17 de setembro de 2013

Porto - Que Políticas Culturais?

Parece-nos oportuno falar aqui e agora sobre este tema pelo facto de nos encontrarmos em momentos de debate e de escolha de candidatos políticos para o governo da nossa cidade - o Porto.
Ao assistir aos vários debates sobre esta problemática fui constatando da necessidade de colocar alguns pontos de acentuação nos tópicos da cultura, da gestão, da organização e da programação.

O Porto é uma cidade da cultura e da produção artística. São várias e diversificadas as instituições que ao longo de décadas dedicam a sua atividade à formação, à produção e à programação artística e cultural. Algumas instituições de traço centenário como a Escola Superior de Belas Artes, a Escola Artística Soares dos Réis, o Conservatório de Musica do Porto, outras mais recentes como a Cooperativa Árvore, A Escola Superior artística do Porto, o Balleteatro, o Teatro das Marionetas do Porto, a Seiva Trupe, a Biblioteca Municipal do Porto, O Arquivo Histórico Casa do Infante, o Museu Soares dos Réis, etc. etc.

Atualmente destacam-se a Casa da Musica e a Fundação de Serralves, sem duvida duas das maiores instituições da oferta e programação artística e musical. Com uma agenda e um acervo museográfico de valor internacional a Fundação de Serralves veio preencher uma espaço muito importante na programação, na formação de públicos, na problematização das questões da arte, da cultura, da cidadania. Mais recentemente a inauguração do Museu das marionetas no Porto, uma proposta museográfica que apela à formação dos públicos, onde a arte atinge uma dimensão holística e interativa com os públicos, associada à pintura, à instalação, à fotografia e ao video.

Desde as ultimas décadas que no Porto assistimos ao aparecimento de novos equipamentos para a área da cultura ( museus, salas polivalentes, auditórios, centros de artes, casas da musica, casas das artes, etc.) e das artes em geral. A autarquia e o governo central deram as mãos e construíram novas infraestruturas para a cultura. A região também foi acompanhando essa dinâmica. São exemplo disso o Teatro Nery em Matosinhos, o Fórum da Maia, o Fórum de Valongo, a Casa de Camilo Castelo Branco em Famalicão, o Museu de Amarante, Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim, a Casa de José Régio em Vila do Conde, etc.

Um cenário de grande diversidade e variedade na oferta e na produção artística que fazem do Porto e da sua Região ou AMP, um mundo à parte no contexto nacional e europeu. Todo um potencial cultural de grande criatividade que se deve transformar per si num dos nichos económicos da região norte. O Norte é Cultura e Arte.

Neste mundo tão rico e complexo da produção e formação artística falta sempre alguma coisa. E essa coisa é aquilo que pode dar o impulso para a diferença.

Falta investimento. Falta apoio às instituições e criadores da cidade e região. Falta organização. Falta agenda. Falta concertação e diálogo entre os atores culturais e artísticos e os governos locais e regionais. Falta propósito político. Falta dinamização. Falta abertura e diálogo. Falta dar a este sector cultural o valor que ele contém e encerra no contexto das economias criativas. Falta dar-lhe a dimensão que ele já tem na economia do Turismo. E não esquecer que o Turismo é a terceira economia do mundo. E sem cultura e produção artística o Turismo é uma atividade efémera e insustentável.

Então que vamos fazer e propor?

Abrir a cidade a todos os agentes e instituições. Abrir um espaço de concertação na cidade e na região. Valorizar as Politicas Municipais para a formação e produção artística. Apoiar as instituições da cidade que prestam esse serviço de forma continuada e sistemática. Dar valor ao mérito e à inovação os apoios financeiros necessários. Definir um orçamento participado para a cultura e para as artes de forma a alavancar projetos e parcerias inclusivas e alternativas.











  

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Fazer das Tripas Coração...




Um coração depositado numa Igreja,
...
uma cidade que rima com liberdade
um príncipe revolucionário,
que se fez Rei nesta
invicta cidade


Gente que come Tripas
ama a dobrada
e sente na alma
as velas da cruzada


Onde as Torres
são Igrejas
e as Pontes são Catedrais...

Um arquitecto chamado Siza
Fidias da nossa cidade....desenha casas para o povo
um direito à cidade.

Tripas,molhes, rio e mar
pescadores alguns que sobram por este nosso andar...



Aqui



Estar aqui

no sentido mais poético do habitar
Onde no lá fora,
a vida rompe os espaços dos silêncios da noite

O roncar dos carros,
lagartos sem fim

As ruas estreitas, memórias de cal e pedra
o casario plantado sobre o rio e o mar
o caminhar por entre quelhas e muros

As eras
deslizam sobre as pessoas
os galos que cantam a saudade

As gaivotas
gritam, gritam
não param de gritar

Que bicho chorão
é aquele
que não canta,
que não assobia
mas que berra como o Povo
qe sofre com este noite e dia